Imagem: wikipedia |
A propósito do processo de tradução, dois pontos são recorrentes em encontros, discussões e simpósios de tradutores: o binômio autoria x tradução
(aquilo que Umberto Eco chama de negociação entre autor e tradutor) e um outro ponto, invariavelmente ligado ao primeiro, que é a ‘invisibilidade’ do
tradutor, nessa negociação.
Trato aqui do primeiro tópico: autoria x
tradução.
O primeiro ponto é claro: autor e tradutor são dois
personagens de um mesmo produto, mas com pesos diferentes. No caso de o
original ser obra literária ou de ficção, o autor-escritor-pesquisador imagina,
pesquisa, cria e monta o contexto, o conteúdo, os personagens, os modos de
falar, os tempos, os embates e os resultados. Se for de área técnica, o autor
pesquisa, compara, analisa, conclui, escreve ou critica, como lhe aprouver, teorias, práticas ou exemplos, formando um corpo permanente de dados que
constituem o texto do autor.
O tradutor, por sua vez, se aproxima do original, lê,
procura entender, pesquisa, busca referências semânticas, linguísticas e
culturais; pesquisa novamente e traduz; depois revisa, muda novamente, se for o
caso, permitindo que o livro da língua-fonte possa ser lido e compreendido em
outra língua, a língua-alvo. O que significa, que determinada obra só passa a
existir em outra língua que não aquela de origem, por arte e mérito do
tradutor, transformado em elo e negociador possível entre duas culturas e duas
línguas. Umberto Eco tinha razão. Traduzir é negociar; é
pensar, é ponderar e finalmente, escolher.
Imagem: designer.com |
De qualquer modo, é fundamental que a tradução, literária ou técnica, seja
de qualidade, evidente. O mesmo vale para a adaptação de filmes,
músicas, poemas. Não importa. A qualidade do trabalho do tradutor é essencial
para que o leitor tenha quase a mesma experiência que teria se lesse a obra na
língua de origem. E, é certo, pelo trabalho de recriar em outra língua o
texto original, o tradutor merece reconhecimento.
Durante a tradução (ou a negociação, como queria Eco),
o profissional se depara, todo o tempo, com a angústia tradutória: a dúvida entre um termo ou outro, uma ou outra
forma de expressar o que diz o autor, um ou outro chiste, uma ou outra situação
específica geografia ou cênica ou cômica, por exemplo. É uma angústia
constante, um ato desmedido, como queira Boris Schnaiderman. São decisões
individuais sofridas, às vezes, e assim, a cada tradutor corresponderia,
teoricamente, uma tradução ou uma decisão. Certo é que a angústia tradutória,
no entanto, é comum a todos os tradutores.
Portanto, quando você for ler um livro traduzido, não se
esqueça de que é graças ao tradutor que você pode lê-lo em sua língua. Em
qualquer publicação, os créditos são sempre necessários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário