quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Ecos Musicais | Moreira Lima, músico e maestro

Do grego musiké techné, a arte das musas, a música é uma dádiva divina. É uma forma diferente de linguagem - não verbal, não narrativa, não pictórica; é a arte de se expressar e expressar emoções através de sons. É uma arte que toca, encanta, emociona, eleva, pacifica, exalta ou oprime o espírito. Assim, como curiosa que sou, sempre gosto de saber o como, o quando e o porquê de cada tipo de música.

Arthur Moreira Lima. Imagem: Divulgação.
Arthur Moreira Lima. Imagem: Divulgação
 Mas por que digo isso?Porque uma das coisas que mais me encantou em Varginha, logo que me mudei para cá, em 1988, foi um concerto do maestro e pianista Arthur Moreira Lima (RJ, 1940), realizado no Teatro Municipal Capitólio, joia arquitetônica da cidade desde 1927. Em minha defesa, embora sempre tenha gostado, nunca estudei música clássica e, quando criança, até tentei entrar no Conservatório Municipal de São Paulo para estudar piano, mas a fila de interessados era imensa e não consegui. Além disso, eu assistia a concertos esporádicos, mas não era uma frequentadora assídua e tampouco lia muito a respeito. Como apreciadora leiga, conhecia os principais compositores, as principais peças, mas nada de forma muito aprofundada. Sempre gostei, por exemplo de estudar e trabalhar ao som dos Noturnos de Chopin, em especial o Op.9, nº2.

  Nocturne Op. 9, No. 2, Chopin, por Vadim Chaimovich.
Publicação de Andrea Romano 

Bem, voltando ao Teatro Capitólio, em Varginha, aquele foi o primeiro concerto trazido à cidade pela Academia de Música Lorenzo Fernandes, cuja diretora era a pianista e virtuose Elvira Gomes de Carvalho Pinto, até  hoje, atuante na cidade e em Minas. Durante o concerto, que só trazia peças do compositor polonês Frédéric Chopin (Polônia,1810-Paris, 1849), o maestro dialogava com a plateia o tempo todo. Falava do mesmo modo com iniciados e com não iniciados, sempre de forma clara, didática e animada. Ele queria compartilhar seu entusiasmo com o público, queria que os leigos entendessem o que acontecia no palco. Antes de cada peça, ele se voltava para a plateia e falava do que ia tocar – do estilo, do ritmo, do significado, da data, dos fatos históricos da época da composição. Uma maravilha! Por exemplo, nunca mais esqueci o que é Polonaise!  Aquele concerto foi, de fato, inesquecível. Tanto é que hoje, 32 anos depois, ele ainda está bem nítido na minha memória. Agradeço imensamente a sensibilidade desse grande artista.

Publicação de Rousseau, 28 nov.2019

Arthur Moreira Lima era um craque no piano: especialista em compositores românticos como Chopin e Lizt, mas também modernistas como Prokofiev e Villa-Lobos e, na música brasileira, gravou ainda Ernesto Nazareth, samba e chorinho. Como bom professor, que quer atingir a todos, também investiu no social com o projeto Piano pela Estrada, na primeira década dos anos 2000, mesclando erudito ao popular, democratizando a música erudita, levando-a em um caminhão, aos mais distantes cantos do país, a pessoas que jamais tinham visto um piano.

Já sabemos (ou deveríamos saber) que o conhecimento enriquece, desenvolve e emancipa o cidadão. Grande professor, grande maestro, é aquele que consegue transmitir, de maneira clara, o que sabe.  Além disso, a música inspira e alimenta a alma...Saudades dos concertos de Moreira Lima!     

11 comentários:

  1. Sim, há músicas que se destacam e nos envolvem sempre. Assim como, há músicos que conseguem, além de belas interpretações, tocar nosso coração ❤ e arrepiar nossa química interior. Também gosto muito do Nelson Freire, especialista em Chopin, com todo seu carisma e profundidade ao expressar a música e nos convidar a expansão. Moreira Lima compartilha seu conhecimento e aventurou-se Brasil a fora, com todo tipo de experiências, levou sua rica musicalidade e enriqueceu ainda mais sua vida...uma riqueza sensacional. Bjos querida Anita

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    1. Olá! Verdade, Nelson Freire é outro nome inesquecível. Também já o ouvi tocar e, de fato, é de chorar. Mas da próxima vez, deixe seu nome... grande abraço

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  2. Vi Artur Moreira Lima tocar em Aracaju quando moramos lá. Era um fim de tarde em uma área com flores,árvores e um lago bonito. Foi um espetáculo inesquecível.

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    1. Bebel, querida. Aracaju é sua praia, né? A música é divina , mesmo, não? Imagino a beleza do espetáculo em área aberta... beijos

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  3. A mágica da música é uma luz no caminho disse John Lennon em sua canção Intuition. Vários tipos de música desde que tenhamos ouvidos atentos e sem preconceitos. Também nessa vida guardo muitos momentos divinos em que fui tocado pela beleza e emoção de musicas e músicos.
    abs.
    Carlos Sá

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    1. Carlos, meu amigo! Você, como poucos, conhece a magia da música e sempre nos brinda com algumas pérolas. Obrigada por comentar e sja muito bem-vindo. Abs

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  4. Muito importante esse texto pra mim, Anita! Parabéns de novo!
    Não sabia essa história do caminhão.
    Abs

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    1. Essa história do caminhão foi um marco para mim! O músico, o cantor, o artista, o poeta... todos devem ir aonde o povo está, certo? Pena que nem todos pensam assim... beijos, meu bem

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  5. O som de um piano é mágico. Tocado por um mestre é de arrepiar. Bom texto Anita

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