quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Ecos Plurais | Anita Plural: SP, Roma, Varginha

Como diz o nome deste blog, sou plural, eclética e multifacetada, e começo 2021 falando um pouco do meu percurso. Filha (paulistaníssima) de São Paulo, minha primeira casa, cresci em Santana, bairro com 100.000 habitantes na Zona Norte da capital paulista. Estudei do jardim da infância até a sétima série no Colégio Santana, escola confessional até hoje existente no bairro. Fiz a oitava série e o científico no Colégio Estadual Dr. Octávio Mendes–CEDOM, na época, uma das escolas públicas de ensino fundamental e médio de qualidade. Sim, a escola pública era de qualidade. Entrei na Universidade de São Paulo, cursei Arquitetura e Urbanismo (1972-76), um ano de filosofia pura na famosa FFLCH-USP (1979) e, um pouco mais tarde, o curso de formação de professores de yoga no Centro de Estudos de Yoga Narayana. 

Logo comecei a trabalhar com patrimônio histórico na prefeitura de São Paulo e, cinco anos depois, no segundo semestre de 1981, ganhei uma bolsa de estudos para um curso de especialização em Preservação do Patrimônio Arquitetônico, no Iccrom, escola vinculada à Unesco, em Roma. E lá fui eu para minha segunda casa, Roma. Depois, voltei a São Paulo, trabalhei mais um pouco e, no início de 1988, cheguei a Varginha, Sul de Minas, minha terceira casa, onde fiz Letras (Inglês). 

Como podem ver, sempre gostei de estudar.  A seguir, conto a última parte dessa história, depois que voltei de Roma. (1)

Projeto 65. Estrutura em terra em Tiahuanaco, Bolívia(1981). Foto: Anita Di Marco.

Cheguei a São Paulo, vinda de Roma, em agosto de 1982 e logo fui convidada pela arquiteta Ruth Verde Zein e pelo editor da revista Projeto, Vicente Wissenbach, até hoje grandes amigos, a escrever um artigo sobre “Arquitetura de Terra”, tema da minha monografia no recém-concluído curso de especialização. Tratava-se da Projeto, a única revista de arquitetura da época e referência na área. Até hoje, conservo grande número de edições da revista, sobretudo as antigas. Aceitei o desafio e não parei mais. Cheguei a assumir uma coluna mensal, Revistas & Revista, na qual comentava notícias, planos, livros, projetos e restaurações de arquitetos do mundo todo, depois de viajar nas páginas das revistas internacionais que chegavam à redação. Aos poucos, aos escritos de minha autoria - artigos, críticas, entrevistas, resenhas e notas - acrescentei as traduções, o que me levou a fazer um curso de Especialização em Tradução, no Rio de Janeiro. Quando me mudei para Varginha, a tradução aliou-se, definitivamente, às minhas atividades profissionais. 

Bem, como já disse em algum lugar, minha mãe é mineira de Uberlândia, onde morou por pouco tempo; logo foi para Araguari e, aos 10 anos, para São Paulo, onde permanece até hoje. Fiz o caminho inverso. Nascida em Sampa, saí de lá já com uma vida profissional estabelecida e vim para o Sul de Minas, com um filho da terra, o jornalista RSA, e nossos filhos, Lucas e Júlia, ainda pequenos. Depois de crescerem aqui, ambos estão hoje de volta à metrópole paulista, onde nasceram. 

Caixa d'água de Varginha. Foto: Anita Di Marco

 Ao chegar a Varginha, no início de 1988, continuei com minhas atividades como articulista e tradutora para a Projeto e, ocasionalmente, viajava para cobrir congressos e outros eventos. Logo comecei a dar aulas de yoga na Academia Marlene Paiva (onde permaneci por 13 anos até abrir o Espaço DHARMA de Yoga, ativo até hoje) e de inglês, nas escolas de línguas Number One e Friends Idiomas. Trabalhei por pouco tempo no serviço público municipal de Varginha, nas secretarias do Bem-estar Social e do Planejamento, basicamente, com o Plano Diretor e com a área de patrimônio histórico e cultural. Paralelamente, continuava a colaborar com a revista Projeto. Com a venda da publicação e a mudança do diretor, no final dos anos 90, acabei deixando a revista, mas mantive os amigos. 

