domingo, 26 de agosto de 2018

Ecos Culturais | Arte de arame

Locus. Sapri, na Itália, 2017. Imagem: website do autor, Edoardo Tresoldi.
Admiro e aplaudo a criatividade de pessoas do mundo todo. O italiano Edoardo Tresoldi (1987), radicado em Milão, é um deles. O artista utiliza malha de arame para criar objetos, esculturas e cenários que sugerem a presença e a ausência, a matéria e a não-matéria; obras que disfarçam os cheios e os vazios, que mostram e escondem o corpo e a alma da arquitetura, o presente e o passado, o contemporâneo e o clássico, trabalhando a ideia da falta através de uma presença forte e, ao mesmo tempo, etérea, intangível, sutil e, assim, coloca o observador diante do frágil equilíbrio do nosso mundo. A Revista Forbes chegou a incluir Tresoldi, em janeiro de 2017, entre os 30 jovens artistas (com menos de 30 anos) mais influentes do mundo.
Procurando, em Roskilke na Dinamarca, 2015. Imagem: website do autor, Edoardo Tresoldi.
Ao longo de sua carreira, já passou pela pintura, pela cenografia, pela escultura e pelo cinema, experimentando diversas técnicas. Começou a usar a malha de arame quando atuava na área cenográfica, mas depois, o material ganhou vida própria: leveza, sutileza, transparência, imaterialidade são características que acabaram definindo o universo de sua obra.  

O trabalho final é realizado por um grupo de profissionais treinados no atelier do artista. Interessante é que, como os bons arquitetos, ele passa um tempo estudando e compreendendo as características sutis do lugar onde a obra será instalada. Assim, o local torna-se parte componente da criação, ainda que o resultado final seja temporário. A obra desaparece quando seu ciclo é completado e, então, o ambiente retoma o equilíbrio (ou desequilíbrio) preexistente.
Experiência em Abu Dhabi, 2017. Imagem: website do autor, Edoardo Tresoldi.
 Dentre os vários personagens que Tresoldi admira e que o estimulam estão o engenheiro italiano Pier Luigi Nervi (1891-1979) e suas experimentações com novos materiais, e o artista americano nascido na Bulgária Christo Vladimirov Javacheff (1935). 

Um de seus trabalhos recentes foi feito em parceria com o escritório designlab experience, em Abu Dhabi. O objetivo era criar um cenário para um evento real nos Emirados Árabes Unidos. As criações monumentais do artista integraram-se, naturalmente, ao entorno de 7000 metros quadrados e a natureza, a arte e a arquitetura se uniram por meio do efêmero e do etéreo. Após o evento, partes do conjunto foram reinstaladas, separadamente, em universidades, museus e parques da cidade.  
Foto do artista. Imagem: https://www.edoardotresoldi.com/
Referências:
https://www.edoardotresoldi.com/about/

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Ecos Linguísticos | Fake News

Imagem: http://www.teclasap.com.br/fake-news/


 O termo fake news é um tema novo e que está em alta. Assim como o termo pós-verdade! Enfim, fake news, ou notícia falsa em português, é a informação repassada sobretudo nas redes sociais, sem comprovação, sem verificação de  veracidade. Aliás, a internet potencializou de forma absurda a ousadia das pessoas ou ainda, como queria Umberto Eco, deu voz a milhares de imbecis. 

Mas, embora o uso de notícias falsas não seja novo, e a história nos mostra isso, as redes sociais amplificaram em muito essa divulgação. No entanto, cabe uma pergunta: por que só agora? Há tempos, as notícias falsas abundam nas redes sociais e só agora a grande imprensa resolveu dar o alerta?  É o caso de se perguntar a quem interessa tudo isso? Algo intocável deve ter sido atingido.

Bom, para início de conversa, parece óbvio que apenas notícias verdadeiras devem ser repassadas, certo? Alienação, falta de discernimento, de reflexão e de senso crítico. Tudo isso junto faz com que erros, mentiras, desinformações, manipulações calúnias se perpetuem e se transformem em verdades para uma imensa parcela da população. Bem entendido, quando esta não se dá ao trabalho de ler e refletir, buscar em outras fontes, repensar, questionar e pesquisar. Não é fácil para todos, entendo, por isso a educação e a cultura são temas fundamentais para a transformação de um país.

