sexta-feira, 19 de maio de 2023

Ecos Imateriais | O tempo como alquimista

Imagem: Wikipedia
Alvo de estudos, hipóteses, crônicas, romances e teorias, o tempo segue inalterado em seu papel; continua onde sempre esteve, passando lentamente, dia após dia. Ou será que somos nós que passamos e nos movemos em torno dele? Já nos tempos medievais a alquimia era a ciência química que procurava a chamada pedra filosofal, capaz de transformar metais em ouro, e também o elixir da juventude que garantiria, a quem o encontrasse, uma vida longa e jovem. 
 
Mas basta virar a chave para entendermos  que, na dimensão espiritual, o grande processo alquímico de transmutação é transformar o indivíduo inferior em superior, nosso euzinho no EU maior, nosso serzinho egóico em um SER evoluído, ou seja, na melhor versão de si mesmo. O processo de evolução leva tempo, é verdade, mas é inexorável, porque todo ser humano carrega em si a essência divina, potencialidade pura, como mostram vários rituais da Índia, em ashrams, escolas de yoga ou de espiritualidade. Em muitos deles usa-se o coco, como símbolo do ser humano – áspero, duro, feio e cheio de marcas por fora, mas imaculado, liso e doce por dentro.

 

A alquimia, portanto, sempre esteve relacionada à transformação. No entanto, em qualquer processo, qualquer que seja a teoria por trás, não existe maior alquimista do que o próprio tempo. Ele mesmo, Cronos que, aos poucos, vai curando as feridas, modificando o ser, transformando a dor da perda do ser amado em saudade; burilando defeitos, aparando arestas, retomando narrativas esquecidas, desenterrando mentiras mal contadas, trazendo à luz verdades escondidas, mostrando a insensatez de guardar mágoas e ressentimentos.... Com a passagem do tempo e sua ação silenciosa, o ser humano muda. Sempre. Não importa quanto tempo leve. O fato é que muda. Domingos Pelegrini Jr. (1949), jornalista e escritor de Londrina, mostrou essa infalível lei em forma de poema.    

 

Mudanças 

(Domingos Pellegrini Jr.)

O tempo pôs a mão na tua cabeça e ensinou três coisas.

Primeiro: Podes crer em mudanças quando duvidas de tudo, quando procuras a luz dentro das pilhas, o caroço nas pedras, a causa das coisas, teu sangue bruto.

Segundo: Não podes mudar o mundo conforme o teu coração. Tua pressa não apressa a história. Melhor que teu heroísmo é tua disciplina na multidão.

Terceiro: É preciso trabalhar todo dia, toda madrugada para mudar um pedaço de horta, uma paisagem, um homem. Mas mudam, essa é a verdade.

4 comentários:

  1. Assunto profundo demais/ j.campos ribeiro

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  2. Texto muito bom.Nos chama atenção para o nosso eu é nossa capacidade de transformação de nossas limitações.

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  3. Que profundo, lindo isso Anita, o tempo é um "senhor tão bonitão.."

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