Além disso, mesmo depois de deixar a prefeitura, continuei ativa como membro do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Varginha, com o qual colaborei por quase dez anos em períodos alternados, com participação e organização de eventos, exposições, palestras ou seminários. Nesse meio tempo, lancei dois livros sobre a Sala São Paulo de Concertos (2000), em coautoria com Ruth Verde Zein. Por cerca de dois anos, também fui instrutora voluntária de yoga para jovens carentes, dentro do Projeto Bem-Te-vi, um braço do belo Projeto YAM, realizado na Fundação Casa, em São Paulo, sob coordenação do professor de yoga e médico homeopata, Cézar Deveza, que conheci quando fiz o curso de Especialização em Yoga, da UniFMU-SP, coordenado pelo professor Marcos Rojo.

 No segundo semestre de 2007, após quase 20 anos de residência em Varginha, Vânia Vinhas Cardoso, à época Diretora Cultural da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências - AVLAC, convidou-me para ingressar na AVLAC, ocupando a cadeira 19, a partir de 16 de novembro de 2007, o que foi uma grata surpresa. Sempre ativa em São Paulo e ligada às áreas de arquitetura, urbanismo, patrimônio cultural e tradução, aqui, bem mais discreta, eu era vista como “aquela” professora de yoga e de inglês, além de esposa de RSA. Poucos sabiam do meu extenso trabalho, em São Paulo, como articulista e tradutora. Grande parte do trecho a seguir vem do meu discurso de posse na AVLAC.

Ao receber o convite, confesso que me envaideci um pouco, mas logo me despi dessa presunção, por acreditar nos dizeres de Paulo de Tarso - “a glória do mundo é transitória”. Mas o que me levou a aceitar o gentil convite de Vânia foi o fato de ter reconhecimento de alguém da cidade como autora e tradutora. Aceitei, também, por acreditar que poderia fazer diferença na vida cultural e social da cidade, seguindo as palavras do cientista político e escritor Hélio Jaguaribe, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras: instituições como as Academias de Letras “ademais de suas funções de preservação da língua e da cultura... são agências às quais cabe a alta tarefa de conservar e difundir os valores superiores do humanismo”.  Acho que foi o que mais me motivou a aceitar o convite para ingressar na AVLAC, já que a História nos julgará pelo que tivermos feito de bom e de bem, na construção de um mundo mais justo e solidário. Achei que poderia fazer diferença. Agora, não tenho tanta certeza.

Hoje, quase 30 anos depois de me mudar para o Sul de Minas, continuo ativa nas duas frentes: como tradutora em São Paulo, porque é lá que estão as editoras e profissionais da área que conhecem meu trabalho, mas também aqui, com quase 30 anos ininterruptos como professora de yoga. Ainda dou aulas de inglês (poucas) e continuo batalhando em prol das áreas de educação e cultura, os únicos caminhos possíveis para o desenvolvimento pleno de um país. Ao longo desse caminho, destaco dois prêmios:

o Menção honrosa na III Bienal Ibero-americana de Arquitectura y Ingenieria Civil (Chile, 2001), pelo livro’ Sala São Paulo de Concertos. A revitalização da Estação Júlio Prestes– o projeto arquitetônico’, SP: Alter Market, 2001, em coautoria com Ruth Verde Zein.

Prêmio Gentileza Urbana-2011, do Instituto de Arquitetos do Brasil [IAB-MG] pelo projeto, curadoria e realização da exposição itinerante ‘Nosso patrimônio vai às escolas’ (Varginha-MG, 2002), com a arquiteta Eneida Ferraz Cruz. 

Como trajetória e forma de agir, penso como o fotógrafo Sebastião Salgado quando diz que fotografa o que a vida lhe dá para criar discussão, reflexão e conscientização:  

 Não busco uma imagem: a imagem me é dada, uma espécie de presente da realidade, da vida. Tento captar o momento, que na verdade me capta, e assim provocar uma intervenção na realidade. A imagem que dou é a imagem da minha ideologia. (2)

Da mesma forma, busco captar cada momento, integrar ação, discurso e pensamento e, assim, transformar-me para intervir na realidade, já que ao me transformar também transformo o mundo. Sou transparente. Meus textos são o retrato de quem eu sou. O blog Anita Plural surgiu, naturalmente, no final de 2010, como um presente de meu primogênito (Como nasceu o blog Anita Plural) para que eu pudesse dar vazão à minha escrita e compartilhar meus sentimentos e emoções para além da família. Adorei o presente e me emocionei com a proposta, mas foi um susto e, naquele ano, o Anita Plural recebeu apenas três postagens, ficando inativo pelos quatro anos seguintes. 

