terça-feira, 11 de junho de 2019

Ecos Urbanos | Arte no espaço público



Painel de Tomie Othake, SP. 1988. Divulgação
Além dos grandes grafites, stickers, paineis, pinturas murais e esculturas, outros tipos de intervenção e obras de arte de grande porte têm feito a alegria de artistas, moradores e turistas em várias partes do mundo. Trabalhando com o elemento surpresa, tais instalações fazem, ao menos, o indivíduo interromper sua rotina para sorrir, contemplar, admirar ou questionar aquela obra. Ou seja, surpreende.
Para não esquecer ninguém, cito apenas três deles: Tomie Othake (1913-2015), com seus enormes painéis, Eduardo Kobra 1975) e o casal Christo (1935)-Jeanne-Claude (1935-2009)
E. Kobra. Chico e Suassuna, SP. Foto: Anita Di Marco
Pintora, ceramista e escultora, Tomie produziu obras urbanas de grandes dimensões, como o primeiro painel de São Paulo, no Edifício Santa Mônica, acima, e a escultura no canteiro central da Avenida 23 de Maio, só para citar duas delas. Já, nosso grande muralista brasileiro, Eduardo Kobra, proveniente da zona Sul da cidade de São Paulo, tem belos painéis no mundo todo, divulgando sua arte e suas ideias de união, paz e solidariedade.
Pont Neuf, em Paris. Divulgação.
O casal de artistas é formado pelo búlgaro Christo (1935) e sua esposa, a marroquina Jeanne-Claude. Desde a década de 1960, eles têm espalhado enormes instalações no mundo todo. Suas propostas mais ousadas e conhecidas consistiam em embrulhar edificações históricas, como o Reichstag (Parlamento Alemão) em Berlim (1995), a Pont Neuf em Paris (1985), o Museu Kunsthalle em Berna (1967-68), e criar passarelas ou plataformas  flutuantes que ligam ou  circundam ilhas, como em Miami (1983) ou na Itália (2016).  

RJ. Celso da Silva/Alexandre Cardoso. Divulgação
Porém, sem dúvida, uma das mais simpáticas, bem-sucedidas e divertidas manifestações de arte pública é a “Cow Parade” (Desfile das Vacas). A ideia nasceu em 1998, em Zurique, quando o artista suíço Pascal Knapp produziu, em uma proposta lúdica, diversas esculturas em formato de vaca. Em 2000, a norte-americana Cow Parade Holding Icn comprou os direitos das esculturas e, desde então, as coloridas vaquinhas já passaram por mais de cem cidades, sempre surpreendendo e divertindo. 

Cow Parade. Imagem: Divulgação
Quando uma delas, em fibra de vidro e tamanho natural, aparece bem à nossa frente, estilizada, pintada, com flores, listras, óculos escuros, chapéu ou boina, sorrir é inevitável. Em cada nova cidade, artistas locais são chamados para pintar as peças. Depois da mostra, sempre em lugares de grande acesso público, as peças são leiloadas e a quantia arrecadada é destinada a programas sociais. 

Mark Jenkins. Imagem: Divulgação
Outra interessante forma de intervenção é algo estranho, mas cumpre o papel da arte. É aquela que provoca sensação de perplexidade no observador, como se algo estivesse fora do lugar. Uma imagem surreal, em meio às situações absurdas que já enfrentamos no cotidiano, mas que passam despercebidas. Um exemplo é a obra do estaduninense Mark Jenkins (1970) a espalhar seus manequins pelo mundo, em posições divertidas e inesperadas.
SPaulo. Foto: Anita Di Marco

Arte quentinha e envolvente. Fios de lã, de linha ou barbante envolvendo árvores, postes, pilares e colunas também são obras cujo objetivo é tirar o observador de sua zona de conforto. Talvez, de uma forma diferente, agradável e aconchegante, remetendo às tradições populares de nossas avós crocheteiras. Em São Paulo e Minas, claro, é bem comum ver esse tipo de arte com os fios trançados das conhecidas técnicas de crochê, tricô ou macramê. Com certeza, o frio passa longe desses objetos... Dá vontade de tocar, sentir a textura e o calor... Literalmente, arte que envolve. 
 
  Céu de Guarda-chuva, Penedo, RJ. 
Foto: Helena Di Marco
 Céu de Guarda-chuva, Penedo, RJ.
 Foto: Helena Di Marco
Chamada Céu de Guarda-chuvas, a instalação ao lado é bem conhecida e divulgada.  A cada ano, colore as ruas de Águeda, Portugal, durante o festival de artes da cidade. Já repetida em muitos outros lugares, é sucesso garantido para olhos e almas. As fotos ao lado são recentes, de junho de 2019, na cidade de Penedo, Rio de Janeiro.

Outro exemplo inusitado ocorreu há não muito tempo. O artista paulistano Eduardo Sur (1974), com imensas garrafas pet nas margens do rio Tietê, na capital paulista, denunciava a poluição e chamava a atenção para o não aproveitamento de nossos rios.  

Garrafas Pet... Eduardo Sur. Imagem: Divulgação
Estátuas vivas, situações surreais e obras de grandes dimensões, ainda quando temporárias, têm surgido pelo mundo e provam ser a nova proposta para criar interação e movimento cultural nos centros urbanos. Além do aspecto lúdico e interativo, provado pela troca quase imediata com o público real ou virtual, todas têm em comum o propósito da Arte: desejo de instigar, despertar emoções e provocar reflexões. Mas, sobretudo, o que as identifica e une é seu caráter democrático. É Arte, criação, engenhosidade... bem diante de nossos olhos para fazer refletir e questionar.

Afinal, em um mundo cercado por novas tecnologias e redes sociais, por violência e dogmatismo, essas obras já nascem prontas para serem vistas, contempladas e vivenciadas, sem ingressos exorbitantes, sem filas, sem espera, sem exclusão. Espalhadas pelas grandes cidades, demonstram que os espaços públicos podem, sim, ser mais alegres e acolhedores. Representam um elo de ligação entre arte e arquitetura, entre instalação e espaço urbano, permitindo que os cidadãos se apropriem daquele espaço e de suas obras. A grande maioria tem vida curta, é verdade, mas uma vida bem rica, movimentada e divertida. Para a obra de arte, isso basta. Para os artistas criadores das obras, o mundo é um imenso museu, um cenário a céu aberto para exposição de seus trabalhos. Afinal, a vida também é uma arte...

7 comentários:

  1. Muito bom, Anita!
    As vacas em sp eram lindas mesmo.
    Aqui em frente da etec Carandiru foram pintados os pilares do metrô .
    Intervenção dos aluNos, pelo que nos consta.

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    1. Olá, não se esqueça de deixar seu nome, porque senão não identifico de quem é o comentário. Nos pilares que sustentam os trilhos do metrô em São Paulo, na Av. Cruzeiro do Sul, as intervenções são de artistas de rua, pichadores e grafiteiros que fazem parte do Museu de Arte Pública de São Paulo. São icônicas também... Obrigada por participar.
      Abraços
      Anita

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  2. Bom ser amiga de gente culta...Muito interessante ,Anita. Parabéns. Bjs
    Ione

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    1. Menos, muito menos, querida.... mas obrigada por estar sempre presente. bjs
      Anita

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  3. Muito bom Anitinha o texto e o conteúdo expressivo de várias esculturas e suas representatividade.Parabéns!

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    1. Bebel, querida! Não se esqueça de assinar. Sei que é você por causa do "Anitinha". Amo essas expressões artísticas tão democráticas...
      beijos
      Anita

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  4. Parabéns Anita! Expressar em palavras as obras de arte não é para qualquer um...rs

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