quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Ecos Literários | A garota das laranjas

Jostein Gaarder (1952) é professor de filosofia e brilhante escritor norueguês. O primeiro livro que li de sua lavra foi O mundo de Sofia, de grande ajuda para aprender, de forma lúdica, a matéria que o autor ensina. Na época, eu já cursava Arquitetura e Urbanismo, mas o livro me ajudou a querer me aprofundar nessa área. Depois, acabei prestando vestibular para Filosofia na USP; entrei, adorei o que aprendi lá, mas tive que deixar o curso antes de terminá-lo. 
De qualquer forma, sempre achei que a leitura poderia ajudar o leigo a conhecer melhor e compreender, mais facilmente, os conceitos discutidos e defendidos pelos filósofos, já que o autor usava metáforas e analogias bem eficientes para isso. Afinal, filosofia nunca foi assunto de se discutir na mesa de bar, certo? Ou é?

Em O mundo de Sofia, a garota do título, prestes a completar 15 anos, começa a receber cartas, bilhetes e postais estranhos com perguntas filosóficas. A cada bilhete o leitor fica mais envolvido e, em paralelo à trama, vai percorrendo a história da filosofia ocidental. 
Pois bem, depois de O mundo de Sofia, li o O Dia do Curinga, livro que narrava a saga do garoto Hans-Thomas e seu pai ao cruzarem a Europa, da Noruega à Grécia, à procura de Anita, a mãe e a esposa que partira anos antes. O relato é perpassado por histórias filosóficas, mitos, sagas e cartas de baralho que transformam a viagem do garoto. Mais do que qualquer coisa, trata-se de uma viagem de autoconhecimento. Fiquei encantada com a leitura e guardei o livro com carinho, para relê-lo, mas acabei emprestando-o a alguém. Nunca mais o vi. Espero que esse alguém tenha gostado do livro tanto quanto eu.   
 
Tempos depois, caiu-me nas mãos outro livro dele: A garota das Laranjas, traduzido pelo colega tradutor Luis Antônio de Araújo. É um livro ágil, gostoso de se ler, que prende o leitor e o incita a ir adiante. Georg Roed tem 14 anos e, do nada, recebe uma carta de seu pai, falecido havia 11 anos. O fato é que a carta estivera perdida no forro de um carrinho de bebê, guardado no sótão da casa dos avós. Todos se entreolham quando o jovem se tranca no quarto para ler a tal carta que falava de uma certa garota das laranjas. Ele se surpreende, questiona a atitude do pai, chora, se emociona, fica com raiva, pondera, reflete e, por fim... 
 
Não, não vou contar o final do livro. Vale a pena a leitura. É um livro pequeno, mas impactante com o tom singelo, filosófico e delicado de Gaarder que, como em todas as suas obras, reflete sobre temas fundamentais ao ser humano como a vida, a morte, a existência e o universo.

Livro: A Garota das Laranjas
Jostein Gaarder. 
Trad. Luis Antônio de Araújo
Cia das Letras, 2005.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Ecos Urbanos | Terminal de Cruzeiros


Terminal de Cruzeiro de Leixões. Foto: Anita Di Marco, out.2018.

Uma das coisas fantásticas de viajar é que que você conhece in loco algumas obras só vistas antes em livros e revistas. Numa dessas viagens, fiquei encantada com o Terminal de Cruzeiros de Leixões, em Matosinhos, na região da cidade do Porto em Portugal. O projeto do terminal, inaugurado em 2015, é de autoria do arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura do Porto (FAUP), Luís Pedro Silva. Executada a pedido da APDL - Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, SA (+ Universidade do Porto), a obra de 17.500 m2 tinha dois objetivos principais: melhorar a eficácia comercial do porto, associada à atividade dos cruzeiros, e integrar a área portuária a Matosinhos.  
 

   Localizado a menos de um quilômetro do distrito de Matosinhos e a cerca de 10 km da Ribeira do Porto, o terminal é o ponto de união entre as três principais funções do complexo:  cais de navios de cruzeiro, porto para embarcações de recreio e o novo arruamento de acesso à cidade. Além das salas de embarque/ desembarque, serviços de apoio aos navegantes de recreio, restaurante e estacionamento, abriga o Polo de Mar e de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, e a sede do CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha da Universidade do Porto, bem como várias unidades de pesquisa na área marítima (da Biologia à Robótica).  
Terminal de Cruzeiros. Imagem: https://www.apdl.pt
Uma rampa helicoidal integra todas as funções internas em um espaço de pé-direito quádruplo. A fachada revestida por cerca de um milhão de azulejos brancos fabricados pela Vista Alegre, as linhas curvas e a estrutura em espiral atraem o olhar de quem chega de navio, ou de quem percorre a avenida beira-mar, em Matosinhos. O branco, as ondulações e as nuances da luz, ao longo do dia, reforçam a direção do olhar.
Mais informações e agenda de visitas:  cruise.porto@apdl.pt 

Referências:
https://www.apdl.pt/terminal-passageiros-sul

domingo, 9 de dezembro de 2018

Ecos Imateriais | A respeito do satsanga


Escultura: https://www.formascoloridas.com.br/
Satsang é termo sânscrito que significa encontro de comunidades com SAT (a origem, o Ser, a Verdade), ou seja, um grupo que caminha junto em busca da Verdade (Sathya). É uma forma de se reconectar com a essência, de manter o objetivo, de voltar-se para a fonte (a consciência original), já que somos filhas e filhos desconectados da nossa origem. Ao longo da vida e cada um a seu tempo, todos podem chegar a compreender que nada está separado do Todo; que tudo que existe é a Consciência Indivisível e Ilimitada e que nós somos essa consciência: SAT. Assim, evoluir é tomar consciência de que somos parte do Todo, do UNO indivisível, somos SAT, somos UM. 

