sexta-feira, 5 de maio de 2023

Ecos Urbanos | A palavra mágica

Em geral, imagino que todas as pessoas (exceto acumuladores) querem ter saúde, morar bem, alimentar-se com dignidade, ter serviços de qualidade, ou seja, estar bem todas as acepções do termo, estudar, trabalhar e divertir-se em ambientes mais ou menos organizados e em bom estado de conservação. Em espaços públicos, isso diz respeito à clareza, ordem e boa condição das vias, dos sentidos de direção, cruzamentos, áreas verdes, praças e caminhos, mobiliário urbano adequado e nos devidos lugares etc... Nos espaços privados, a ambientes salutares, higiênicos e funcionais, com objetos e mobiliário práticos, bem dispostos e não danificados, de forma a facilitar a vida e a atividade própria daqueles ambientes. Em resumo, o bom estado de conservação e a organização facilitam a execução de qualquer atividade, seja ela rotineira ou esporádica, de trabalho, estudo, lazer ou descanso. 

Acontece que nenhuma organização consegue se manter como tal por si só. Existe uma palavra essencial, maravilhosa e sumamente mágica - cuidado, sinônimo de zelo, consciência, cautela, mas também de manutenção. Isso vale não só para o ser humano, mas também para o ambiente: o cuidar de si e do outro, sendo que esse "outro", o que está fora de mim, inclui o ambiente. Cuido de mim e do outro, do ambiente e dos espaços públicos e privados, garantindo um ambiente interno ou externo propício, bem cuidado e organizado, mas isso não existe sem os devidos cuidados e uma manutenção regular e continuada. 

Agora, quem deve ser responsável por essa mágica que facilita a vida em geral? Todos nós, sem exceção. Ou melhor, acumuladores talvez ainda  sejam a exceção. Retomando exemplos de vários posts deste blog (cidade ideal, monetização da vida, calçadas e outros), basta cada um fazer o que lhe cabe neste latifúndio, como diz a fantástica canção Funeral de um Lavrador, de Chico Buarque. 

No caso dos espaços urbanos, é lamentável perceber, há anos, moradias precárias, vias intransitáveis durante o período de chuvas, lixo nas ruas, praças, nos parques, bueiros e córregos;  a falta de fiscalização (descaso?) do poder público; equipamentos públicos quebrados, funcionando mal ou precariamente; áreas verdes maltratadas; calçadas esburacadas (quando existem); bueiros sem proteção colocando em risco crianças, ciclistas, motoristas, animais de pequeno porte e até veículos; peças depredadas do mobiliário urbano (bancos, lixeiras, postes de iluminação, placas de rua etc); desinteresse no cuidado de áreas públicas e privadas de convívio coletivo em geral... Mas mais triste ainda é ver o desleixo, a indiferença, a negligência e a total desconsideração de um ser humano em relação a outro, em qualquer espaço...

Cuidado (e/ou manutenção) é palavra mágica que deve ser ensinada às crianças, desde a mais tenra idade, porque ensinar os mais velhos, já mal acostumados, será sempre (não impossível, porque senão eu não estaria falando disso), mas bem mais difícil... Gentileza gera gentileza, lembram-se? Então, comece consigo mesmo em casa: cuide-se, ensine seu filho a se cuidar - da saúde física, mental e emocional, da alimentação, dos deveres, das leituras, das companhias, da casa, da escola, da cidade e, assim como ele não joga lixo dentro de casa, ensine-o a não jogar lixo nas ruas e praças, porque a cidade é nossa casa maior... Ensine-o a respeitar, a se importar, a ter responsabilidade e cuidado nos níveis pessoal e cívico.

Outro dado curioso. Como o universo conspira a nosso favor, no mesmo dia em que eu escrevia este post, a arquiteta Teresa Guida Massa, outra profissional sonhadora, atuante e preocupada com as condições e os destinos das nossas cidades, enviou-me um artigo sobre o trabalho da artista americana, Mairle Ukeles, cujo trabalho destaca A Arte da Manutenção, elevando a um outro nível minha humilde preocupação com a manutenção e o cuidado dos indivíduos em relação a si próprios, aos espaços públicos e privados.

Basta pensar um pouco: indivíduos, plantas, animaizinhos, objetos, lugares, cidades, paisagens, espaços públicos ou privados não se mantêm saudáveis, agradáveis, seguros e em bom estado sozinhos. Precisam de nossa ação cuidadosa, pronta e atenta! Uma ação individual e conjunta, de cada um de nós, porque todos somos responsáveis!  

Referências:

https://anitadimarco.blogspot.com/2015/07/paisagem-construida-gentileza-urbana.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2015/06/paisagem-construida-santa-calcada.html

https://arteref.com/nao-categorizado/o-manifesto-de-mierle-ukeles-e-o-devemos-aprender-com-ela/   

15 comentários:

  1. Muito interessante e indispensável saber cuidar!!!!

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  2. Realmente o cuidar é para tudo e todos, a começar por cuidar de si mesmo com responsabilidade , carinho e amor inteligente. É uma questão muito mais profunda que revela a estima elevada ou descuidada e baixa. Clássica pergunta: quem sou eu? Obrigada Anita, bjinhos

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    1. Pois é, enquanto a gente não aprender que a felicidade só vale quando compartilhada, ficamos nessa busca individualista e esquecemos de olhar para o lado... Abraços e obrigada por comentar...

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  3. Maravilhoso texto, Anita! Precisamos desenvolver esta consciência para criarmos uma sociedade auto sustentável. Aprender a cuidar do espaço, do planeta é questão de sobrevivência. E isto, deve começar a ser aprendido em casa.

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    1. Exatamente e já estamos atrasados, né? É só ver os desequilíbrios da natureza ....provocados pelo nosso descaso ....abraços

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  4. Manutenção, cuidado... isso requer, sim, atenção o tempo todo e para tudo.
    E é no presente, no dia a dia.
    Parabéns , Anita, pela perene luta, pela paciência e claras palavras, que vem nos acordar mais
    Abs

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  5. Ler seus post é alargar a consciência de si e dos outros. Parabéns, Anita!

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    1. Obrigada, mas é só o que podemos fazer ... Acordar os que ainda não acordaram... E esse trabalho é infinito ...

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Cuidado, palavra chave, começa com as crianças pequenas, passa pelas árvores, praças até chegar aos velhinhos como eu...

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    1. Maduros, eu diria, :) mas começando desde crianças ...abraços!

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  7. Excelente Anitinha! Cuidar refere se a Amar, interesse, respeito, cuidado, começando em casa será mais fácil fazer fora.

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  8. Ótimo texto. Na região da Europa onde moro, tudo é bem arrumado, limpo e muito bem mantido: ruas, calçadas, pontes, edificios, espaços públicos. Nada é criado sem um plano de manutenção e conservação. E por estar assim conservado, há um grande respeito da população em manter limpo o espaço, sem pichações e sem depredações.

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    1. É admirável, sim, mas aí entram em jogo também a educação da população e a renda desses países, né? Outro mundo, literalmente, mas chegaremos lá... Algum dia! Abraços, Saruê!

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