sexta-feira, 29 de julho de 2022

Ecos Humanos | A dança da vida

Trago hoje um texto de André Luis, psicografado por Chico Xavier. O texto retrata muito do que acredito, o que nem sempre é fácil de cumprir, é verdade, mas é sempre uma direção, um alento e, sobretudo, uma necessidade urgente em tempos difíceis, quando é preciso mais do que nunca buscar resiliência, agindo para criar um mundo melhor para todos. Isso exige compromisso, empenho, solidariedade, compaixão e sentimento de unidade e de pertencimento. Apesar das circunstâncias, não guarde mágoa (= má água, água que apodrece), não se acomode, não se entristeça, continue agindo, acolhendo, transmitindo amor e desenvolvendo a resiliência e a alegria! Em yoga, isso é a busca constante de um dos niyamas, denominado santosha em sânscrito - alegria, contentamento interior. Um dia, tudo muda. E como o mesmo Chico Xavier disse: "A cada dia temos uma nova página de vida no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela corre por nossa conta."

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Quando uma porta se fecha, outra se abre; quando um caminho termina, outro começa... nada é estático no Universo, tudo se move sem parar e tudo se transforma sempre para melhor.  Habitue-se a pensar desta forma: tudo que chega é bom, tudo que parte também. É a dança da vida... dance-a da forma como ela se apresentar, sem apego ou resistência.

Não se apavore com as doenças... elas são despertadores, têm a missão de nos acordar. De outra forma permaneceríamos distraídos com as seduções do mundo material, esquecidos do que viemos fazer neste planeta. O universo nos mandou aqui para coisas mais importantes do que comer, dormir, pagar contas.... Viemos para realizar o Divino em nós.  Toda inércia é um desserviço à obra divina. Há um mundo a ser transformado, seu papel é contribuir para deixá-lo melhor do que você o encontrou. Recursos para isso você tem, só falta a vontade de servir ao Divino servindo a humanidade.

Não diga que as pessoas são difíceis e que convivência entre seres humanos é impossível. Todos acreditam que estão se esforçando para cumprir a missão que lhes foi confiada. Se você já está mais firme, tenha paciência com os companheiros de jornada. Embora os caminhos sejam diferentes, todos seguimos na mesma direção, em busca da mesma luz. E sempre que a impaciência ameaçar sua boa vontade com o caminhar de um semelhante, faça o exercício da compaixão. Isso vai ajudá-lo a perceber que, na verdade, ninguém está atrapalhando o seu caminho nem quer lhe fazer nenhum mal, está apenas tentando ser feliz, como você.

Quando nos colocamos no lugar do outro, algo mágico acontece dentro de nós: o coração se abre, a generosidade se instala dentro dele e nasce a partir daí uma enorme compreensão acerca do propósito maior da existência, que é a prática do AMOR.
Quando olhamos uma pessoa com os olhos do coração, percebemos o parentesco de nossas almas. Somos uma só energia, juntos formamos um imenso tecido de luz....  Não existem as distâncias físicas. A Física Quântica já provou que é tudo uma ilusão. Estamos interligados por fios invisíveis que nos conectam à Criação da vida. A minha tristeza contamina o bem-estar do meu vizinho, assim como a minha alegria entusiasma alguém do outro lado do mundo. É impossível ferir alguém sem ser ferido também, lembre-se disso. O exercício diário da compaixão faz de nós seres humanos de primeira classe.

André Luiz, através de Chico Xavier

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Ecos Urbanos | O tempo nas cidades

Imagem: Wikipedia

A mitologia grega sempre me encantou, com sua forma de explicar o mundo. Volto a falar de Chronos, o senhor do tempo para os gregos, ou Saturno na mitologia romana.  Temendo que se cumprisse a antiga profecia de que ele seria destronado por um herdeiro direto, Chronos acaba devorando cinco dos seis filhos (Hades, Poseidon, Hera, Deméter, Héstia e ... Zeus) que teve com Rhéa. O último deles, Zeus, escapou, pois Rhéa enganou Chronos, dando-lhe uma pedra envolva em um pedaço de pano em lugar do bebê. Anos mais tarde, a profecia se cumpriu, Zeus o destronou e ocupou seu lugar, mas antes, deu-lhe uma poção que fez o pai vomitar todos os seus filhos. Por ter derrotado Chronos, símbolo do tempo, Zeus e seus irmãos tornaram-se imortais. 

