sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Ecos culturais | Quem tem medo de avião?

 https://blog.klm.com/what-causes-turbulence/


Vivo buscando novidades para o blog Anita Plural e também em outras línguas para continuar praticando e aprendendo. Pois bem, gosto muito do blog da KLM, sempre com artigos bem interessantes escritos pela tripulação – pilotos, comissários de bordo – ou seu pessoal de terra. 
Desta vez, o piloto Menno Kroon, que voa para a KLM desde 1990, fala das causas das tão temidas turbulências. Além de pilotar um A330, Kroon também adora paragliders e, em seu tempo livre, dirige um Catalina. Para quem não sabe, o Catalina é um hidroavião incrível. Há alguns bons anos, voei num desses sobre a Amazônia, quando voltava de Tabatinga, fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, em direção a Tefé e depois Manaus. Uma bela história que vou guardar para outra ocasião. 
Mas voltando ao tema turbulência.  Kroon começa falando dos diversos significados do termo turbulência de acordo com a pessoa. Pode ser um simples movimento brusco ou um verdadeiro pesadelo. Mas ele garante que, em geral, a turbulência raramente é perigosa, embora possa ser bastante desconfortável. Ele explica algumas causas da turbulência e como os pilotos lidam com ela: 
1-Turbulência pode ser causada pelo vento
Ou seja, é como se você estivesse pilotando um barco em meio a uma tempestade. Uma situação nada confortável. Mas ele distingue a turbulência na baixa e na alta altitude. Quando o avião está próximo do chão, a turbulência é causada por fortes ventos, o que pode criar problemas para decolagem ou aterrissagem, durante tempestades.  À medida que o ar sobe, a temperatura diminui e, portanto, se o ar subir ainda mais, partículas de umidade começam a se formar criando nuvens.

2. Turbulência causada por uma corrente de ar ascendente
Em maiores altitudes, a turbulência ocorre quando o ar sobe verticalmente, de baixo para cima. Ele explica: o sol aquece a terra e o ar sobre ela. O ar quente se expande e sobe mais, o que causa as tais updrafts (ou seja, a corrente vertical de ar quente). Diz ele que isso é bom, porque o piloto pode ver a turbulência pela janela da cabine, e também pelas telas dos radares. Porém, se a corrente for de ar muito seco, não há condensação e a turbulência não é visível, os radares do tempo também não a detectam porque não há partículas de umidade no ar para refletir os sinais dos radares e a situação, então, fica mais delicada, podendo pegar os tripulantes de surpresa. O movimento vertical do ar, em geral, diminui em altas atitudes, porque as temperaturas são muito baixas. Diz o piloto que este é o motivo de se voar tão tranquilamente acima das nuvens. Às vezes, entretanto nuvens cumulonimbus podem aparecer a grandes alturas, sobretudo em áreas tropicais e, nesse caso, os pilotos fazem o possível para voar em torno delas. 
https://blog.klm.com/what-causes-turbulence/
3. Turbulência causada por jatos
Um jato cria um fluxo de vento muito forte em altitudes altas, atingindo 300 km/hora ou mais. Melhor evitar. No hemisfério norte, diz ele que estes ventos podem soprar de oeste a leste, razão pela qual em geral se leva mais tempo para voar sobre o Atlântico de Amsterdã até os Estados Unidos, do que voar no sentido inverso. Na ida, se possível, os pilotos tentam evitar o fluxo do jato, porque isso significaria voar para um vento contrário. No voo de volta, tentam tirar o máximo partido do vento de cauda. Como resultado, um voo de Nova York para Amsterdã pode demorar duas horas a menos do que no sentido contrário. O complicado dessa situação de um fluxo de jato é que ele pode, de repente, mudar de direção quando encontra áreas de alta ou baixa pressão. Muitas turbulências podem surgir nas chamadas curvas, semelhantes às de um rio de fluxo rápido.

4. Turbulência causada por montanhas
Quando há um vento forte, o ar pode ser dirigido para cima quando encontra altas montanhas, o que pode causar ondas sentidas a grandes distâncias e altas altitudes. Como resultado, sente-se a turbulência quando o avião passa sobre uma cadeia de montanhas.

5. Turbulência causada pelo vórtice do rastro de outro avião
Há ainda a turbulência causada pelo próprio avião. Esse rastro é similar àquele deixado por um navio cruzando os mares. Como regra, grandes aviões deixam grandes rastros e, portanto, aviões menores são mais vulneráveis se cruzarem com um grande avião. (Parece-me que já vi esse filme, a respeito de um certo jatinho, voando em terras brasileiras, não lhes parece?) Esse é o motivo de existirem regras especificando a distância e intervalos mínimos entre duas aeronaves e é também o motivo de um Boeing 737 parecer esperar tanto tempo na pista depois da decolagem de um grande avião.

  Menno Kroon tranquiliza os passageiros e lista coisas que os pilotos podem fazer:  
- Antes de voar, estudar as previsões do tempo, o que lhes permitirá prever onde e quando poderão encontrar turbulências;
- Durante o voo, tentar evitar as turbulências identificadas através dos radares ou da própria cabine;  
- Manter contato com o controle de tráfego aéreo e com outras aeronaves na área para informar-se das últimas condições meteorológicas.

Turbulência inevitável
Às vezes, os pilotos podem ser surpreendidos por turbulências não previstas no radar, ou as condições de tráfego aéreo não permitem que os pilotos evitem as turbulências. É quando surgem os sinais de “Apertar os Cintos” e quando se pede aos passageiros para tomarem seus lugares imediatamente. Se a turbulência for pesada, a tripulação pode interromper o serviço de bordo para se sentar e também se proteger. É uma medida importante para a segurança de todos.   
Perguntado se a turbulência pode danificar o avião, o piloto diz que as chances são poucas, porque aeronaves são bem flexíveis. Salienta ter visitado, certa vez, uma fábrica da Boeing e visto a asa de um 747 bastante curvada para cima, em um teste de estrutura para ser solta novamente só com um toque. O teste é repetido várias vezes, ano após ano, e tudo permanece intacto. Então, ele alerta que se você estiver num assento próximo à janela e vir a asa se movimentar para cima e para baixo, não se preocupe, está tudo certo. 
Então, está certo. Entendido, mas não é fácil ficar tranquilo lá no alto no meio de uma turbulência...

Referências e imagens:

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