Dom Hélder. Foto: Acervo Folha PE |
Dom Hélder Câmara (1909–1999), cuja sepultura na Igreja das Fronteiras, em Olinda, vive rodeada por aqueles que querem reverenciar o amigo dos pobres, era cearense, humilde, solidário, coerente, corajoso, humanista e aquariano. Tenho profunda admiração pela sua vida e obra: completaria agora 113 anos, se estivesse vivo. Não vou falar muito dessa figura ímpar de batina bege. Quem se interessar pode recorrer aos inúmeros livros que contam sua linda trajetória. Vou apenas dar uma pincelada para, talvez, os mais desatentos.
Bispo católico e arcebispo emérito de Olinda e Recife, desde jovem, Dom Hélder posicionou-se a favor dos mais pobres e dos direitos humanos, o que incluía a concretização de uma utopia de justiça social, amor, alegria, moradia e dignidade para todos. Seu corpo franzino não correspondia à dimensão de seu otimismo, sua alegria e sua fé, contagiantes.
Papa Paulo VI e Dom Hélder. Foto: Divulgação |
Um dos defensores da Teologia da Libertação, reabilitada agora pelo Papa Francisco, Dom Hélder teve papel primordial na formação da CNBB na qual atuou como Secretário Geral, incrementou a união entre bispos do país, buscou ajustar os ideais da Igreja Católica aos padrões modernos, em especial na defesa da justiça e da cidadania, consolidou as Comunidades Eclesiais de Base, elaborou projetos e atuou em vários movimentos contra a fome e a miséria.
Manteve seu compromisso com os oprimidos, defendendo os ideais cristãos de humildade e caridade, em todos os lugares onde atuou: no Ceará (5 anos), no Rio de Janeiro (28 anos) e, em Recife e Olinda, onde permaneceu até sua morte. Entre outros, são exemplos a campanha Ano 2000 sem Miséria, na Fundação Joaquim Nabuco em Recife, a Cruzada São Sebastião e o Banco da Providência, no Rio, cuja meta era oferecer moradia digna aos favelados e auxiliar os que viviam em condições precárias.
Participou das reformas de base do governo João Goulart, em 1962, mas por seu papel na defesa da justiça, dos direitos humanos e contra o autoritarismo, entrou em choque com a ditadura militar. Em Paris, denunciou em 1970 a prática de tortura e a situação dos presos políticos no Brasil e, em 1971, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, pela primeira vez. No total, foram quatro indicações.
Orador carismático,
celebrizou-se, sobretudo fora do país, onde suas ideias se disseminaram.
Pregava e era adepto da não violência e de uma igreja simples, voltada para os
pobres. Humilde, ativo e coerente, nunca se calou, fez discursos, palestras,
escreveu livros, declamou poemas (como os em honra de N.Sra. Mariama, no LP
Missa dos Quilombos (1982), de Milton Nascimento, Dom Pedro Casaldáliga e Pedro
Tierra). Publicou livros, traduzidos para mais de
15 idiomas. Sua luta lhe valeu reconhecimento, mais de 700 homenagens e condecorações entre placas, diplomas, medalhas, troféus, comendas de entidades e universidades várias e mais
de 30 títulos, nacionais e internacionais, de cidadão honorário e doutor Honoris
Causa. Indicado quatro vezes para
o Prêmio Nobel da Paz, recebeu diversos prêmios, como o Prêmio Martin Luther
King, nos Estados Unidos (1969) e o Prêmio
Popular da Paz, na Noruega, no início dos anos 1970.
Faleceu, aos 90 anos, em Recife, de parada cardíaca. Em fevereiro de 2008, a Congregação para a Causa dos Santos recebeu o pedido de beatificação e canonização de Dom Hélder, enviado pela Comissão Nacional de Presbíteros (CNP), ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, como uma forma de homenagear e preservar para a posteridade sua memória e sua trajetória em prol da justiça e da prática cotidiana dos verdadeiros preceitos cristãos. Em dezembro de 2021, no Discurso à Cúria Romana, embora sem citar o nome de Dom Hélder, o papa Francisco lembrou as palavras ditas pelo arcebispo quando este se referia à forma como o chamavam ao se referir à sua ação em relação aos pobres: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista."
Outras frases de Dom Hélder Câmara:
— É graça divina começar bem; graça maior, persistir na caminhada certa, mas graça das graças é não desistir nunca.
— Das barreiras a romper a que mais custa e a que mais importa é, sem dúvida, a da mediocridade.
— Se não tentarmos amar do fundo dos nossos corações, tudo se transformará numa angústia profunda. O amor, conforme nos ensinou o Nosso Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora da humanidade.
Referências
https://www.infoescola.com/biografias/dom-helder-camara/https://www.ebiografia.com/dom_helder_camara/
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=11573&cod_canal=44
https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/605785-o-papa-francisco-santifica-dom-helder-aquele-que-chamavam-comunista
https://www.ihu.unisinos.br/605756-o-flagelo-da-pandemia-um-teste-e-uma-grande-ocasiao-para-nos-convertermos-e-recuperarmos-a-autenticidade-constata-o-papa-francisco
http://acervocepe.com.br/
https://www.hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/colunas/irlan-melo-1.540331/dom-h%C3%A9lder-c%C3%A2mara-e-a-teologia-da-liberta%C3%A7%C3%A3o-1.554541