quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Ecos Literários | Leoas

Desde sempre, a mulher foi sobrecarregada, ofendida, discriminada e diminuída. 

Houve progressos? Sim, claro, à força, na marra, por conquista e luta delas, das próprias mulheres que, cada vez mais, se destacam em todos os campos e provam para quem quiser ver sua competência. Mas ainda há muito a ser conquistado. Principalmente respeito. Basta ver os comerciais e as notícias no rádio e na TV de hoje. Basta ver as vergonhosas vaias endereçadas à nossa primeira presidenta, Dilma Roussef, na abertura de eventos esportivos internacionais no nosso país; basta ver o número de mulheres assassinadas, ofendidas ou espancadas por seus companheiros; basta ver as mulheres que assumem cargo político sendo assediadas, desconsideradas, ofendidas (inclusive por seus próprios pares), quando não assassinadas com seus motoristas, pelo simples fato de serem mulheres. Não há dúvida, temos ainda muito, muitíssimo a aprender e um longo caminho. Mas isso não nos faz desistir, porque queremos, mais do que qualquer coisa, respeito!

Sentindo na pele tropeços e dúvidas naturais, em um momento de dividir-se entre maternidade e vida profissional, a jornalista Regina Di Marco indagava se outras mulheres, na mesma situação, também lidavam com sentimentos similares e contraditórios – momentos de extremo amor, mas também de receios, cansaço, questionamentos e indecisão. 

Escrito em um momento de transição, momento de sentimentos fortes, ambíguos e conflitantes, o livro Luta Silenciosa, publicado pela Editora Saber (1995), retratava uma das fases mais difíceis de uma mulher: buscar o equilíbrio entre assumir sua função de mãe e continuar com a carreira.

Regina nos fala de várias Anas, Antônias, Carmens, Márcias, Marias... Nomes variados, mas situações similares, os mesmos papéis, as mesmas dúvidas, as mesmas descobertas.  As entrevistadas são mulheres que, na década de 90, relataram as dificuldades e os desafios vividos para conciliar os diferentes papéis. Em mais de 100 depoimentos, há relatos de dores, tristezas, alegrias, culpa, sentimentos contraditórios, alívio, depressão. Fiz parte desse grupo de mulheres que, generosamente, compartilharam, com a também generosa autora, sua vida, seus reveses e suas formas de superar aquele período único, complicado e conhecido por todas as mulheres-mães-profissionais.  

Após dezenas de noites mal dormidas, sem ajuda a não ser a do marido, que trabalhava fora, e a da mãe, que não morava muito perto; após cansaço, dores, lágrimas, risos, muito afeto, muito pensar e muito trabalho, Regina sentiu que era o momento de trazer à luz seu terceiro rebento. Ela já tinha duas lindas meninas. Esse terceiro parto, do livro, trouxe-lhe dores, é verdade, mas também entendimento, tranquilidade e representou uma feliz redescoberta de suas possibilidades, uma retomada confiante de si própria. Mais que isso, mostrou o salto corajoso e admirável de uma jovem leoa que mudou para enfrentar e dar conta de seus diversos papéis.   

Regina Di Marco

Essa situação, vivenciada desde sempre pelas mulheres, vem sendo mais divulgada nos últimos anos com pesquisas, debates e espaços virtuais dedicados à mulher-mãe-profissional. Hoje, felizmente, a tecnologia permite levantar, analisar e divulgar dados com muito mais rapidez. Contudo, a tríplice (ou quádrupla) jornada feminina continua. E também continuam os impasses, as dúvidas, os sentimentos conflitantes da mulher, além da crítica e do desrespeito daqueles que não viveram tal situação. 

Imaginem fazer isso na segunda metade dos anos 1980, sem secretária, sem computador, sem internet, sem a tecnologia de hoje. Regina Di Marco foi, de fato, uma guerreira. Muito orgulho dessa leoa! Qual a surpresa? Afinal, somos mulheres, múltiplas e fortes. Somos verdadeiras leoas!

Em tempo, Regina é minha irmã querida!

Referência

Luta Silenciosa. Regina Di Marco. São Paulo: Ed. Saber, 1995

https://www.estantevirtual.com.br/livros/regina-di-marco/luta-silenciosa/1729127799

11 comentários:

  1. Maravilhosa apresentação Anita!
    Vocês duas têm a minha admiração e respeito. Somos leoas, com muita garra. Abraço!

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  2. Somos, mas você não assinou? Quem é? Abraços

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  3. Cida sua prima .Parabens historia maravilhoso somos todas leoas.Beijos pras duasu uh

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  4. Linda história! Nós somos todas leoas
    Beijos

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  5. Lutando sempre, dia a dia, por nosso espaço. Somos leoas. Adorei otexto

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    1. Você que o diga, né? Obrigada por estar sempre aqui... Beijos

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  6. Parabéns Anitinha!Texto muito bom! Talentosas essas Di Marco!Bebel

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  7. Agora, para além dos seus textos, Anita, parabéns também pela irmã que você tem!
    Estou com ela e não abro.
    Parece que nunca vai chegar o dia da gente não precisar mais guerrear por uma verdade óbvia: somos todos iguais. Não há nenhuma razão pra que se vejam as mulheres como menores. Em nada.
    Como o machismo impera, até entre mulheres. Nunca entendi. Nunca vou querer entender.
    E é isso o século XXI.
    Que bom que A Regina Di Marco foi tão corajosa.
    Que ótimo que vocês tiveram uma formação e um caráter que tanta falta faz neste mundo...
    E o Talibã está aí, de novo.
    Enfim, Deus abençoe vocês duas e todas nós.

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    1. Oi, Valquíria. É isso aí, tudo vem da formação, né? Graças a Deus tivemos esse exemplo. E continuamos na luta, sempre, por respeito e dignidade. Um beijo, querida. Obrigada...

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