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Foto aérea da Serra da Capivara, PI. Divulgação
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Existem mulheres incríveis em todos os ramos de conhecimento. Alguém
duvida? Já dizia o sambista que quem não gosta de samba está doente do pé. Que
me desculpem os preconceituosos, mas quem não valoriza e respeita as
mulheres (ou as diferenças) está doente do pé, da cabeça e da alma. Então, em tempos de falta de ídolos de fato, de indivíduos que mereçam tal
título e a responsabilidade que ele acarreta, que possamos nos inspirar em mulheres como a arqueóloga Niède Guidon (1933)
que, com seus 90 anos recém-completados, leva o prestígio e a honra de ser responsável por
descobertas incríveis sobre a povoação do ser humano na América e por implantar
o Parque Arqueológico da Serra da Capivara, no Piauí (ver aqui).
Profissional super premiada nacional e internacionalmente, chamada de
“onça” pelos amigos, Niède Guidon, filha de pai francês e mãe brasileira, nasceu na cidade paulista de Jaú, fez
História Natural na USP, especializou-se em Arte Rupestre e doutorado em Arqueologia Pré-histórica na Universidade Sorbonne em Paris,
voltou ao Brasil e com muito trabalho, várias controvérsias e apoio da França e de
grande parte da comunidade local, ela identificou, estudou e divulgou um dos
maiores parques arqueológicos do mundo. Dizia que vivia o presente “procurando
o passado” e, de fato, descobriu na Serra da Capivara indícios, vestígios
humanos e pinturas rupestres com datação de 26.000 anos, o que levou a um
questionamento das teorias anteriores sobre a chegada do ser humano nas
Américas. Levou ao mundo o nome do nosso país, do Piauí e da pequena cidade de São Raimundo
Nonato. Hoje, a cidade tem faculdade de arqueologia e um lindo
trabalho social por trás. Desde o início
das pesquisas, Guidon envolveu e educou a comunidade
local, onde conseguiu guias, funcionários e assistentes.Falou-lhes da riqueza e da importância daquele local, e ensinou-lhes não só a
escavar, mas a apreciar e valorizar aquele pedaço de chão. Deu-lhes conhecimento e
formação para que se desenvolvessem, mas muitos ainda se ressentem da criação do parque.
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Niède Guidon. Foto: Acervo Fumdham
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O início. Em 1963, Niède
Guidon trabalhava no Museu do Ipiranga da USP e organizou uma exposição
sobre pintura rupestre de Minas Gerais. Na exposição, um visitante (o então prefeito
de Petrolina) mostrou-lhe fotos de pinturas semelhantes às da exposição na região de São Raimundo Nonato, no Piauí. Era a
primeira vez que Guidon ouvia falar dos
sítios arqueológicos do Piauí. Ora, cientistas (e tradutores) são bichos curiosos por natureza e foi o que bastou para
Niède querer se aventurar por lá, mas ela só conseguiu
visitar e fotografar o local em 1970 e, com esse material, conseguiu que o
governo francês, onde residia na época, financiasse uma pesquisa. Assim, foi
criada a Missão Arqueológica Francesa
no Piauí, na década de 1970, com um grupo de arqueólogos dos dois países, sob a coordenação de Niède Guidon.
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Trilhas e Arte Rupestre.Serra da Capivara. Divulgação.
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Era só o começo, mas a pesquisa foi tão profícua que a missão passou a ser
permanente, mesmo com a resistência e crítica de outros cientistas em função da descoberta de Guidon: a datação dos vestígios encontrados chegava a 26.000 anos e questionava a principal teoria sobre o
povoamento das Américas. Polêmicas à parte, o trabalho continuou e, em 1979, foi criado o Parque Nacional Serra da
Capivara, cuja preservação é garantida pela FUMDHAM (Fundação Museu do Homem
Americano), entidade criada por Niède Guidon. A Fundação administra o Parque junto com
o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 1991 a Serra da Capivara foi declarada
Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Em novembro de 2020, Niède Guidon tomou
posse na Academia Piauiense de Letras e, em 2022, na Academia Brasileira de Ciências.
