Mário Sérgio Cortella (Londrina, 1954)
e Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei
Betto (BH-1944) são dois dos meus autores de cabeceira. Gosto de seus
livros, assisto às suas palestras quando posso, leio artigos seus em publicações
impressas ou virtuais. No livro Sobre a
Esperança: Diálogo, resolveram se unir para falar sobre aquela única
virtude que não saiu da caixa de Pandora: a Esperança.
O livro flui bem no estilo
pergunta e resposta. Um deles pergunta e o outro responde, em tom informal,
agradável, como se estivessem sentados, conversando frente à frente, diante de
um cafezinho. Há réplicas e tréplicas, comentários mais ou menos longos, e
tudo isso leva o leitor a refletir.
Ao longo da conversa, citam e discutem ideias de
Sócrates, Descartes, Baudelaire, Rimbaud, Einstein, Freud, Heidegger, Dante,
Francisco de Assis, Madre Teresa, Gandhi, Jesus, Albert Schweitzer, São
Thomas de Aquino, Che Guevara, Marx, Teresa de Ávila e Milton Santos, entre
outros, como se falassem com eles e deles, todos os dias. Comentam
que o lema dos mosqueteiros - "Um por todos e todos por um" - deveria ser o lema da
comunidade. Falam da diferença entre o
fundamental (acessório) e o essencial (prioritário); entre
ressocializar e reumanizar no contexto carcerário; entre repartir
e dividir, cuja definição é abalizada pela ética mais que pelos dicionários, já
que dividir pressupõe perda e repartir pressupõe multiplicação: quando você
reparte, todos têm e quando você divide, cada um terá só um pedaço.
Mencionam a Bíblia, o
Evangelho, a Torá e o Alcorão, como depositários de princípios pelos quais devemos
nos pautar. Repetem Schweitzer quando este disse que “a tragédia não é quando um
homem morre; a tragédia é aquilo que morre dentro de um homem enquanto ele
ainda está vivo”, e lembram um poema do bispo Dom Pedro
Casaldáliga (1928) "De longe, toda montanha é azul. De perto, toda pessoa é humana." Falam da necessidade de
resgatar a noção do tempo como história, de estética, de conhecimento, de meditação
e de contemplação; de diálogo, política, consciência, cidadania, solidariedade,
cooperação, espiritualidade, congraçamento, paz, partilha, gratidão, educação
para o silêncio e para o afeto. Falam de liberdade e, é claro, de esperança.
A primeira leitura é rápida, embora bastante profunda. É de invejar o conhecimento e o desenrolar do raciocínio desses dois mestres do pensamento filosófico crítico. Vale a leitura e a reflexão. Não uma vez só, mas duas, dez, mil vezes, até introjetarmos as verdades mais simples trazidas para nós há 2000 anos.
Que no novo ano, nos próximos e sempre saibamos aprender mais rápido e aplicar melhor o tempo todo essas verdades. Feliz 2020!
Sobre a Esperança: Diálogo
Frei Betto/ Mario Sergio
Cortella
Campinas, SP: Papirus 7
Mares, 2012.