terça-feira, 17 de novembro de 2020

Ecos Literários | Batalhas de Poesias

As Batalhas de Poesias, ou Poetry Slams, são eventos literários e culturais das periferias urbanas. A primeira delas nasceu em Chicago, em 1986, na mesma época do hip-hop e acabou se espalhando pelo mundo. Tomando emprestado o nome das finais dos torneios de baseball e bridge, Mark Kelly Smith, poeta e operário da construção civil de Chicago, criou o movimento Uptown Poetry Slam organizando noites regadas a poesia, em vez de música. 
O movimento parece ter preenchido um enorme vácuo de canais de expressão, criando uma maneira emblemática de difundir e cobrar consciência sobre os temas abordados. Aliás, como na literatura, a poesia faz aflorar diferentes temas e emoções: palavras, rimas e performances falam de dor, alegria, humor, revolta, racismo, violência, homofobia, preconceito, dramas cotidianos, feminismo, ativismo cultural, resistência e denúncia. Segundo os poetas e organizadores, a inspiração é multifacetada – história, literatura, música, dança e realidades vividas. Numa palavra, a vida cotidiana.

Em no máximo três minutos, os poetas competidores/slammers recitam, leem, declamam e interpretam seus poemas. Nessas batalhas, o único som é a voz do poeta ou a vibração da plateia. Nada de música. Nada de percussão, violão, sanfona, teclado, gaita ou flauta. Só a voz que quer expor seu desabafo, revolta ou convocação. Os jurados, todos voluntários ou escolhidos pouco antes das batalhas, analisam e dão notas à poesia falada, à interpretação e à performance do poeta.

Os primeiros grupos criados no Brasil foram o ZAP (Zona Autônoma da Palavra), criado em 2008 por Roberta Estrela D’Alva, atriz, poetisa e apresentadora do programa Manos e Minas, na TV Cultura, e o Slam da Guilhermina (2012), realizado em uma praça pública, ao lado da estação Guilhermina-Esperança, na zona Leste da capital paulista. Só na cidade de São Paulo já existem mais de 50 grupos. Em outras capitais, como Brasília, Rio de Janeiro, Recife, João Pessoa, Curitiba, Porto Alegre, Recife e Belo Horizonte contam-se inúmeros coletivos, além daqueles em cidades menores. No nosso Nordeste, como não poderia deixar de ser, as batalhas ganharam mais liberdade e tons mais regionalistas, com a inserção, por exemplo, do improviso, das emboladas e do rap.

A edição 2018 da Festa Literária das Periferias-FLUP (sim, ignoradas por muitos, as periferias também têm criação, arte, cultura e organização), evento que acontece, desde 2012, em territórios excluídos dos programas literários do Rio de Janeiro, sempre apresenta algumas dessas batalhas nacionais e até internacionais. A seguir, três vídeos dão uma amostra da relevância desses eventos. Não há mais volta. A periferia quer se fazer ouvir. Vida longa à conscientização e às batalhas poéticas.  

1-Receba a delicadeza | Tawane Theodoro|Final. Vídeo da Slam da Guilhermina 2018, publicado em 01/nov/2018. Tawane Theodoro, campeã do ano. Produção: Colapso. Cinegrafistas: André Nicácio, Christian Harrison, Fernando Santos, Leonardo Souza, Rui Alves.
2-Batalha de Poesia/ Semi final do SLAM "DONATELLA". Publicado pela Grito filmes, em 02 de abril de 2017. Filmagem: Kevin Barbosa.  
 
3-
IWPS Finals 2014. A campeã individual Porsha O. (Porsha Olayiwola) "Angry Black Woman", em Phoenix Arizona, em 2014. Publicado por  Poetry Slam Inc em 18 fev. 2015. É de chorar.

 

Referências

https://www.brasildefato.com.br/2017/09/05/conheca-o-slam-a-batalha-de-poesias-que-tomou-as-ruas-das-cidades
https://journals.openedition.org/pontourbe/2836
https://ponte.org/zap-slam-a-primeira-batalha-de-poesia-do-brasil/

7 comentários:

  1. Que legal. Ja tinha ouvido falar disso mas não sabia direito o q era. Bj

    ResponderExcluir
  2. Aprendi muito hoje! Tudo soou novo! Nao conhecia essas batalhas literárias!Gratidão!

    ResponderExcluir
  3. Não conhecia essa modalidade, a não ser as Norte e nordeste

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, os repentes, né? Muito legal tudo isso. Obrigada, querida.

      Excluir
  4. Ótimo!novidade para mim também estas batalhas literárias onde este tipo de batalha é a melhor para o conhecimento e liberação da emoção.Bebel

    ResponderExcluir
  5. Muito interessante!
    Poesia como modo de exercer a realidade de nichos.
    Ninguém pede licença nesse processo que começou e se desdobra livremente.
    Parabéns, Anita!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Valquíria, sim, ninguém pede licença e a expressão cultural flui solta. Também achei muito interessante o processo... obrigada e grande abraço

      Excluir