A imagem de Chronos devorando os filhos é assustadora, mas é o que acontece na vida. O tempo nos devora; quanto mais corremos, mais nos perdemos e não vemos o tempo passar. Se bem administrado, o tempo  age a nosso favor. Do contrário, acabamos vivendo sem perceber, sem viver, sem consciência. Mas o tempo é fator fundamental também na vida das cidades, na nossa casa comum. Em texto derivado de uma palestra, em 1989, o saudoso, premiado e sempre necessário Milton Santos (1926–2001), geógrafo baiano de Brotas de Macaúbas e professor titular de Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, fala dos diferentes tempos nas cidades. Cita os filósofos alemães Martin Heidegger (1889-1976), para quem não há tempo sem o indivíduo, e Immanuel kant (1724-1804) que vê o espaço como uma estrutura a coordenar esses diversos tempos. Cita ainda o historiador e filósofo argentino Sérgio Bagú (1911-2002) que diferencia tempo como sequência (o transcurso), tempo como raio de operações (o espaço) e tempo como rapidez de mudanças. Santos menciona ainda o escritor britânico James Graham Ballard, autor do conto Cronópolis (1960), nome de uma cidade imaginária. No conto, o personagem principal, um indivíduo fascinado pelo conceito de tempo, vivia em um mundo onde os relógios haviam sido proibidos.

Trazendo a ideia do tempo para as cronópolis de hoje, as grandes cidades, Santos destaca a relação entre tempos curtos e longos, rápidos e lentos, entre tempo e espaço, tempo e técnica, além de tempo e velocidade para ver, viver e entender a cidade. Como ele diz, as pessoas percorrem os espaços e consomem tempo... Tempo e cidade, tempo e mobilidade urbana, já que tudo é medido em função do tempo. Como geógrafo, Santos critica a correria e a velocidade que impede a fruição dos espaços, ao mesmo tempo em que destaca as boas ideias que permitem a observação lenta e prazerosa da vida. Elogia os woonerf holandeses, aquelas ruas onde civilizadamente se encontram e convivem bicicletas, crianças, pedestres e até carros. Destaca o movimento slow food, em  contraposição ao fast food, que remete ao contrassenso de fazer tudo rapidamente no afã de “não perder tempo”.  Contudo, para Santos, doutor pela Universidade de Estrasburgo, na França, “perder” tempo é essencial para que se possa ganhar ao caminhar devagar, parar, olhar, admirar, contemplar e saborear a cidade. 

Destaca a ação de coletivos que têm o mesmo objetivo, como os grupos Desvelocidades e Poro (1) de Belo Horizonte.  O primeiro lançou um manifesto em favor das desvelocidades – pelas crianças, pelos pais com carrinhos de bebê, idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência, ciclistas, patinadores, pedestres, skatistas e todos os outros que têm direito à cidade! O segundo, grupo Poro, publicou um informativo, no qual alerta o leitor com as palavras: “Tempo não é dinheiro. Guarde esse panfleto para ler sempre que necessário”, e divulga Dez Maneiras Deliciosas de Perder Tempo, como possibilidade de encantamento. 

