quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Ecos Culturais | Forró na alma e na veia

O patrimônio cultural brasileiro integra uma série de bens (com valor artístico, histórico, natural, arqueológico, etnográfico, paisagístico, turístico, folclórico, bibliográfico etc) e divide-se basicamente em dois tipos: bens materiais (bens móveis e imóveis, centros históricos, edifícios, conjuntos arquitetônicos, obras de arte, objetos, acervos e documentos) e bens imateriais (idioma, dialetos, tradições, costumes, festas, rituais, celebrações, saberes, ofícios e modos de fazer). Ou seja, as mais diversas manifestações artísticas e culturais do nosso país. O conceito de bens imateriais foi definido, por lei, no país desde 2000. (Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000).

Hoje, nosso riquíssimo patrimônio imaterial inclui literatura de cordel, viola de cocho, feira de Caruaru, frevo, arte sineira, ofício das paneleiras, doceiras, roda de samba, capoeira, entre muitos outros (veja a lista completa aqui) Da lista, seis foram listados pela Unesco como patrimônio cultural imaterial da humanidade: Samba de Roda do Recôncavo Baiano; Arte Kusiwa-pintura corporal e arte gráfica Wajãpi; Frevo; Círio de Nazaré, Roda de Capoeira e Bumba Meu boi.    

Pois  a essa turma da pesada veio juntar-se o forró, esse ritmo tão nosso, tão nordestino, tão alegre, tão dançante, que fala à alma brasileira e que reúne outros ritmos como baião, xote, xaxado, chamego, quadrilha, entre outros. O folclorista Luiz da Câmara Cascudo, dizia que forró vem do termo forrobodó (divertimento pagodeiro). E tanto o forró como o pagode (que hoje designa samba) são festas transformadas em gêneros musicais. 

Aliás, já existe um Dia Nacional do Forró, 13 de dezembro, aniversário de Luiz Gonzaga (1912-1989), seu maior representante. A data foi criada  em 2005 (Lei 11.176, 2005) no governo do então presidente Lula, a partir de projeto da deputada federal Luiza Erundina (1934). Paraibana, há anos morando na capital paulista, a deputada federal por São Paulo nunca negou suas raízes e, agora, comemora o novo patrimônio imaterial brasileiro, dez anos após do pedido feito pela Associação Cultural Balaio Nordeste, da Paraíba. Em dezembro último, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN declarou o forró como um super gênero e patrimônio imaterial brasileiro, quatro dias antes do Dia do Forró.

Para valorizar nossa cultura, é essencial conhecer, por só amamos o que conhecemos, Então, segue aqui uma brevíssima história do forró, dividida em três fases/gerações:

Jornal da USP. Divulgação.

1ª geração: O pioneiro, chamado de pé-de-serra, do final dos anos de 1930 e dos anos 1940, usava sanfona de oito baixos, zabumba e triângulo. Luiz Gonzaga, rei do baião e do forró, e Carmélia Alves, rainha do baião, eram os principais nomes. além de Dominguinhos, Marinês, Trio Nordestino, Jackson do pandeiro, Antônio Barros e Pedro Sertanejo. 

2ª geração: A partir de 1975, surgiu o forró universitário que modernizou o gênero, juntando o forró tradicional à musicalidade do pop e aos músicos da MPB. À sanfona juntaram-se pandeiro, órgão eletrônico, trombone e percussão. Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Jorge de Altinho e Nando Cordel são alguns nomes dessa primeira fase. A partir dos anos 1990, a segunda fase dessa segunda geração tem Falamansa, Forroçacana e Trio Rastapé.

3ª geração: Forró eletrônico, estilizado ou “oxente”music, numa roupagem mais moderna, com mais brilho, iluminação, bailarinos e tecnologia avançada. Com Mastruz com Leite, Magníficos e depois com Aviões do forró, Calcinha Preta, Caviar com Rapadura, Garota Safada. 

Confesso que prefiro as duas primeiras... Mas, de qualquer modo, é impossível não comemorar a escolha pela preservação da cultura; é impossível viajar ao Nordeste e não dançar ao som desse ritmo delicioso que, segundo Alceu Valença (1946), cantor e compositor pernambucano,

[...] é filho do coco e da embolada, primo do aboio, do martelo e da toada, parente dos poetas cantadores e da literatura de cordel. Suas matrizes foram desenvolvidas no mais profundo sertão nordestino, resultado da herança ancestral mourisca, lusitana, africana, com aquele balanço que só o brasileiro tem. Por isso eu digo que o forró é meu canto, que canta meu povo e os segredos da vida. (1)


Pura verdade! O forró vem da nossa mais pura e profunda matriz, do nosso cadinho cultural, herança de tantos povos, tudo temperado com o nosso jeito, nosso balanço, nossa alegria.  Viva o forró! Viva o Brasil profundo! 

Nota e Referências

(1)https://www.redebrasilatual.com.br/cultura/2021/12/forro-patrimonio-imaterial-sonoridade-brasileira/

https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/09/forro-e-declarado-patrimonio-imaterial-brasileiro-pelo-iphan.ghtml 

https://portalaracagi.com.br/curiosidades-forro-um-pouco-da-historia-do-ritmo-do-nordeste/

7 comentários:

  1. É bom demaissss! Adoro o nosso patrimônio cultural.
    Parabéns ,amiga.

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  2. "Vem morena pros meus braços, vem morena vem dançar" Musica boa da gota essa minha querida.
    Boa de ouvir, boa de dançar. Fora o grande mestre Lua, sempre acompanhei a carreira do seu discipulo mais brilhante: Dominguinhos.
    Viva o Brasil e o povo brasileiro autentico e genuino.
    abs.
    Carlos SA

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  3. Esse é o tipo de texto que deixa a gente contente, porque, como Anita aí diz, o forró é de natureza puramente dançante, mesmo.
    E viva a iniciativa da Erundina, também.
    E ainda o conceito da origem por parte de Alceu Valença.
    Anita sempre nos acrescentando!

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  4. Você também, Anita, deveria ser considerada patrimônio cultural! Tenho aprendido muito com o seu blog! Obrigada!

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    1. Nossa, Lilian, muito obrigada, mas, não. Eu só sou curiosa e tento falar daquilo que gosto e acho importante. Obrigada, querida, beijos

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