Desde que se aposentou nos anos 1990, da universidade francesa
onde lecionava, Niède mora em São Raimundo Nonato e os frutos de seu trabalho
estão expostos não só no Parque Nacional da Serra da Capivara e na Fundação do
Museu do Homem Americano (FUMDHAM), mas também nos dois museus que ela criou: o
Museu do Homem Americano e o Museu da Natureza (MuNa).
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Museu do Homem Americano. Imagem:Wiki
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Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham). Criada para garantir a preservação
do patrimônio cultural e natural do Parque Nacional Serra da Capivara, é uma entidade civil de interesse público, sem fins lucrativos, que realiza
atividades científicas interdisciplinares, culturais e sociais. A sede dispõe de administração, laboratórios de pesquisas, centro de
documentação, biblioteca, auditório, anfiteatro e reserva técnica. Faz parcerias com universidades e instituições nacionais e
internacionais. São destaques a Plataforma Capivara, banco de dados criado para reunir o conhecimento acumulado nas últimas décadas; a Revista Científica Fumdhamentos, desde 1996 divulga as pesquisas das áreas de conhecimento
do Parque e afins; os Projetos Socioculturais em educação ambiental, horticultura, artesanato, cerâmica (trabalho premiado), sempre procurando integrar a população local com o patrimônio cultural e natural, priorizando a sustentabilidade individual e da região para, aos poucos, transformar a vida das
comunidades.
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Pedra Furada, Serra da Capivara. Divulgação
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Parque Nacional da Serra da Capivara. Território com o maior número de sítios
arqueológicos das Américas, cobre 130 mil hectares, mais de 1300 sítios (204 prontos para visitação, 17 acessíveis a pessoas com
dificuldades de locomoção).Os Circuitos
e Trilhas incluem sítios e passeios variados, em função do tempo disponível para visitação e do grau de dificuldade (do mais suave ao
mais aventureiro). Os circuitos incluem: Serra Hombu, Baixão das Mulheres, Pedra
Branca, Desfiladeiro da Capivara e Baixão da Pedra Furada (onde está o
Centro de Visitantes). O parque oferece ainda Ecoturismo nas quatro serras (da Capivara, Branca, Vermelha e Talhada), para aventuras ao ar livre, trilhas, rapel, caminhadas e passeios de
bicicleta, diferentes paisagens para ver os monumentos geológicos, a
fauna e a flora da caatinga.
Museu do Homem Americano. Situado na sede
da Fumdham, foi criado para divulgar a importância do patrimônio cultural dos
povos pré-históricos na região e exibe os resultados de mais de quarenta anos
de pesquisas realizadas no parque: fósseis dos seres
humanos que viveram ali, objetos, adornos, instrumentos pré-históricos, esqueletos, urnas funerárias entre outros.
Museu da Natureza (MuNa). Inaugurado
no final de 2018, em uma cidade próxima a São Raimundo Nonato, o MuNA se dedica
à natureza e aos animais da Serra da Capivara, exibindo descobertas
paleontológicas, ou seja, fósseis de animais que viveram ali há milhares de
anos, alguns deles atualmente extintos.
De modo geral, o parque recebe em média 20 mil visitantes por
ano, o que é muito baixo se comparado a outros parques. De qualquer
forma, ainda faltam na região: recursos financeiros para a gestão do parque, hotéis de
qualidade e facilidade de acesso. Por exemplo, inaugurado em 2015 por pressão da FUMDHAM, o aeroporto perto de São Raimundo só começou a operar em 2022. Ao que parece, não só o
turista mas também as autoridades não dão o devido valor aos tesouros de sua própria história.
Referências
https://www.360meridianos.com/2021/03/niede-guidon-serra-capivara.html
https://www.360meridianos.com/especial/serra-da-capivara
http://fumdham.org.br/
https://www.brasilfashionnews.com.br/serra-da-capivara-a-surpresa-do-seculo-detalha-o-processo-de-descoberta-do-maior-acervo-de-pinturas-rupestres-do-mundo/
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2023/03/12/interna_gerais,1467701/amp.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ni%C3%A8de_Guidon
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aeroporto_de_S%C3%A3o_Raimundo_Nonato
https://www.saoraimundo.com/index.php/ceramica-serra-da-capivara-ganha-premio-de-melhor-projeto-sustentabilidade-do-brasil/