A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre 10 passos. Por mais que eu caminho, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar. (Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano)
Se as coisas são inatingíveis. . . ora! Não é motivo para não querê-las. . .
Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas!
(Mário Quintana)
Outro livro, outra época, mas o mesmo tema. Utopia
Desta vez, do filósofo britânico Thomas Morus ou Thomas More (1478-1535). Em 1516 Morus publicou Utopia, nome de uma ilha. A propósito, u significa não e topos, lugar, ou seja, não lugar, lugar inexistente. O
livro critica a sociedade da época e, em contrapartida, descreve uma sociedade alternativa, organizada de forma completamente diferente daquela da
época de Morus. Na Ilha Utopia, o foco principal repousava no coletivo e na importância de valorizar o bem comum; não havia propriedade privada, todos colaboravam com todos e intolerância religiosa e fanatismo eram punidos com exílio. A fé, portanto, era vista como consequência da razão (sempre a razão) e um instrumento fundamental para o exercício e a aplicação da justiça. Utopia mesmo, não?
A propósito de aristocracias [do grego aristos (melhor) e kratos (poder), "governo dos melhores"], Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita e pseudônimo do pensador, filósofo e professor Hyppolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), em seu livro “Obras Póstumas” (1890) fala dos quatro tipos de aristocracia que dominaram o mundo, até então: patriarcal, da força bruta, do nascimento e do dinheiro. Dizia Kardec que chegaria o dia em que o mundo seria governado pelo quinto tipo de aristocracia, vinda daqueles que manifestavam sua força moral, unindo inteligência e moralidade. Eles constituiriam o que Kardec chamava de a aristocracia intelecto-moral, cujas ações visariam apenas ao bem comum, ao bem de todos, do grupo, nunca para satisfazer interesses pessoais. Só a partir daí é que poderia haver a “resolução dos problemas sociais, políticos, econômicos, religiosos e culturais” da humanidade.
Depois dessas visões utópicas e de aristocracia humana, só resta uma pergunta que cada um deve fazer a si próprio: a que distância estou desse último tipo de aristocracia nada utópica?
Referências
Chauí, Marilena. A República, Platão. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Tradução Salvador Gentil. Revisão Elias Barbosa. 1 ed. Araras/SP: IDE, 1993