quinta-feira, 3 de maio de 2018

Ecos Linguísticos | Questão de precisão e inclusão

Imagem: http://pessoascomdeficiencia.com.br

Há dias, quando trabalhava em uma de minhas traduções e revisões, encontrei o tal “portadores de necessidades especiais”. Ooops, pensei! O termo não é mais utilizado e, na busca por me certificar do um uso mais preciso da questão termos, acabei achando um texto engraçadíssimo que transcrevo abaixo.  Acho que depois de lê-lo, ninguém vai se esquecer de como se referir corretamente às pessoas com deficiência, sempre colocando a pessoa, em primeiro lugar. Morri de rir e quis compartilhá-lo, com autorização do autor. O texto é do Ricardo de Melo, editor do blog O ampliador de ideias (http://oampliadordeideias.com.br/author/oampliador/). 


O correto é: portador de deficiência, portador de necessidades especiais ou pessoa com deficiência?
Aviso: Esse artigo foge um pouco da proposta do site, que é tratar de informática acessível e tecnologias assistivas, mas por ser um tema abrangente e causar interesse nas pessoas de modo geral, resolvi publicá-lo aqui.

Muitas pessoas ficam confusas na hora de usar uma terminologia para identificar um deficiente, seja qual for a deficiência. Com o passar do tempo surgem terminologias tidas como “corretas”, ao passo que outras são abandonadas com o argumento de politicamente incorretas. Afinal, qual termo é correto e por quê?
Tentarei responder, mas quero deixar bem claro que tal resposta é extremamente pessoal e baseada na minha experiência como deficiente visual. Deixo o espaço dos comentários para você, caro amigo internauta, registrar sua opinião.

Portador de Deficiência

O argumento a seguir, já foi citado em muitos lugares e situações, que é: Eu não porto minha deficiência como uma carteira ou uma chave. Eu não tenho a opção de deixá-la em casa. Quando saio de casa, verifico se minhas chaves estão no bolso, se estou levando meu cartão de transporte público, meu óculos escuro e meu celular. Se eu portasse minha deficiência, eu provavelmente a esqueceria debaixo das almofadas da sala, de propósito.
Imagine a situação…
Você ceguinho, sai de casa e no meio do caminho fica olhando para aquela mulher loira, “simpática de corpo” e de vestido vermelho, só então percebe que está enxergando e que esqueceu sua cegueira em casa.
“Putz, esqueci minha deficiência na mesa de casa, recarregando a bateria!”
Aí não dá! Se eu portasse minha deficiência visual, faria questão de esquecê-la no porão ou deixá-la cair no chão e quebrar.
Pléfiti! Ih, foi mal aí, eu não tinha visto minha deficiência na beira da mesa!”

Portador de Necessidades Especiais

Essa pra mim é a pior de todas! Além de você ter que “portar”, o negócio ainda por cima é especial. O único Portador de Necessidades Especiais que conheço é o Lex Luthor, arqui-inimigo do Super-Homem. Pense comigo: O cara para poder realizar todas as suas malvadezas precisa andar com uma pedra de Kryptonita no bolso (altamente cancerígena), para poder usá-la contra o Homem de Aço.
O prefeito dessa cidade, Metrópole, é outro com necessidades especiais. Imagina você ter que reconstruir metade da cidade, quase que diariamente, só porque o Super resolveu “salvá-la” do ataque de seres de outros planetas.
Agora, se você não sabe quem é Superman, sua necessidade especial do momento é deixar de ser alienado, meu querido.
Necessidade Especial para mim é ter que tomar um copo de ácido sulfúrico todo dia pela manhã, por recomendação médica, é claro! Portador de Necessidade Especial então é ter que levar um alienígena com um mini canhão de plasma orbitrónico (seja lá o que isso quer dizer!) no bolso traseiro da calça.

Deficiente Total

Nós, os deficientes visuais, somos classificados (vamos por assim dizer) de duas formas: Deficiente Visual Total, conhecido como cego e Deficiente Visual Parcial, conhecido como baixa visão. E é na hora de tentar diferenciar o cego do baixa visão, que surgem os Deficientes Totais. Ouço diariamente frases do tipo:
“Ah, Fulano é Deficiente Total!”, “Eu sou Deficiente Total!” ou mais estranho ainda “Ele é Total!”
Levando pelo lado do bom humor, não vejo problema nessas afirmações, mas cá entre nós, se formos levar ao pé da letra, ser Deficiente Total deve ser uma droga, não é mesmo?
Imagina levar nas costas o peso de todas as deficiências, não só as físicas, mas também as mentais, atitudinais, sociais e culturais? Isso é, se suas costas estiverem boas!
Imagina não ser eficiente no que você for fazer? Eu ficaria extremamente desmotivado em viver. Iria me jogar da ponte tentando me matar, e provavelmente, iria fracassar ferozmente, pelo fato de ser um deficiente total, ou seja, tudo que eu fosse fazer não seria bom e eficiente o bastante para ser concretizado.

Pessoa com Deficiência

De cara, afirmo que esse termo me agrada mais. Aqui, enfim eu não porto nada, nem nada é especial e muito menos sou um fracassado total. Simples, objetivo e sem colocar minha deficiência na frente do meu caráter, da minha personalidade.
Pessoa com deficiência, ou PCD como alguns dizem, é o mesmo que dizer: rosto com espinhas, carro com freio ABS, policial com arma e político com dinheiro na cueca.
E o melhor de tudo, é que pessoa com deficiência não restringe ninguém, afinal todos temos algum tipo de deficiência. Ninguém é eficiente completamente, ninguém é perfeito, ninguém sabe tudo.
Eu por exemplo, além de deficiente visual, sou deficiente monetário, deficiente de status social, e nesse momento, deficiente de ideias legais para terminar esse artigo.

Referências:
http://pessoascomdeficiencia.com.br

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