Prof. Milton Santos. Foto: UFSB.Divulgação

Ao final do artigo, com a humildade que lhe era peculiar, Milton Santos lamentou não ter tido mais tempo para aprofundar suas pesquisas e oferecer um curso de pós sobre o tempo. Concluiu salientando que, felizmente, os indivíduos estavam des­cobrindo que, nas cidades, o tempo que comanda ou vai comandar é o tempo dos homens lentos... pois só os lentos é que podem ver e saborear de fato a cidade: 

 “Quem, na cidade, tem mobilidade – e pode percorrê-la e esquadrinhá-la – acaba por ver um pouco, da cidade e do mundo”. (Milton Santos)

Se ainda fosse vivo, com certeza, Santos teria endossado ações de implantação de ciclovias e do limite de velocidade nas ruas das cidades, democratização e melhoria dos espaços públicos, estímulo e proteção às áreas verdes, recuperação de rios e córregos urbanos, aperfeiçoamento das políticas públicas de segurança, habitação, educação e saúde para todos e, finalmente, de um desenho urbano comprometido que resultasse na criação de ruas mais agradáveis com fachadas ativas, tratamento de piso, iluminação e mobiliário urbano adequados. Ele terminaria relembrando que todos têm direito a uma habitação digna, educação e serviços de qualidade e a uma cidade justa, democrática, segura e agradável. 

Referências

(1) O Poro é uma dupla de artistas formada por Brígida Campbell (@brigidacampbell) e Marcelo Terça-Nada (@marcelonada). Também conhecido como Grupo Poro ou Coletivo Poro, atua desde 2002 com a realização de intervenções urbanas e ações efêmeras que tentam levantar questões sobre os problemas das cidades através de uma ocupação poética e crítica dos espaços.
SANTOS, Milton. O tempo nas cidades. Ciência e Cultura [online]. 2002, v.54. p. 21-22.  https://www.revistaprosaversoearte.com/o-tempo-nas-cidades-texto-extraordinario-do-geografo-milton-santos/
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252002000200020 https://en.wikipedia.org/wiki/Chronopolis_(short_story)
https://poro.redezero.org/intervencao/10-maneiras-incriveis-de-perder-tempo/
http://desvelocidades.red.bitverzo.com/
https://meiaum.wordpress.com/2015/09/30/o-que-e-uma-woonerf/
https://www.encyclopedia.com/arts/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/chronopolis-j-g-ballard-1971
http://www.elfikurten.com.br/2011/04/milton-santos-o-aspecto-humano-da.html

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Ecos Imateriais | Egrégora

Usado em papos mais místicos, o termo egrégora não tem nada de misticismo ou mágica. É energia, portanto, física pura. Todo mundo já foi criança e, com certeza, em casa ou na escola já deve ter brincado com ímã e aprendido, na prática, a lei da atração. Pois bem, palavras, pensamentos e sentimentos são energias que se expandem para o ambiente onde estamos, imantando nosso ser, o entorno e atraindo energias similares. Simples assim.

Etimologicamente, egrégora vem do grego egrêgorein = velar, vigiar e, segundo o Aulete, (s.f.) é uma força espiritual que resulta da soma das energias físicas, mentais e emocionais de um grupo de pessoas. Em outras palavras, somos responsáveis pelos nossos pensamentos, sentimentos, estados de espírito, anseios, intenções e palavras que impregnam nossos ambientes, para o bem ou para o mal. E, claro, quanto mais pessoas vibrarem num mesmo diapasão, maior será a quantidade daquela energia presente no ambiente. Daí a importância de orar e vigiar, para perceber que tipo de energias estamos alimentando. Gritaria, maledicência, agressividade, falas rudes, desrespeitosas denotando preconceitos, tudo isso cria desequilíbrio no ambiente, o que gera doenças e sintomas físicos e psíquicos.   

Nos ambientes de trabalho, por exemplo, competição, inveja, soberba, fofocas, intrigas, corrupção e mentira criam uma egrégora tóxica que afeta a saúde de todos. E, em vez de ser visto como forma de crescimento e desenvolvimento individual, o trabalho acaba sendo visto como sacrifício (já falei disso no post Trabalho e emprego) e pode causar reações físicas e emocionais como estresse, cansaço mental, insatisfação, ansiedade, depressão etc. O fato é que acabamos nos contaminando com energias dos locais onde frequentamos ou das pessoas com quem nos relacionamos. Nem sempre podemos optar, mas é uma questão de saúde física e mental continuar convivendo ali ou não. Afinal, quem convive com rosas acaba cheirando como elas e vice-versa.

