Estátua de Drummond, no Rio. Wikipedia |
Publicado em 1930, o Poema de Sete Faces é um dos mais conhecidos do poeta de Itabira, Carlos Drummond de Andrade (1902–1987), mas até hoje sua leitura desperta sentimentos de solidão e inadequação, muitas vezes inconfessáveis. Drummond vivia e valorizava o cotidiano, a passagem do tempo, os temas familiares, sociais e políticos. Via, sentia, sofria e poetizava. Como no poema abaixo, eu também me sinto cada vez mais estranha, deslocada, inadequada, isolada e falível numa sociedade estranhamente alienada, uma sociedade que parece estar perdendo sua humanidade.
Poema de Sete Faces | Carlos Drummond de Andrade
Quando
nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O
bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.
O
homem atrás do bigode é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,
Meu
Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo
mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Referências
Anita, quanto mais a gente lê Drummond, mais a gente quer ler. Eu não conhecia este poema, mas irei lê-lo novamente, e novamente, e novamente. Para mim, ficou aquela percepção de atualidade! Parabéns pelo seu texto! Bjs
ResponderExcluirDrummond é livro de cabeceira. Obrigada por comentar. Mas deixe seu nome da próxima vez....
ExcluirOlá Anita! Li essa postagem três vezes! Estava me sentindo exatamente assim, quando recebi esse texto veio-me um termo muito usado na literatura "me sinto num entre lugar"! Tudo tão seco, tão individua
ResponderExcluirSim, ingenuamente achei que a pandemia traria mais humanidade ao ser humano. Como me enganei.....deixe seu nome e abraços
ExcluirOlá Anita! Li seu texto três vezes! Me sinto assim, estou no que alguns teóricos chamam de "entre lugar"! Tudo tão árido e nós caminhamos entre isso!
ResponderExcluirSim, mas não podemos desistir! Alegria. Resiliência e acolhimento, sempre!!!!!!!abraços
ExcluirAnita, belíssima introdução para um poema maravilhoso. Suas palavras autorais despertaram o desejo da poesia.
ResponderExcluirDrmmond nos toca de uma maneira sutil mas que emociona...
ResponderExcluirExato. Tão sutil que, muitas vezes, o sentimento passa batido....obrigada por comentar. Abração
ExcluirUma de suas mais belas postagens.
ResponderExcluirBonito texto Anitinha! Chega a ser emocionante e bastante atual.Drummond inesquecível!👏👏
ResponderExcluirInesquecível! Bjs
ExcluirÓtimo, Anita! As palavras desse poeta gigante... a gente lê e está tudo ali, tão móvel e tão perene. Abraços
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