terça-feira, 17 de setembro de 2019

Ecos Culturais | Aprendizado e autoestima


Teodoro Sampaio. Imagem: Divulgação
Uma das observações de um livro que estou lendo sobre Educação, cuja resenha está em andamento, fala de uma atitude deletéria, mas bem comum na nossa historiografia: tornar invisíveis figuras e personalidades negras, sejam eles autores, escritores, poetas, artistas, músicos. Inconscientemente ou não, isso expõe a dificuldade em aceitar o pensamento e a influência dos negros, como se só os brancos tivessem esse poder. 
Não! Isso não é prevenção minha, como alguns vão afirmar, porque basta dar uma olhada nos livros didáticos brasileiros para perceber, por exemplo, o branqueamento (nas fotografias) a que são submetidos grandes nomes da nossa literatura.

Por isso, fiquei muito surpresa e feliz ao saber que um jogo de cartas (20 no total), o Jogo Afro-Históricos, foi desenvolvido pela estudante de design Polianna Silva, com apoio do programa Rumos Itaú Cultural para corrigir, ao menos em parte, essa falha. Brincando, crianças e jovens aprendem a trajetória, a vida, as dificuldades e as contribuições de negros em vários campos do conhecimento. 
Esse tipo de atividade é fundamental para quebrar o paradigma hegemônico, ainda que "inconsciente", de que negros só podem ter ação e papel subalternos. Não! Em todas as raças, cores e etnias, há homens e mulheres brilhantes, lúcidos, resilientes e inovadores. É claro, há muitos outros também como nós, menos lúcidos, menos brilhantes e mais comuns. Normal, não?   
Jogo Afro-Brasileiros. Imagem: Divulgação
Tais jogos têm um valor incomensurável no processo de aprendizagem, porque além de educativos e lúdicos, eles atraem, fazem pensar, esclarecem o conteúdo pedagógico e aumentam a autoestima de membros de determinados grupos. Ao jogar, eles descobrem sobre o outro e se descobrem. 

A título de exemplo, cito algo que acontece comigo. Sou capaz de me lembrar muito bem de todas as capitais dos países do mundo (pelo menos daquele mundo que existia na minha época de ginásio), graças a um jogo de quebra-cabeças que montamos quando eu estava na sexta série, lá nos meus tempos de Colégio Santana, em São Paulo. Lembro-me até hoje do nome da professora, Irmã Zilda, uma religiosa simpática, alegre, com carinha sempre rosada de tanto correr para lá e para cá na aula. Depois o mundo mudou, as fronteiras se modificaram, novos países, novas fronteiras e novas capitais surgiram. Mas aquelas antigas até hoje estão comigo, gravadas no fundo da memória e dali não escapam. 
São iniciativas desse tipo que provam que a educação pode, sim, ser altamente eficaz e simples, ao mesmo tempo.  

2 comentários:

  1. Adorei o texto sobre língua falada!

    E que ótimas ideias: o projeto desse baralho histórico e o do baralho das aulas de Geografia. As pessoas não perdem nada, se esse uso didático e lúdico voltar mais vezes.

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    1. Não é mesmo? tudo fica mais fácil quando a gente aprende brincando, de forma natural. e obrigada por estar sempre aqui, enriquecendo este espaço com suas contribuições. Abraços
      Anita

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