Minha infância foi povoada de brincadeiras em casa e na rua (quando a gente podia brincar de esconde-esconde e pega-pega na rua), cantigas de roda, música e também livros - muitos livros, livrinhos e livrões: desde o inesquecível (e nunca mais encontrado) Bitu, o Carneirinho Sujo, aos contos de fada dos Irmãos Grimm, de Hans Christian Andersen, aos fantásticos livros de Monteiro Lobato, às revistinhas do Recruta Zero e do Saci Pererê.... Aliás, se minha paixão pela Grécia e por mitologia foi despertada pelos livros de Monteiro Lobato, em especial Os Doze Trabalhos de Hércules, a Turma do Pererê influenciou decisivamente meu interesse pelo nosso folclore, nossas raízes e nossas tradições culturais.
Obra-prima do premiado cartunista, jornalista, cronista e escritor mineiro de Caratinga Ziraldo Alves Pinto (1932), a primeira história em quadrinhos, colorida e genuinamente brasileira, Pererê, chegou às bancas em 1960, com personagens também bem brasileiros, mas saiu de cena em 1964, depois de 43 edições, suspensa pela ditadura militar (sem comentários). Tempos depois, novos números foram publicados, mas por pouco tempo. Mais tarde, virou livro de capa dura (um tesouro que guardo até hoje) e, por fim, saiu de cena (uma pena!).
Aprendi muito com os personagens da Turma do Pererê,
que habitavam a Mata do Fundão (ou seria Floresta da Tijuca?). Até hoje
lembro-me com alegria de todos eles, cada um
com uma característica distintiva única, mas com algo em comum: todos prezavam, acima de tudo, a amizade, a lealdade e a solidariedade. Relembrando:
Saci Pererê, personagem principal, com seus inconfundíveis cachimbo e boné vermelho, aparecia e desaparecia em seu redemoinho;
Tininim, inseparável amigo índio do Saci;
Boneca de Piche, namorada do Saci e amiga da Tuiuiú, era filha de dona Docelina, doceira de mão cheia e mãe adotiva do Saci;
Tuiuiú, uma linda indiazinha que morava na cidade e namorada do Tininim;
Moacir, valente, discreto e eficientíssimo carteiro da Mata do Fundão, e seu indefectível capacete com asinhas de Mercúrio;
Pedro Vieira, o tatu, amigo, ajuizado e atencioso;
Geraldinho, o agitadíssimo coelhinho de longas orelhas;
Galileu, a doce e gentil onça-pintada, objeto de desejo dos fazendeiros locais;
Allan, o macaco comedido, gentil e maduro;
General Nogueira, a coruja sabe-tudo, que resolvia as pendengas da turma.
Outros personagens eram os fazendeiros Compadre Tonico e Seo Neném, que viviam querendo caçar o coitado do Galileu...
Uma delícia ler, rir junto, aprender e me lembrar dessas histórias. Até hoje, é inevitável, cada vez que escuto um desses nomes, a primeira coisa que me vem à cabeça é a danada turma da Mata do Fundão... Mais tarde, além de ser um dos fundadores do jornal O Pasquim, Ziraldo lançou Flicts (maravilhoso), O menino Maluquinho (fenômeno editorial), O Planeta Lilás, A professora Maluquinha, entre muitos outros livros, ganhou prêmios e medalhas, mas a Turma do Pererê foi um marco.
Valeu, querido Ziraldo, você nem imagina quanto!
Referências e imagens:
http://www.pinturasemtela.com.br/ziraldo-alves-pinto-cartunista-caricaturista-e-pintor-brasileiro/
https://revistaalienum.wordpress.com/2014/11/23/entrevista-com-saci/
http://eraumavezuem.blogspot.com.br/2012/11/perere-de-ziraldo-o-quadrinhos-pioneiro.html