domingo, 17 de novembro de 2019

Ecos Imateriais | Autoconhecimento

"Conheça-te a ti mesmo" era a frase inscrita na entrada do Templo de Apolo, em Delfos, na Grécia. A partir dela, Sócrates desenvolveu seu método de autoconhecimento, base de qualquer trabalho sobre si mesmo. O objetivo? Buscar a verdade, a essência e as potencialidades de cada um. 
Hoje fala-se muito em pensamento positivo e meritocracia, mas isso só vale se fundado no autoconhecimento real, na autoestima e, é claro, na igualdade de oportunidades. Diante de um copo com água pela metade, não basta dizer que ele está meio cheio. A visão dita "otimista" dos fatos vem de uma forma de perceber-se e enxergar a vida, os acontecimentos e as responsabilidades. 

Antes de qualquer coisa, é preciso tomar consciência da nossa capacidade de enfrentar situações desagradáveis e modificá-las; consciência de que tudo passa, já que tudo é impermanente ou, como diz o velho dito popular, "Não há mal que sempre dure, nem há bem que nunca se acabe! Mas isso não significa parar de se indignar, pelo contrário, a ação é importante, não a reação. Ou seja, não é saudável nem inteligente permitir-se ser afetado pelo exterior. Yoga e meditação são técnicas que ensinam, entre outras coisas, como proteger-se mantendo o equilíbrio interior e a resiliência. Na física, resiliência é a propriedade de um corpo voltar à forma original depois de sofrer pressão. Isso também vale para nós. É preciso ser resiliente, mas não conformista; e, como tudo, a conquista desse processo começa com o autoconhecimento.
Há algumas qualidades essenciais para empreender essa jornada em busca da compreensão de si mesmo. Sim, porque o autoconhecimento é uma viagem para dentro, é um processo árduo de dobra, introspecção e autodescoberta das nossas capacidades e possibilidades latentes, mas também das sombras e daquilo que negamos em nós. Em qualquer técnica ou escola, a quietude é o pré-requisito para  percorrer o caminho do autoconhecimento. Aquiete a mente e silencie os pensamentos. Depois, prossiga com coragem, determinação, honestidade e humildade.

Coragem. Fundamental, já que a tendência geral do ser humano é não ver sua real condição, é suavizar o olhar em relação às próprias faltas e  endurecer quando se trata dos outros. É preciso coragem para enfrentar os monstros que existem dentro de nós e que escondemos tão bem.

Determinação. Sem um efetivo  comprometimento, as decisões são sempre adiadas: amanhã, domingo, quando der tempo, nas férias... Determinação é ingrediente vital para um profundo exame de consciência, para enfrentar e analisar com isenção cada gesto, emoção e pensamento.

Honestidade. Somos especialistas em dourar a pílula, dar desculpas, adiar decisões e justificar atitudes. No Sadhana Pada (O Caminho da Prática), segundo livro do Yoga-Sutra de Patanjali, essa falta de honestidade fere o segundo niyama, Satya, o compromisso com a verdade, pois, por mais que tentem justificar, uma meia verdade será sempre uma mentira inteira.

Humildade. Altas doses de humildade são essenciais, porque, para alguém que se acredita infalível, é doloroso perceber-se não tão perfeito. Sem humildade, porém, não há progresso na senda do autoconhecimento. Humildade é reconhecer o quanto ainda é preciso aprender, aceitar que o caminho é longo, mas já foi iniciado. Afinal, como diz a música do inesquecível Gonzaguinha, somos todos eternos aprendizes.

Pouco a pouco, com a prática constante e consciente da meditação e da auto-observação, é possível tirar a venda dos nossos olhos, a máscara que usamos para esconder nossa real feição e abrir espaço para uma efetiva transformação. A prática, portanto, nos torna mais equilibrados, mais fortes, mais lúcidos no dia a dia; então, queremos meditar mais, ou seja, a prática nos retroalimenta. Mas, sem coragem, determinação, honestidade e humildade, nenhuma autodescoberta acontece, muito menos autotransformação. 
Quando nos transformamos, passamos a cuidar mais de nós e dos outros, a usar mais o discernimento, a própria força interior, a empatia e a compaixão no dia a dia. Sem autoconhecimento, não existe evolução possível, porque, afinal, estamos aqui para isso, e evoluir é  aprender a amar, somar e incluir. Simples assim!  

Referências:
Yoga-Sutras de Patanjali. 

12 comentários:

  1. Acabo de ler esse seu belo texto, Anita! São palavras a que a gente deve sempre revisitar e relembrar...

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    1. Obrigada, Valquíria. Para ficar na cabeceira e no mural diante de nossos olhos, né? Diariamente. Trabalho difícil, mas essencial. Beijos, querida e obrigada por estar sempre aqui...

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  2. Parabéns, amiga!!!! texto maravilhoso!!! você foi lindamente inspirada para escrevê-lo.

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    1. Que bom que gostou, Denise! é o que o yoga nos ensina, né? beijos e volte sempre

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  3. Amei o texto Anita. A frase do Socrates: "Só sei que nada sei" é uma das que mais me norteia no dia a dia e me mantem sempre com os pés no chão. Alimentando a verdadeira humildade que é se portar como um eterno aprendiz, com o desejo de melhorar e evoluir sempre!

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    1. Quanta honra ter você aqui, obrigada.
      Mas é isso aí, Isaías, aprendendo a cada dia. Fácil não é, mas é preciso, é o único jeito de crescer. Grande abraço e volte sempre.

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    1. Que honra, Ju, você aqui!
      Obrigada, querida. Que isso nos inspire sempre a crescer.. beijo

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  5. Adorei Anita! Muita sabedoria neste texto!

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    1. Obrigada, a gente não pode esquecer nunca disso tudo, né? Da próxima vez, assine seu nome, mas obrigada, mesmo assim. Volte sempre. Abraços

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  6. Adorei. Vou ler de novo e de novo. Sempre. Parabéns. Bjs
    Ione

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    1. Obrigada, Ione. Todos nós temos que ler e reler, até aprender. beijos

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