sexta-feira, 16 de junho de 2023

Ecos Culturais | Terra, para que te quero?

O uso da terra (do barro e da argila) remonta ao início da humanidade e prova disso são os cacos de cerâmica encontrados nas escavações arqueológicas. Desde sempre, o ser humano precisou de potes, jarros e recipientes de todos os tamanhos para acondicionar alimentos sólidos, líquidos e sementes. Aos poucos, a terra foi sendo empregada também como material de construção - taipa de pilão, taipa de mão ou pau-a-pique, adobe (blocos de argila moldados à mão e secos ao sol), revestimento... Depois, eram secos em fornos e, aí, vieram os tijolos, telhas, ladrilhos etc. O material também foi usado na confecção de objetos de decoração e, depois de secas, as peças moldadas eram submetidas a altas temperaturas, o que lhes garantia novos atributos – impermeabilidade, resistência, possibilidade de receber pintura etc.


Com o tempo, outras substâncias foram acrescentadas a esse maravilhoso material da mãe Natureza. Com isso, o processo foi se aperfeiçoando e surgiu a cerâmica (do grego kéramos - terra ou argila queimada), produzida a partir de métodos cada vez mais sofisticados, mas sem dispensar a argila, os fornos e a mão humana. Gradualmente, a cerâmica atingiu o patamar de obra de arte, como mostram, por exemplo, os ceramistas da cidade paulista de Cunha, cidade na qual os eventos de abertura dos fornos dão um significado todo especial a essa antiquíssima arte. Nessa estância climática o mais utilizado é o Noborigama, série de fornos escalonados nos quais o calor vai subindo, e a temperatura aumentando, conforme o nível do forno - do mais baixo ao mais alto.    

Peças de cerâmica de Cunha, SP. Foto: Anita Di Marco

 Claro, admirar é para todos, mas produzir arte é para poucos, já que nem todos são hábeis para criar belos objetos ou esculturas de barro. Mas levante a mão quem nunca pegou um pedaço de barro, amassou, umedeceu, tornou a amassar e esculpiu seja o que for – um cavalinho, uma flor, uma mesinha. Eu me lembro de ter feito isso, muitas e muitas vezes, ora sozinha, ora com minha irmã, ora com os primos nos fundos da velha casa onde morávamos, naquele imenso (aos olhos infantis) quintal de onde tirávamos o barro.   

Não sei se, hoje em dia, as crianças brincam de modelar com barro, porque a sensação no manuseio da argila, sentindo a textura, a temperatura e suavidade do material (e do produto final) é incomparável. Nada contra, mas também nada a ver com aquelas massinhas comercializadas em potinhos coloridos. E, embora nunca tenhamos feito mais do que brincar, admiro e tenho o maior respeito por aqueles que vivem dessa arte, passando-a de geração em geração.... 

Museus de Cerâmica, no mundo todo, mostram essas preciosidades que vão de milenares peças arqueológicas, objetos indígenas de todas as épocas à mais delicada peça de cerâmica. Aproveite para ler a reportagem  Cerâmica de Barro é tradição que cria laços no Brasil sobre três brasileiras (do Amapá, de Alagoas e da Bahia) que passaram a vida trabalhando o barro e se encontraram, no final de abril, no SESC-São Paulo para contar sua história e mostrar sua arte. Arte popular de grande valor!

Em tempo: Fotos e peças de Anita Di Marco.

Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cer%C3%A2mica

http://www.anfacer.org.br/historia-ceramica  

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-04/ceramica-de-barro-e-tradicao-que-cria-lacos-no-brasil

http://www.ateliesj.com.br/  

5 comentários:

  1. Parabens aos artistas artesoes e ao arquiteto joao de barro. J.campos

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  2. Corrigindo: artesãos/j.campos

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  3. Parabéns de novo, Anita.
    Que lindo texto.
    Eu não sabia dessa característica de Cunha.
    Me deu até vontade de conhecer !

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  4. Lindas fotos e histórias, Anita. Uma dica bia também é o trecho Cunha a Parati. Zé Marcelino.

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