quarta-feira, 7 de abril de 2021

Ecos Arquitetônicos | Medidas sob medida

Quando vemos as antigas construções da humanidade, ficamos nos questionando como aquelas obras conseguiram ser erguidas, de onde surgiu tanto saber, como faziam os encaixes e as medições, de onde vinham e como foram transportados os materiais e, ainda, como surgiram os antigos sistemas de medidas dos povos que viveram há 3.000-4.000 anos - persas, fenícios, babilônios, egípcios, hebreus, indianos, gregos, chineses, árabes. 
Sabe-se que, em geral, os povos antigos usavam partes do corpo humano e as proporções entre essas partes como unidades de medidas, conforme mostra o clássico desenho de Leonardo da Vinci, Homem Vitruviano. São conhecidos os estudos do romano Vitruvius, de Alberti, de Michelangelo, do próprio Da Vinci etc. O ser humano era e continuará sendo a medida de todas as coisas. Algumas dessas medidas ainda continuam entre nós e sempre relacionadas entre si:

1 braça: 2,2m ou 10 palmos;
1 cúbito: distância do cotovelo até o dedo médio do faraó, ~50cm;
1 côvado: 66 cm ou 3 palmos;
1 jarda: 3 pés ou 91 cm, distância entre o nariz e a ponta do polegar, braço esticado;
1 légua (do celta Leuk): variava entre 2.500/3.000 braças a 4,83/6 quilômetros:
1 milha (do latim mille passus): 1,5km ou 100 passos de um centurião, na Roma antiga;
1 palmo: 22cm ou 8 polegadas;
1 passo (do latim passus): no antigo Império Romano, um passo de um legionário - 2,5 pés ou 0,82m
1 pé: 12 polegadas, 1/3 de jarda ou 1 ½ palmo -~ 30,5cm;
1 polegada: 2,54cm – distância do dedão da mão, na parte interna;
1 vara: 5 palmos ou 40 polegadas.

Manuais de arquitetura conhecidos entre estudantes da área, como A Arte de Projetar (1936) de Ernst Neufert, propunham o dimensionamento dos ambientes utilizando o sistema métrico e tendo em vista a escala do corpo humano, especificamente, a altura de um homem branco, como unidade fundamental. Desde sempre, os diferentes eram deixados de lado: o negro, a mulher, o obeso. Mas, além disso, como havia diferenças entre os diferentes povos e as proporções entre os modelos, com o tempo, surgiu a necessidade de padrões. Só após a revolução francesa, em 1789, é que a ideia de um sistema universal de medidas e grandezas ganhou força. 

Surgido no final do século XVII e implantado 100 anos depois, o sistema métrico veio resolver essa questão, mas só em parte, porque ainda há variações. A unidade agrária padrão no Brasil, por exemplo, é o alqueire, mas o alqueire mineiro é quase o dobro do paulista, e o valor do hectare também varia a depender da região. Das unidades acima, embora algumas tenham caído em desuso, outras ainda são usadas em alguns países, como a jarda e a milha. Isso sem falar nas diferenças entre os sistemas americano e inglês para medidas de volume, peso e temperatura. Enquanto isso, tradutores e professores continuam lidando com essas diferenças no seu dia a dia, sabe-se lá até quando.  

Referências:
https://mundoeducacao.uol.com.br/matematica/unidades-medida-ao-longo-historia.htm
http://doc.brazilia.jor.br/HistDocs/Medidas-antigas-nao-decimais.shtml
https://ipemsp.wordpress.com/2010/09/28/caminhando-e-contando/#more-3362
https://pt.wikipedia.org/wiki/Antigas_unidades_de_medida_portuguesas

15 comentários:

  1. Mas é próprio do ser humano transformar quase tudo numa Babel.
    Muito bom o texto.
    Carlos SA.

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    1. Verdade, Carlos! É o tal " para que simplificar se podemos complicar, né"... obrigada e um beijo

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  2. Pra quem lida com engenharia, lidar com estas diferentes unidades de medidas é um caos...
    Muito bom. Obrigado

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    1. Exatamente, um caos, uma confusão, uma Babel, como disse meu amigo Carlos. Obrigada pelo comentário. Abraços

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  3. Querida Anita, muito interessante e informativa sua abordagem sobre as unidades de medidas ao longo dos tempos, bem como, a instigante questão da utilização de um padrão baseado nas medidas do corpo de um homem branco. Como é notório a aplicação destas unidades tinha e tem como objetivo a facilidade para a realização das construções e também para as transações comerciais. Atualmente a questão do respeito à diversidade humana ou social é uma realidade. Existem uma infinidade de diferenças entre as pessoas ou grupos que compõem a vida em comunidade , e portanto, devem ser compreendidas
    e respeitados como são. Não há culturas menos importantes do que outras, nem pessoas. Adaptar estas questões a todas as nossas necessidade práticas será um grande desafio, que com certeza deverá acontecer em breve.

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    1. Pois é, Mariângela, eu não acredito que essa adaptação vá acontecer em breve... Há muitos interesses e bengalas usados como desculpas. Enfim, seguimos... Abraços

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  4. Ótimo Anitinha! Tive uma aula neste seu texto.Bebel

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  5. Não sabia da diferença do alqueire mineiro e paulista. Muito boa explicação

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  6. Há mesmo muitos esquecidos ou até excluídos quando se trata de medidas. São as crianças de sete ou oito anos, tentando escrever nos quadros de salas de aula usados por adultos à noite, ou adolescentes do turno matutino usando carteiras que serão, por sua vez, usadas por crianças no turno da tarde. O problema vai longe e não faltam exemplos.
    Quanto às unidades de medida, pruridos nacionalistas ainda emperram um sistema universal; argumenta-se, é claro, com a tradição.
    Gostei muito do texto, excelente trabalho!

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    1. Oi, Marta. Sim, a questão das medidas é altamente excludente. Ainda seguimos padrões de uma "maioria" que exclui os demais. E é, verdade, não sabemos até quando essas "desculpas" para um sistema verdadeiramente universal continuarão em vigor. Obrigada pelo comentário. Abraços

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  7. Será que as referências e unidades de medida mudarão neste tempo de transformação? Teremos uma forma de medida universal? Será a determinação chinesa imperativa? Desejo que seja o melhor á humanidade.

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  8. Será que ocorriam acidentes, desabamentos, perda de obras e materiais em virtude da precariedade das medidas? Há registros sobre isto?
    Muito interessante e intrigante esse assunto

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    1. Oi, Maria Inês, respondo aqui para que outros vejam. Sim, evidentemente, houve muitos acidentes, desabamentos, mortes. Vou preparar outro post sobre o tema, tá bem? Obrigada, beijos

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