Satsanga 2017. Foto: Anita Di Marco
A meditação nos ajuda nesse mergulho em direção à essência, mas os satsangas são momentos importantes porque servem para ratificar nosso caminho e nossas escolhas, além de recarregar nossas baterias. Quanto estamos juntos, há um estímulo recíproco para continuar na busca da ação correta, apesar das circunstâncias. 

Os satsangas podem conter cânticos, mantras, kirtans, diálogos, concentração e meditação e, por trás disso está a ideia de despertar Bhakti, a energia do coração, da devoção e do amor, no seu sentido mais puro e profundo. Isso ajuda a aguçar o discernimento (viveka em sânscrito), que é a capacidade de discernir o irreal do Real, o impermanente do Eterno, a mentira da Verdade) e nos ajuda nessa reconexão com a nossa melhor parte.

O teólogo Leonardo Boff (1938), em sua sempre atual trilogia, Virtudes para um outro mundo possível (Petrópolis: Vozes, 2006), salienta três virtudes como base de um convívio humano saudável e enriquecedor para criar uma cultura de paz, não violência e devoção ativa. São elas: hospitalidade, convivência e o comer e beber juntosCada uma tem efeitos profundos que se ramificam:
- A hospitalidade leva à acolhida, à cordialidade, à amorosidade; 
- A convivência leva à tolerância, ao respeito ao outro e ao diferente;
- O comer e beber juntos leva à solidariedade pela sacralidade da partilha e da comunhão.
Nossos satsangas visam celebrar a Vida, lembrar e alcançar tudo isso. Para tanto, os preparativos também recebem cuidado, atenção e afeto: na escolha do tema, da mensagem e dos mantras, na organização do espaço, das frutas e flores, sempre buscando sacralizar nossas ações, celebrar e agradecer à Vida. 
Esperamos que cada participante traga o mesmo empenho e atitude. Afinal, tudo flui melhor quando o indivíduo toma consciência da necessidade de fazer sempre o seu melhor e de se colocar por inteiro em cada ação, em qualquer lugar e em qualquer momento.  
Namastê!  
Espaço DHARMA de Yoga | Recanto da Serenidade
Satsanga de encerramento 2018
Quando: Quinta-feira, 19 dez. 2018, às 18h15
Onde: Lá na Kaká. Varginha- MG.
Recomendações: se puder, use branco e traga flores e frutas secas ou frescas.
 

sábado, 1 de dezembro de 2018

Ecos Culturais | A arte diz Presente!


As figuras de Rob Heard. https://www.bbc.com/news/uk-england-london-46125068
 A Arte sempre se colocou a serviço da sociedade: como representação, como denúncia, como protesto, como ato de solidariedade. Aqui no Anita Plural já publiquei vários posts de obras de artistas ativistas, entre elas a do chinês Weiwei, denunciando as formas desumanas de tratar imigrantes (aqui).
Na semana de 08 a 18 de novembro de 2018, em Londres, ainda dentro das comemorações para celebrar o centenário do final da Primeira guerra Mundial, a arte se fez novamente presente e atuante.Trata-se da instalação Shrouds of the Somme (Mortalhas de Somme) do artista Rob Heard, que passou os últimos cinco anos criando manualmente cada uma das mais de 72.000 figuras, com cerca de 30 centímetros cada, dispostas no Parque Olímpico de Londres, para que as as famílias de soldados mortos na Batalha de Somme, uma das mais sangrentas da primeira guerra, pudessem, de alguma forma, “recuperar” os corpos de seus queridos. As famílias dos soldados foram convidadas a comparecer e adquirir as figuras, que cobriram uma área de 1200 metros quadrados de 8 a 18 de novembro de 2018.
Rob Heard e a Torre Orbital. Imagem: https://www.bbc.com/news/uk-england-london.
Outra obra de arte foi pano de fundo para a tocante instalação. Trata-se de um dos mais conhecidos trabalhos de outro inovador artista, o escultor Anish Kapoor (Bombaim, 1954), cujas obras estreitam os limites entre arte e arquitetura e exploram elementos opostos (vida-morte, luz-escuridão, terra-céu, matéria-espírito, vísivel-invísivel, masculino-feminino, corpo-mente). A instalação de Heard foi feita aos pés da obra mais conhecida de Kapoor: a Orbital, torre circular, inclinada e torcida (ou The ArcelorMittal Orbit Tower), instalada e construída para marcar a realização dos jogos olímpicos de 2012, em Londres. Selecionada em concurso público em 2009, a peça de aço pesa 1.400 toneladas, tem 115 metros de altura (22 metros mais alta que a Estátua da Liberdade) e carrega o título de obra pública mais alta da Grã-Bretanha.
É admirável e um privilégio perceber como a arte surge, se transforma e atua no nosso mundo.
  
References:
https://www.bbc.com/news/uk-england-london-46125068
https://www.shroudsofthesomme.com/