Portanto, antes de tudo, é preciso desenvolver o autoconhecimento para tratar da nossa saúde mental, do nosso corpo, nossa casa, nosso ambiente, nosso planeta. No caso de uma catástrofe, por exemplo, quanto mais pessoas se desesperam ao saberem do fato, mais rápido cria-se uma egrégora de sentimentos ruins, pesados e tristes. Por outro lado, a partir da mesma notícia, outros reagem de forma altruísta. Grupos de oração e meditação, após o choque inicial, logo passam a trabalhar para enviar preces, boas vibrações e energias, criando uma egrégora de cura, alívio e compaixão. A cada dia, somos convocados para agir, vibrar amor e fortalecer egrégoras de equilíbrio e auxílio.

Por qual caminho seguir?  Ser ou pensar negativa ou positivamente é uma escolha! É sinal de sabedoria ter consciência dessa força energética e vibracional, ficar atento aos seus pensamentos e escolher energias construtivas. Caso contrário, você pode entrar nesse buraco negro que suga sua energia. Assim, mantendo-se calmo e equilibrado, você se protege e protege seus ambientes, emitindo vibrações  que colaboram para a harmonia geral daquele espaço. Isso não é alienação; é estratégia de resistência e de resiliência para ajudar a dor no outro, não para intensificá-la e se enterrar nela.

Para manter esse estado positivo, fique atento, não se deixe envolver por sentimentos negativos e inclua, na sua rotina diária, ações como meditar, orar, ouvir música suave, praticar yoga para aliviar a tensão, dançar, cuidar de plantas, cercar-se de arte, beleza, de pessoas alegres, inspiradoras. Além disso, não inveje ninguém, não guarde rancor, perdoe e elogie mais, ajude e peça ajuda, desenvolva a paciência, a resiliência e um olhar inclusivo e amoroso, enxergando no outro a mesma luz que brilha em você.

Somos todos um, o que significa que  ou nos salvamos todos ou ninguém se salva, como sugere a linda mensagem que recebi: “Fazemos parte de uma grande constelação e nunca o brilho de uma só estrela será superior ao brilho do todo”.

Finalizo com um texto atribuído a Chico Xavier (1910-2002):

“CUIDADO COM A MEMÓRIA DE SUA CASA” (Chico Xavier)

O padrão vibratório de uma casa tem relação direta com a energia e o estado de espírito de seus moradores. O conjunto de pensamentos, sentimentos, estado de espírito, condições físicas, anseios e intenções dos moradores fica impregnado no ambiente, criando o que se chama de egrégora.

O que poucos sabem é que as paredes, objetos e a atmosfera da casa têm memória e registram as energias de todos os acontecimentos e do estado de espírito de seus moradores.

Por isso, quando pensar na saúde energética de sua casa, tome a iniciativa básica e vital de impregnar sua atmosfera apenas com bons pensamentos e muita fé.

Evite brigas e discussões desnecessárias. Observe seu tom de voz: nada de gritos e formas agressivas de expressão. Não bata portas e tente assumir gestos harmoniosos, cuidando de seus objetos e entes queridos com carinho.

Não pense mal dos outros. Pragas, nem pensar!

Selecione muito bem as pessoas que vão frequentar sua casa. Se você nutre uma mágoa profunda ou mesmo um ódio forte por alguém, procure ajuda para limpar essas energias densas de seu coração.

Alegria, amor, paz, prosperidade, saúde, amizades, beleza já estão bons para começar, não é mesmo?“

Namastê

Referências

https://institutoreikiano.com.br/egregora/

https://buddhaspa.com.br/blog/qualidade-de-vida/o-que-e-egregora/