Há poucos dias, falei aqui sobre o valor das bibliotecas (Bibliotecas são essenciais) e me lembrei de uma situação que vivi na Itália, quando fazia um curso de especialização em Preservação e Restauração
Arquitetônica, pelo ICCROM, em Roma. A situação ilustrou muito bem a forma como profissionais de diferentes origens encararam a restauração e a adaptação de uma construção histórica para receber um novo uso.
Alunos e professores do ICCROM (1982). Foto tradicional às margens do Rio Tibre, Roma. |
No nosso curso, Architectural Conservation, éramos todos arquitetos. Vinte e dois profissionais que trabalhavam com preservação de edifícios e conjuntos históricos em seus respectivos países. Eu era a única brasileira e, na época, trabalhava no Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. (Leia aqui Como Cusco me levou a Roma). Naturalmente, havia grupinhos menores, mas nada que atrapalhasse o entrosamento e as discussões do grupo maior.
Fazíamos muitas viagens de estudo e, numa delas, em uma cidadezinha nos arredores de Ferrara, fomos conhecer um pequeno palazzo que estava em obras para transformar seu antigo salão em... uma biblioteca. Consultada sobre o novo uso a ser dado ao imóvel, a comunidade local optara, em sua imensa maioria, por uma biblioteca, um lugar para aprendizado e entretenimento dos jovens do local. Aplaudimos a escolha do uso: eu e colegas arquitetos da Turquia, Sri Lanka, Índia, Nicarágua, Equador, Portugal, Japão e Canadá.
Lembro-me
bem do choque de outros alunos do curso, em sua maioria os que vinham
do primeiro mundo, ao ver aquela antiga estrutura de pedras
ser ocupada por elementos metálicos amarelos que concretizariam o novo
uso. Afinal, a
diferenciação entre estrutura nova e
antiga estava mais do que aparente: de um
lado, paredes e pilares de pedra e, do outro, a estrutura metálica (facilmente desmontável) para escadas, vigas e pilares. Não vimos o
resultado pronto, mas a
discussão que se seguiu entre os arquitetos do curso foi bem
esclarecedora sobre o papel e o olhar dos gestores públicos, profissionais envolvidos e da comunidade num
tipo de
obra como aquela. Um uso compatível com os anseios da comunidade combinada a uma intervenção séria e respeitosa com o bem é o melhor dos mundos.
Afinal, como os edifícios históricos, as bibliotecas (muitas delas históricas) também precisam transformar-se, adaptar-se ao mundo contemporâneo, aos novos modos de aprender e a outras exigências. De qualquer forma, continua valendo o direito de exigirmos bibliotecas públicas atuantes e de qualidade em todas as nossas cidades.
Referências
https://vitruvius.com.br/index.php/jornal/news/read/297
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bma/noticias/?p=7987
Nossa que lindo
ResponderExcluirQue beleza, Anita!! Belo relato de experiência profissional. Que em breve possamos reivindicar mais bibliotecas neste país de tão poucos bons espaços de saber.
ResponderExcluirUm beijo
Anne
Que rica experiência! Muito bom, Anita!
ResponderExcluirExtraordinaria vivência. Parabens
ResponderExcluirHa muito tempo não vou a Biblioteca Mario de Andrade que frequentei bastante na decada de 80.
ResponderExcluirSua experiência é muito rica e merece ser aplaudida. Isso constroi uma bela vida.
abs
Carlos SA
Ótimo Anitinha!Parabéns pela oportunidade bem aproveitada na Itália. Tomara que possamos ocupar alguns lugares,com boas bibliotecas. Estamos precisando.
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