sexta-feira, 9 de junho de 2023

Ecos Humanos | Os povos originários

Desmatamento na Amazônia. Imagem: Wikipedia

Junho é quando se comemora o dia do Meio Ambiente. Porém, nos últimos tempos, vimos imagens terríveis sobre o meio ambiente e a questão indígena no nosso país: o drama do povo Yanomâmi (há muito denunciado); o assassinato em 2022 do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips; o aumento absurdo, nos últimos quatro anos, de ações ilegais de desmatamento, garimpo e invasão de terras em territórios indígenas da região amazônica e a consequente tragédia que se abate sobre os povos originários (assassinatos, exploração, estupros, ameaças, doenças etc.) Para coroar essa sanha destrutiva, houve a aprovação pela Câmara do “marco temporal” que afronta os direitos de mais de 300 grupos indígenas. Torço para que STF e o Senado consigam brecar esse desvario.  

Ora, quando os portugueses aportaram por essas plagas, os indígenas já estavam aqui, não? Se alguém ainda tem dúvidas do que houve, basta estudar a real história do Brasil que mostra como os povos indígenas (e seus direitos) foram tratados, tutelados, desconsiderados, violentados, desrespeitados, eliminados, removidos de suas terras. Afinal, os colonizadores consideravam que esses povos não tinham “alma” e precisavam ser "civilizados". Aliás, lembro-me de ficar arrepiada ao ler nos livros didáticos o tipo de gente que veio para cá - degredados, vadios, capangas, homens de reputação duvidosa que não eram bem-vindos no Reino...  

Um texto do Conselho Indigenista Missionário - CIMI  (ver aqui) traça um panorama dessa triste história. Aviso aos incautos: duas coisas são necessárias agora - estômago para ler o texto e coragem para se importar. A seguir, alguns excertos para dar ao leitor uma ideia do que se trata:  
    “Significa dizer que todas as invasões nos
territórios indígenas foram legais; que os indígenas foram merecedores da violência;[...] que os Guarani expulsos pela hidrelétrica de Itaipu durante o regime militar em 1982 perderam o direito à terra, pois não estavam na posse das mesmas seis anos depois, porque as terras estava alagadas; que os Kaingang do Toldo Imbu, amarrados pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e transportados em caminhos para a terra Xapecó (sic) devem se conformar com a violência; seria dizer à sociedade que o crime compensa”, ou ainda que todos os crimes praticados pelo Estado contra os povos indígenas, por ação e omissão, não foram crimes.[...]

Enfim, não é possível aceitar uma história que mascara a verdade com o suposto esquecimento e apagamento, e a história dos ”vencedores” não pode ser vendida, mais uma vez, como verdade. Como dizia Guimarães Rosa, em frase tão pouco entendida e praticada, mas repetida por tantos: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Ou seja, é preciso conhecer, reagir e resistir. 

#Não ao marco temporal   

Arte indígena da cestaria. Foto: Divulgação

Ao mesmo tempo, também temos visto agora, em grandes museus brasileiros, mostras sobre os costumes, tradições, a arte desses povos e o lançamento de clássicos da literatura brasileira em outros idiomas, como Macunaíma e O Turista Aprendiz (ver Literatura Brasileira no exterior). Ou seja, nosso cotidiano é povoado com informações sobre os diferentes saberes, modos de vida, idiomas, terminologia, etnias e cultura desse universo indígena. Mas, digo agora apenas em tese porque, desde que me entendo por habitante deste planeta e também responsável pelo que acontece no mundo, procuro agir de forma coerente para a preservação do meio ambiente e dos povos originários. Meus filhos que o digam, com os muitos eventos, fotos e passeios ecológicos que fizemos, sempre chamando a atenção para a importância de agir localmente em defesa de um meio ambiente global sustentável! E, nesse quesito, a Associação Ecológica Vertente teve muita história para contar e uma atuação ímpar no Sul de Minas...  Quem participou sabe!

Mas voltando às exposições. Além das já citadas aqui no blog Anita Plural, AQUI como a exposição Véxoa: Nós Sabemos na Pinacoteca do Estado de São Paulo; Iandê: Aqui estávamos, aqui estamos, no Museu Nacional do Rio; a exposição fotográfica Amazônia de Sebastião Salgado, o leitor pode viajar virtualmente em Vidas Indígenas: modos de habitar o mundo, do Museu da Pessoa em parceria com a rede Visibilidade Indígena, apoio da Agência da ONU para os refugiados (ACNUR), Armazém Memória, Instituto de Políticas Relacionais e Embaixada da Noruega.

Espero, sinceramente, que este post que quer lembrar a inegável contribuição dos povos originários, nossos ancestrais, na construção da nossa identidade, possa incentivar os leitores a melhor entenderem, valorizarem e respeitarem essas tradições.

Referências

https://cimi.org.br/2023/06/marco-temporal-e-a-consagracao-da-violencia-contra-os-povos-indigenas-uma-disputa-de-memorias/

https://exposicaovidasindigenas.museudapessoa.org/

https://www.gov.br/icmbio/pt-br 

https://cimi.org.br/

https://www.brasildefato.com.br/2021/08/25/o-que-e-o-marco-temporal-e-como-ele-atinge-os-indigenas-do-brasil

https://jornal.unesp.br/2023/06/01/aprovacao-do-marco-temporal-prejudica-tanto-direitos-dos-povos-indigenas-quanto-protecao-do-meio-ambiente-no-brasil/

https://www.sescsp.org.br/exposicao-amazonia-de-sebastiao-salgado-estreia-no-sesc-pompeia/   

5 comentários:

  1. É preciso concordar que a população indígena ficou por muito tempo sem apoio, "ao léu". Diríamos que foi todo um mandato sem amparo público ! Só agora novo governo tem dado a atencao devida! Tanto por fazer e tanta cobrança!

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  2. Muito pertinente o tema pro momento atual. Infelizmente os povos indígenas são sistematicamente violentados pelo Brasil há 523 anos, é inconcebível que isso continue acontecendo. Só com conscientização da população e esforço real do poder público é que poderemos fazer a reconciliação justa que lhes é merecida! Não ao Marco Temporal! Demarcação já!!!

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  3. Infelizmente, a cultura indígena foi mantida em terceiro ou quarto plano. E não foi só o Brasil que fez isto! Os EUA fizeram a mesma coisa com os índios de lá! Resta agora saber se teremos condições de homenagear minimamente o que os índios construíram!

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  4. 🤝 muito bem. J.campos ribeiro

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  5. Muito bom o texto! Os indígenas neste país sempre ficaram em segundo plano.O que foi feito com eles há 500 anos atrás,dói em corações que ontem e hoje os respeitam de forma carinhosa e verdadeira.Vamos torcer para que façam o marco temporal já.

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