Os "fatos" do título referem-se aos eventos que deram origem a uma exposição de "fotos" em P&B, realizada há 10 anos em Varginha, mas não divulgada aqui no blog Anita Plural que, na época, estava adormecido. O que não se percebe: um novo olhar sobre o Teatro Capitólio - Fotografia Autoral teve projeto, curadoria, fotos e texto de Anita Di Marco e Vanessa CTReis e marcou a reabertura do teatro municipal da cidade, em maio de 2011, após um período de importantes obras de recuperação e modernização tecnológica (2008 a 2011).
A decisão de fazer uma grande intervenção para recuperar o teatro e resolver de forma definitiva o problema estrutural do telhado se deu na gestão (2001-2008) do ex-prefeito Mauro Tadeu Teixeira (1953-2010) e a conclusão, na gestão de Eduardo Carvalho (2009-2012). Na época, éramos conselheiras do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Varginha-CODEPAC, órgão presidido na época pela querida Vera Lúcia Pereira (1942-2020), tia Vera, que nos deixou há pouco. Outro apoio significativo veio de Renato Sérgio Alves e, depois, Paula Andrea Direne Ribeiro, presidentes da Fundação Cultural, órgão ao qual estavam submetidos tanto o teatro quanto o CODEPAC.
Painel de 1,50 x 0,50 m, com fotos das autoras, afixado no foyer do Teatro Capitólio. |
A partir das discussões ali realizadas, decidiu-se que a exposição seria uma forma de divulgar aquele bem tombado e detalhes de sua história mais recente: a firme e corajosa decisão de fechar o teatro, por segurança, em função do mau estado do madeiramento do telhado e a longa sequência de ações necessárias, refletidas e tecnicamente embasadas, após consultas a especialistas, como por exemplo, ao engenheiro acústico José Augusto Nepomuceno, consultor para o projeto da Sala São Paulo. Assim, procedeu-se a um trabalho sério de recuperação de um bem tombado: diagnóstico, reflexão, destelhamento, cinta de amarração em concreto das paredes, instalação de estrutura metálica do telhado e telhas termoacústicas (após consulta técnica ao especialista mencionado), burocracia, editais, licitações, detalhes, reuniões, decisões, busca de mais recursos, aquisição de novas poltronas e cortinas, equipamento de luz, som e cenotecnia, e muito empenho da equipe, além do uso consciencioso da verba pública.
Foto Vanessa CTReis, 2011 |
Desde a inauguração, em 1927, o teatro viveu momentos de alegria, fausto e decadência. O tempo, porém, é inexorável; sem um uso adequado e uma manutenção constante, qualquer imóvel se deteriora: o edifício foi desativado, no início dos anos 1980, passou por uma reforma e voltou ao uso habitual. Mais tarde, no início dos anos 2000, a falta da manutenção regular trouxe a pesada conta: a estrutura de madeira do telhado, totalmente tomada por cupins, exigiu o fechamento do teatro em 2004.
Então, arquitetura e fotografia deram-se as mãos para apostar na transformação do olhar a partir da releitura do edifício, por meio de detalhes, vistos pelas lentes de uma máquina fotográfica. Um circuito que liga objeto arquitetônico, olhar, memória e cidade. (Do texto de abertura da exposição).
Detalhes: foto Anita Di Marco |
Todos os documentos internacionais ligados ao patrimônio cultural afirmam que o desejo de acolher e
cuidar só surge em relação àqueles espaços/objetos com os quais nos identificamos. Se
não nos encantamos, nem nos apropriamos não há cuidado. Se
pararmos para pensar, a arquitetura nos rodeia e nos acolhe dede que nascemos –
casa, escola, templos, equipamentos de saúde, lazer, cultura, parques. Com seus espaços vazios e construídos, a arquitetura conforma nossa casa maior,
a nossa cidade. Por isso, talvez seja a mais comum e também a menos percebida e valorizada das artes. Assim, quando cuidamos de
nossos edifícios, dos espaços vazios, públicos e da paisagem urbana,
estamos cuidando das nossas cidades. Era o nosso objetivo: instigar, despertar,
fazer lembrar, para que o teatro fosse, uma vez mais, olhado com surpresa, apropriado
e cuidado pela comunidade, extrapolando esse olhar e esse cuidar do edifício para a cidade.