As notícias falsas distorcem, negam, modificam, manipulam os fatos reais, envolvendo-os com verbos mais suaves, tons dourados e toques mais sutis; ou, então, forjam novos fatos com informações errôneas, imprecisas ou simplesmente mentirosas para ludibriar o leitor, influenciá-lo e conseguir um determinado intento, em geral, com segundas intenções. Outras vezes, tais notícias usam tons sensacionalistas e enganosos, buscando causar certo tipo de emoção na opinião pública. Mais uma vez está claro o objetivo: manipular para poder controlar.

Ou seja, caro leitor, cabe a você precaver-se contra essa enxurrada crescente de notícias falsas. Como? Refletindo, pesquisando, conversando com colegas serenos, isentos e mais inteirados dos assuntos em questão e, sobretudo, evitando repassar qualquer informação que não tenha sido devidamente verificada e comprovada em fontes isentas.

Nesse universo concreto das fake news, ou notícias falsas, nossa imprensa, muitas vezes, também usa eufemismos. Nada contra os eufemismos quando movidos por intenções boas, no sentido de suavizar, não chocar, diminuir o choque e a dor de alguém pela perda de um ente querido, entre outros. 

O que entristece e revolta, no entanto, é quando tais eufemismos são usados como maneira de enfraquecer fatos negativos sobre alguém, fatos cujo conteúdo não interessa divulgar ou enfatizar e, através dessa figura de linguagem tenta-se criar uma certa visão de mundo. Assim, utilizam-se expressões como faltar com a verdade, quando de fato o correto seria usar, pura e simplesmente, mentir; enriquecer por meios ilícitos, evitando dizer roubar, corromper, ser corrompido; parcela de renda não declarada, quando deveriam dizer sonegação; desaceleração da economia quando deveriam dizer crise; reajuste de taxas em vez de aumento de impostos; "novo governo" quando deveriam dizer idealizadores de golpe parlamentar e por aí vai...
Então, sejamos realistas. A quem querem enganar? Fake news ou fake newsmen

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Ecos urbanos | A arte cotidiana de Athos Bulcão

Painel na Igrejinha Nossa Sra de Fátima/detalhe. Foto: Anita Di Marco
 Brasília me encanta com seu céu, suas estrelas, seus amplos espaços, os tons da terra e da vegetação, seu verde, sua arquitetura, sua arte e seus azulejos. Graças aos céus, nem só de políticos vive Brasília. Sem dúvida, há péssimos políticos, nefastos, cruéis, medíocres, egoístas e interesseiros, os tais lobos em forma de cordeiros que enganam os incautos e os que não refletem e não têm dimensão histórica e senso crítico. Mas existem também aqueles que fazem da Política o que ela é, de fato: uma arte maiúscula. Uma verdadeira arte de viver e conviver, a ciência de organizar e administrar um Estado, uma sociedade em benefício de todos. Ou, como poeticamente diz Rubem Alves, a arte de criar e cuidar, com amor, do espaço de todos, colocando a vocação política a serviço da sociedade. 

 Sim, porque não se pode negar a Política, em nenhum momento. Tudo o que fazemos na vida tem um caráter político: se jogo papel na rua ou não, se cumpro meus compromissos de forma adequada ou não, se pago meus impostos em dia ou não, se utilizo os bens públicos de acordo ou não, se considero e respeito o outro no meu dia a dia ou não. Tudo, qualquer ação nossa tem um caráter político, porque mostra o que move o cidadão e o que está por trás de cada uma de nossas ações.   
Painel na Igrejinha Nossa Sra de Fátima. Foto: Anita Di Marco
Brasília, por exemplo, foi o campo de vida e da expressão máxima da arte do artista plástico Athos Bulcão. Convidado por Oscar Niemeyer para se juntar ao grupo durante a construção da cidade, entre os amigos do artista estavam, simplesmente, nomes do porte de Niemeyer, Lúcio Costa e Burle Marx, entre outros. Assim, ele participou ativamente da criação da nova capital, integrando de forma brilhante arquitetura e arte com suas obras e seus painéis, que embelezam edifícios e espaços. Mais do que isso, Bulcão colocou a arte da azulejaria no cotidiano da cidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Secretaria de Cultura do Distrito Federal tombaram mais de 250 obras suas.  
Painel congresso Nacional. Imagem: Anita Di Marco
 Para melhor assimilar e entender a grandeza de seu trabalho, veja aqui o vídeo, divulgado no programa Caminhos da Reportagem da EBC-TV Brasil, que celebra o centenário e o legado de Athos Bulcão.

Referências: