segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Línguas & Tradução | Tradutor é autor?

Imagem: wikipedia
A propósito do processo de tradução, dois pontos são recorrentes em encontros, discussões e simpósios de tradutores: o binômio autoria x tradução (aquilo que Umberto Eco chama de negociação entre autor e tradutor) e um outro ponto, invariavelmente ligado ao primeiro, que é a ‘invisibilidade’ do tradutor, nessa negociação. 
Trato aqui do primeiro tópico: autoria x tradução. 
O primeiro ponto é claro: autor e tradutor são dois personagens de um mesmo produto, mas com pesos diferentes. No caso de o original ser obra literária ou de ficção, o autor-escritor-pesquisador imagina, pesquisa, cria e monta o contexto, o conteúdo, os personagens, os modos de falar, os tempos, os embates e os resultados. Se for de área técnica, o autor pesquisa, compara, analisa, conclui, escreve ou critica, como lhe aprouver, teorias, práticas ou exemplos, formando um corpo permanente de dados que constituem o texto do autor. 
O tradutor, por sua vez, se aproxima do original, lê, procura entender, pesquisa, busca referências semânticas, linguísticas e culturais; pesquisa novamente e traduz; depois revisa, muda novamente, se for o caso, permitindo que o livro da língua-fonte possa ser lido e compreendido em outra língua, a língua-alvo. O que significa, que determinada obra só passa a existir em outra língua que não aquela de origem, por arte e mérito do tradutor, transformado em elo e negociador possível entre duas culturas e duas línguas. Umberto Eco tinha razão. Traduzir é negociar; é pensar, é ponderar e finalmente, escolher.  
Imagem: designer.com
De qualquer modo, é fundamental que a tradução, literária ou técnica, seja de qualidade, evidente. O mesmo vale para a adaptação de filmes, músicas, poemas. Não importa. A qualidade do trabalho do tradutor é essencial para que o leitor tenha quase a mesma experiência que teria se lesse a obra na língua de origem. E, é certo, pelo trabalho de recriar em outra língua o texto original, o tradutor merece reconhecimento. 
Durante a tradução (ou a negociação, como queria Eco), o profissional se depara, todo o tempo, com a angústia tradutória: a dúvida entre um termo ou outro, uma ou outra forma de expressar o que diz o autor, um ou outro chiste, uma ou outra situação específica geografia ou cênica ou cômica, por exemplo. É uma angústia constante, um ato desmedido, como queira Boris Schnaiderman. São decisões individuais sofridas, às vezes, e assim, a cada tradutor corresponderia, teoricamente, uma tradução ou uma decisão. Certo é que a angústia tradutória, no entanto, é comum a todos os tradutores.  
Portanto, quando você for ler um livro traduzido, não se esqueça de que é graças ao tradutor que você pode lê-lo em sua língua. Em qualquer publicação, os créditos são sempre necessários. 

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