segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Ecos Literários | 100 anos da Narizinho de Lobato

Definitivamente, 2020 já entrou para a história como um ano fora da curva. Além da pandemia de Covid-19 que surpreendeu e penaliza o mundo todo, apontou urgentes (e necessárias) mudanças e abriu espaço para intenso avanço científico e tecnológico, comemora-se o centenário de incríveis autores e poetas de nossa literatura. Já falei aqui de Clarice Lispector e João Cabral, mas não poderia deixar de celebrar o centenário da famosa personagem de Monteiro Lobato, Narizinho, dona da Emília, a mais famosa boneca brasileira. 
 

A Menina do Narizinho Arrebitado“, publicado em 1920, foi a publicação que deu origem aos livros da turminha do Sítio do Pica-pau Amarelo e narra as aventuras da menina no Reino das Águas Claras. O final desse livreto é diferente do livro grande, Reinações de Narizinho (sem spoiler), mas vale a pela comemorar e reler toda a coleção infantil do autor. Escrita por Monteiro Lobato (Taubaté - SP, 1882—São Paulo -SP, 1948), a série, ricamente ilustrada, teve início em 1920 e terminou em 1947. A turma povoou a imaginação e a infância de milhões de brasileiros. 

As aventuras da turminha do Sítio do Pica-pau Amarelo também foram destacadas na TV em diferentes ocasiões: na TV Tupi (1952 a 1963), com adaptação de Tatiana Belinky e uma Emília  representada pela inesquecível Lúcia Lambertini, depois, com outras adaptações na TV Cultura (1964), na Band (1967-1969), na Globo (1977-1986) e novamente na Globo (2001-2007), desta vez com Isabelle Drummond, como a espevitada e atrevida Emília. Sem dúvida, as séries atiçaram a vontade de conhecer os livros e muitos novos leitores surgiram a partir daí.   

Para comemorar o centenário da ilustre personagem lobatiana, agora no início de dezembro foi realizado o seminário 100 anos de Narizinho (1920-2020). Sob a batuta de Cleo Monteiro Lobato, bisneta do escritor, Mari Salmonson, Sônia Travassos e Mônica Martins, o seminário reuniu vários nomes ligados, de alguma forma, ao universo de Monteiro Lobato:  pesquisadores, professores, escritores, tradutores, ilustradores, artistas gráficos, leitores e contadores de histórias em mesas redondas e palestras em torno de temas como contexto, ilustrações, traduções, projetos literários ou escolares e a influência da obra de Monteiro Lobato em muitas gerações. A magia da obra lobatiana é o que uniu e une todos os participantes do evento, muitos dos quais foram introduzidos no prazer da leitura com seus livros. Além disso, quatro exposições virtuais estão disponíveis no link https://exposicoesvirtuais.com.br/: A gênese da Menina do Nariz Arrebitado; A menina do Narizinho Arrebitado; Narizinho pelo Olhar dos Brasileiros e Emília faz 100 anos.

Ícone da literatura infantil brasileira, Monteiro Lobato tem sua obra estudada em dezenas de trabalhos acadêmicos, além de ser tema de palestras, simpósios e seminários, como a II Jornada Monteiro Lobato, evento conjunto entre a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas-FFLCH, da Universidade de São Paulo e a FTSK da Universidade de Mainz, Johannes Gutenberg, cuja proposta é divulgar e discutir questões afeitas à obra lobatiana. O mote da ação conjunta foi o interessante projeto pedagógico “Traduzindo Monteiro Lobato”, para o alemão, proposto pelos professores do Departamento de Tradução/ Português da Universidade de Mainz, Alemanha, já em 2019. Os alunos da graduação e do mestrado traduziram o livro Reinações de Narizinho, em uma metodologia que previa tradução individual por capítulo, discussões em grupo e, ao menos, três revisões. Depois da última revisão, o livro deve ser impresso, provavelmente entre abril e maio de 2021. Sem dúvida, uma interessante metodologia didática de teoria e prática do processo tradutório.


Devido à pandemia da Covid-19, a II Jornada, que seria realizada na Alemanha, foi transformada em evento on-line, reunindo mais de 1500 participantes ativos. Um privilégio e uma oportunidade única de participar virtualmente de eventos dessa magnitude, com temas atuais que levam à reflexão, excelentes pesquisadores e público das mais distantes localidades
A Literatura é uma arte essencial ao ser humano, uma arte que ensina a ler, pensar criticamente, refletir, escolher e resistir. Viva a Literatura, viva Monteiro Lobato e viva a universidade pública gratuita e democrática!

Referências 

http://teledramaturgia.com.br/sitio-do-picapau-amarelo-tupi/
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/9426_OS+ILUSTRADORES+DE+LOBATO
www.magno.design
https://narizinho100anos.com/
https://www.youtube.com/channel/UCNiH334YQslyClYxjkM0X8A>
https://www.youtube.com/watch?v=G5VM0Et15AU
https://linktr.ee/lobatocomvc

14 comentários:

  1. Sempre com temas interessantes.
    Parabéns, Anita!
    Eneida.

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    1. Obrigada, querida. Monteiro Lobato é importante demais para deixar passar, né? Beijos

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  2. Fui fã de Monteiro Lobato quando criança e tenho a coleção publicada em 1973 pela Brasiliense, herança de um primo. Acho que os netos vão adorar, abraço amiga

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  3. Oi, Lígia, com certeza! A imaginação boa. Apareça sempre! Beijos

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  4. Muito bom Anitinha! Monteiro Lobato é um dos grandes Marcos da nossa literatura.Bebel

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  5. Fez parte de minha infância. Lembro bem de Lucia Lambertini como Emília fazendo suas artes. E depois assisti as atualizações com Cyntia. Doces lembranças

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    1. Pois é, é importante trazer Lobato de volta às crianças. A FTD e a Cia das Letrinhas fizeram edições lindas e atualizadas. Dê uma olhada, beijos

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  6. Narizinho era minha ídala! Apesar da Emília ser ótima também. Bons tempos em que esperava anciosa por um novo lançamento da coleção. Parabens ,amiga.

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  7. Isto traz boas recordações da infância. Quando tinha entre nove e onze anos li quase tudo que Lobato escreveu para crianças. É certo que algumas obras perderam um pouco da atualidade, mas não o valor literário.

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  8. Olá, Marta, sim, o valor literário é inegável, ainda que algumas coisas possam ser contextualizadas pelos pais e professores. Obrigada por comentar. Volte sempre, abraços

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  9. E é isso, Anita! Apesar dessa pandemia, eterna é Narizinho e o mundo mágico de Lobato. E, sim, como você bem escreve, ainda está aí a universidade pública, que faz a diferença.

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    1. Verdade, a universidade pública é uma joia rara, acessível, solidária e que não pode jamais ser privatizada. É urgente defendê-la... abraços

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