terça-feira, 11 de julho de 2017

Ecos Imateriais | Ecléa Bosi (1936-2017)

Prof. Eclea Bosi do Instituto de Psicologia da USP. Imagem: Jornal da USP.
 “A vida é um pouco isso, plantar árvores frutíferas, pedindo a Deus que alguém esteja lá depois saboreando os frutos." 
- Ecléa Bosi


Eclea Bosi, professora emérita do Instituto de Psicologia da USP – IP, pesquisadora, poetisa e militante faleceu nesta segunda-feira, dia 10 de julho de 2017. Foi a idealizadora, em 1993, da Universidade Aberta à Terceira Idade, na USP. Hoje, segundo dados da própria USP, nove mil pessoas com mais de 60 anos frequentam as suas salas de aula.
Pesquisadora premiada e respeitada, nacional e internacionalmente, segundo a também professora Marilena Chauí, Ecléa Bosi era alguém difícil de ser definida, em função da multiplicidade de dons que possuía. Era uma das pessoas que sempre deu voz aos mais pobres e excluídos; uma voz que sempre lutou para registrar, preservar e valorizar as memórias, as tradições, os saberes e fazeres de nossos antepassados.   

Imagem: Marcos Santos. Jornal da USP
Casada com o crítico e professor de Literatura Brasileira na USP, Alfredo Bosi, Ecléa Bosi escreveu, dentre outros, um livro interessantíssimo e repleto de histórias tocantes: Memória & Sociedade: lembranças de velhos (1994),  considerado fundamental para a compreensão da formação operária e da história do trabalho no Brasil. Para a autora, os velhos servem para lembrar e lembrar bem, pois representam a memória de uma sociedade. Seu livro deu voz aos idosos e mostrou não um discurso pronto da autora, mas o discurso dos próprios personagens, sobre o tempo, a vida, o trabalho e a história. Uma leitura deliciosa e sensível. 
Nestes nossos tempos estranhos em que muitos ignoram, quando não desprezam, o conhecimento dos mais idosos, é tempo de fazer ver aos mais jovens que, amanhã, serão eles a ocupar o lugar daqueles velhos.  Perceberão, então na prática, que os idosos só querem ser ouvidos e amados, porque ao contarem suas lembranças, ao encontrarem ressonância e perceberem ouvidos atentos e olhares amorosos, mais do que lembrar fatos de um passado distante, os idosos acabam revivendo sentimentos e emoções, ajudando a movimentar não só a própria memória, mas também a memória social.Tais personagens merecem respeito, amor, carinho, porque também já foram jovens, sonharam, trabalharam e ajudaram a construir a sociedade. Fica a dica de leitura desse profundo e lindo livro.   

Mais uma grande perda para todos: ex-alunos, colegas, professores, trabalhadores, estudantes e brasileiros. 
 Referências:

2 comentários:

  1. Ganhei de minha irmã Marcia, há cerca de 17 anos, o livro Retratos de Família da Exlea Bosi. Tive, também o privilégio de ter aulas, na FFCL da USP, de Literatura Brasileira com o Professor Alfredo Bosi, de quem guardo um livro importante na minha formação : O Ser e o Tempo na Poesia. São personalidades fundantes, pilares da nossa sociedade, que estão indo, um a um, para não sabemos onde, deixando atrás de si os escombros da ruína que estamos presenciando , inertes, acontecer.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é Maria Alice, também sinto isso! Para onde estamos caminhando? Como formiguinhas, fazemos a nossa parte, mas nem chega aos pés da ação desses pilares que vc mencionou...
      Beijos e obrigada pela visita...
      Anita

      Excluir