A partir de 2015, criei coragem e retomei o blog. Desde então, já são quase 500 publicações até hoje, janeiro de 2021. No início, fazia vários textos por semana, como se tivesse que extravasar a sede da escrita; diminuí aos poucos, e agora publico um texto a cada semana, acolhendo áreas de meu interesse: arquitetura e urbanismo; tradução e literatura; yoga e espiritualidade; cultura, música e arte. A partir de abril de 2017, mudei os títulos e incluí o termo ecos - Ecos Urbanos (ou arquitetônicos), Ecos Culturais (ou Musicais); Ecos Humanos (ou Imateriais) e Ecos Linguísticos (ou Literários) - já que tudo o que falamos, pensamos, vemos ou fazemos tem eco e repercute em nós e no todo. Não existe neutralidade. Somos responsáveis pelo que pensamos, falamos e fazemos. Em qualquer área e em qualquer situação. 
 
Assim, aos poucos, esses ecos vêm consolidando o panorama eclético do blog Anita Plural.  Os posts seguem por e-mail (para quem assina o blog) ou por WhatsApp (para quem solicita). As postagens estão assim distribuídas: 2010 (03); 2015 (161); 2016 (125); 2017 (67); 2018 (41); 2019 (47) e 2020 (48). Gostaria de ressaltar que só escrevo sobre o que vi, vivi, ouvi, senti ou li. A mulher tradutora, arquiteta, professora e mãe Anita Di Marco está presente em cada uma de suas linhas.    

Notas

(1) Se você, leitor, quiser saber como migrei da arquitetura para a tradução, seguem aqui alguns links:  1-Ensinando e aprendendo (abril 2016);   2-Como Cusco me levou a Roma (junho 2016);   3- Homenagem da Arquitetura; 4-Este texto, Anita Plural: SP, Roma, Varginha é o último da série.     

(2) In Persichetti, Simonetta. Fotografia documental: retrato de uma sociedade. Dissertação de mestrado p/ Faculdade de Comunicação e Artes. Universidade Presbiteriana Mackenzie. SP, 1995.

19 comentários:

  1. Me emocionei com essa postagem! Parabéns pela trajetória Anita plural!

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    1. Obrigada pela leitura atenta, querida! Alunos e amigos só enriquecem a minha vida! Bjs

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    2. Obrigada pela leitura atenta, querida. Vc sabe como alunos e amigos nos motivam e incentivam... Bjs

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  2. História de vida incrível e um currículo invejável!
    Parabéns Anita pela sua história e pelo seu profissionalismo.

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    1. Muito obrigada, Napoleão. É o que vale... procurar fazer nosso melhor sempre, né? Sem desistir, apesar de.... Abraços

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  3. Anita!! Sua trajetória é linda, tudo que você fez e faz é muito bem feito. Você é inspiração cultural na minha vida! Parabéns e continue brilhando! Beijos

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    1. Querida, fico muito feliz com seus comentários. Vc sempre foi à luta e brilha muito por isso, bjs e obrigada pela troca..

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  4. Parabéns Anitinha!sua trajetória é inspiradora,magnífica e inteligente.Aprendemos muito com seus textos.Mericidos prêmios!Bebel

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  5. Que orgulho desta minha amiga de longa data...Nem sei o que dizer. Parabéns por tudo o que fez e continua fazendo ,amiga plural.Beijos, querida. Saudades dos nossos cafés.

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    1. Obrigada. Querida. Vc é parte disso, me incentivou sempre. Exemplo, bjs

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  6. Que bela trajetória amiga. Sempre multifacetada, parabéns.

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  7. Trajetória riquíssima.
    Quanto mérito; quanta disposição; quanto reinventar e recomeçar!
    Você não para. Ótimo!

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    1. Oi, Valquíria, acho que é por aí, né? Quem é mordido pela mosca do conhecimento e pela busca do saber está sempre em movimento... no fluxo... como você , também! beijos e obrigadas

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