quarta-feira, 6 de abril de 2022

Ecos Arquitetônicos | Moradia para Idosos (3)

Quis encerrar a série sobre o tema (há dois posts anteriores (Moradia para Idosos 1 e Moradia para idosos 2) trazendo duas novidades para grande parte dos leitores. Para mim, certamente, foi uma bela surpresa. Quando comecei esta série, incomodada com o assunto, não imaginei que já existissem dois projetos públicos exitosos e premiados nessa área, ambos da prefeitura de São Paulo: a Vila dos Idosos, no Pari, e o Palacete dos Artistas, na Av. São João. Ambos fazem parte do programa Morar no Centro, de locação social da Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab-SP), empresa municipal destinada equacionar a questão habitacional da cidade.  O Programa de Locação Social, surgido primeiro na Europa para suprir o déficit habitacional depois da segunda guerra mundial, oferece subsídios para populações vulneráveis e de baixa renda no acesso à moradia. Idosos  que recebem até três salários mínimos pagam como aluguel o equivalente entre 10% e 15% dos rendimentos de suas aposentadorias. 


Vila dos Idosos, Pari. São Paulo. Foto: Jornal da 3a Idade.

 

A Vila dos Idosos foi inaugurada em 2007. A ideia de um conjunto específico para idosos existe desde 1999, mas só em 2003, na gestão de Marta Suplicy (PT), o terreno para a construção do conjunto foi colocado à disposição para esse fim. Em 2017, foi reconhecido como modelo de política pública de moradia digna para idosos para as demais cidades brasileiras.  

Na Vila moram 200 pessoas, em 145 unidades habitacionais distribuídas entre 90 quitinetes (30 m²) e 55 apartamentos de um quarto (43 m²). Do total 25% são adaptadas para portadores de necessidades especiais. Os espaços comuns incluem três salas para TV e jogos, quatro salas de uso múltiplo no térreo voltadas para a rua, salão de festas com cozinha e sanitários, área verde, espelho d’água, horta comunitária e três elevadores. Os moradores têm assistência médica pelo Programa de Atendimento ao Idoso (PAI), desenvolvido pela Unidade Básica de Saúde (UBS) da região e acompanhamento semanal de assistentes sociais e psicólogos. A maioria dos moradores preferem estar lá do que em asilos, pois consideram a Vila uma grande comunidade. Atendendo aos critérios da Cohab, o idoso se inscreve e aguarda.

O arquiteto Hector Viglieca é o autor do projeto pioneiro da Vila dos Idosos, que atende às reivindicações de entidades da sociedade civil (Conselho Municipal do Idoso e Grupo de Articulação para Conquista de Moradia dos Idosos da Capital (GARMIC), grupos com os quais o projeto foi muito discutido. O local recebe visitas de inúmeras prefeituras interessadas e, no caso paulistano, o Garmic continua se mobilizando e reivindicando a construção de, ao menos, uma vila dessas (em menor escala, com 40 habitações) em todas as 32 subprefeituras da cidade de São Paulo, justamente para deixar os idosos em seus bairros de origem. O leitor encontra uma descrição do projeto no site do Arquiteto Hector Vigliecca.   


Imagem: Divulgação
Por sua vez, o Palacete dos Artistas (iniciado na gestão Kassab e entregue na gestão Haddad) foi inaugurado em dezembro de 2014 e, como o nome diz, abriga idosos que exerceram algum tipo de atividade artística e foram filiados a entidades ligadas a essa categoria. Em 2011, a Cohab adquiriu um antigo cinema abandonado (Hotel Cineasta). Tombado pela prefeitura, o prédio foi recuperado com a técnica retrofit (que mantém a estrutura do imóvel, mas permite adaptações e um novo uso diferente do original) e transformado em habitação de interesse social. Hoje, abrigando 60 artistas, o palacete tem 50 unidades, 10 por andar - do 2º ao 6º pavimento - com área média de 40 m2, sendo duas unidades por andar adaptadas para pessoas com deficiências. É considerado o melhor exemplo de locação social da cidade, com a gestão feita em parceria entre a Cohab e os próprios moradores. 
 
Uma pena que o número de unidades é insuficiente e a fila de espera é longa. Agora, se o programa é tão bom como parece ser, ele deve permanecer e ser ampliado, ou seja, ser transformado em política de Estado e não em política de governo, ao sabor dos ventos de cada mandato. Sem dúvida, os empreendimentos particulares podem ser ótimos, sobretudo os geridos por instituições religiosas, e oferecer ótimos serviços, porém, nem todo mundo tem condições de pagar por esses serviços, então, é preciso repensar essa prática, buscar soluções mais viáveis e instituir políticas públicas mais abrangentes e eficazes, já que o número dos idosos só tende a aumentar.   

6 comentários:

  1. Muito bom Anita, este post que completa a série sobre o tema de moradia para idosos ajuda a dar um bom panorama, obrigado.

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    1. Obrigada, Celso. Tem muito mais para ser pesquisado, com certeza, mas é uma forma de manter o tema no radar dos arquitetos, da sociedade e dos gestores públicos, não? Abraços

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  2. Sensacional esta série. Parabens pelo excelente trabalho de pesquisa sobre esse tema que é de suma importância. ����������������

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    1. Obrigada, querida Telma Borges. Tomara que o tema nunca saia de "moda", né? Deve ser permanente. Beijos

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  3. Anita, parabéns pela pesquisa e pelos achados! As filas para o ingresso demonstram a carência de tais empreendimentos sociais! Que eles se multipliquem e que o tema não saia das agendas públicas!

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  4. Parabéns Anitinha!por está pesquisa.Muito bom os seus 3 textos e nos apresentando esses acolhimentos aos idosos. Tomara que essa iniciativa se faça em todo o Brasil.

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