terça-feira, 7 de maio de 2024

Ecos Humanos | Crianças e as redes (2/2)

Este post é continuação do anterior, então, se ainda não o leu, clique aqui.

Hoje, depois de alguns anos da existência das redes sociais, uma grande quantidade de profissionais das áreas da saúde e da educação, amparados pela ciência, pesquisas e vivência pessoal, vêm alertando a sociedade sobre o mal causado às crianças e aos adolescentes a partir do uso irrestrito e abusivo das redes sociais, telas, celulares e eletrônicos, em geral. Alertam para a relação comprovada entre esse uso e inúmeros problemas de saúde física, mental e emocional como depressão, ansiedade, insônia e (pasmem!) mudança (diminuição ou aceleração) do tempo natural de desenvolvimento, maturação cerebral e as devidas consequências, inclusive em função dos estímulos visuais desses eletrônicos.

Em outras palavras, o mau uso (ou excessivo) pode afetar a formação de jovens e crianças causando: diminuição da atividade física e afastamento da natureza, com a consequente perda de habilidades motoras, físicas e mentais; perda da capacidade de comunicação, elaboração, interação e empatia; aumento da intransigência, da solidão e da baixa autoestima, em função da comparação com os "modelos" criados pelas redes. Além disso a criança fica sujeita a inúmeros perigos como golpes, assédio, perseguição e abusos sexuais online, violência, aliciamento, constrangimento, automutilação, roubo de dados pessoais, conteúdos e pedidos impróprios de redes de pedofilia, mutilação, dependência e outras questões médicas e de saúde pública.

Sem dúvida, a tecnologia é um ganho imenso para a sociedade, não tem volta, mas até que ponto devemos ser escravos dela? Escravos displicentes e inconscientes? Infelizmente, como bem disse o linguista, filósofo e tradutor italiano Umberto Eco, a internet deu voz a milhares de imbecis. Crianças não têm malícia, conhecimento ou discernimento suficientes para se protegerem e, por isso, os pais têm obrigação de impor regras e falar abertamente a eles dos riscos envolvidos. Sobretudo porque as plataformas, em geral, são projetadas para colocar em prática poderosos métodos de persuasão visando manter os usuários cada vez mais envolvidos. Portanto, elas também devem ser reguladas, responsabilizadas e cobradas quanto à transparência e ações nesse sentido, mas nada exclui a presença e a fala responsável de um adulto consciente.

No caso de adolescentes, já que o uso é inevitável, uma conversa franca, aberta e didática com pais, professores e responsáveis pode mostrar os riscos e prevenir (mas não impedir) que esses jovens sofram as consequências do mau uso. Nos Estados Unidos, um estudo recente detectou que, de quase sete mil jovens pesquisados entre 12 e 15 anos, “os que passavam mais de três horas por dia nas redes sociais tinham o dobro do risco de sintomas de depressão e ansiedade do que os não usuários”. Já a redução do uso de mídias sociais mostrou melhorias na saúde mental.

Um último alerta aparentemente incontestável, mas sempre necessário: as redes sociais são um universo abstrato, irreal, fictício e ilusório, onde tudo pode ter sido inventado, com dados bem distantes da verdade e, enquanto o jovem fica ali fechado, vivendo e acreditando naquele mundo virtual, a vida aqui fora está passando. Como bem dizia a letra da música “Beautiful boy”, de John Lennon “Life is what happens to you while you are busy making other plans”.

Um dos profissionais que mais alertam os pais nesse sentido é o pediatra e sanitarista Daniel Becker (Instagram @pediatriaintegralbr) que traz conversas valiosas sobre temas ligados às nossas crianças. A esse respeito, a própria Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criou um manual para ajudar os pais a entenderem com o que estão lidando. 

Em tempo. No Senado Federal, está em análise o Projeto de Lei 2.628/2022, que proíbe a criação de contas em redes sociais por menores de 12 anos de idade.  

Referências

https://surfshark.com/pt-br/blog/perigo-das-redes-sociais

https://www.fadc.org.br/noticias/redes-sociais-criancas

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/redes-sociais-apresentam-risco-profundo-de-danos-para-criancas-alerta-cirurgiao-geral-dos-eua/  

https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-09/exposicao-excessiva-de-criancas-em-redes-sociais-pode-causar-danos

https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sem-abusos-mais-saude/

3 comentários:

  1. Muito bom o texto.Temos que estar atentos nas crianças e adolescentes de hoje.Atrativos na internet é o que não falta.Bebel

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  2. "Precisamos falar sobre o Kevin" é o título de um filme que me marcou muito e tem muito a ver com suas reflexões, Anita. Viciar nossas crianças em telas e não conversarmos sobre isso é entregá-las a um vício sem volta.

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    1. Olá, esse filme é muito dolorido, pesado e difícil de ser visto. Vi uma vez e nunca mais....O amor é a única coisa que importa, o cuidado, a paciência e para isso temos que ser pais, de fato, e não delegar à internet essa função divina e dificílima... Obrigada por comentar. Abraços

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