Ecos Arqueológicos | Sítios brasileiros

Parque Nacional da Serra da Capivara. Divulgação

Quando terminei a faculdade, já praticava yoga e fazia o curso de formação na área. Como complementação, resolvi fazer Filosofia, na FFLCH-USP, à noite. As poucas matérias que fiz deixaram marcas. Duas foram com a brilhante filósofa Marilena Chauí e a outra, optativa, vinha sanar parte da minha curiosidade sobre quem viveu antes de mim, onde, como e quando. As professoras eram arqueólogas do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.    

 

Serra da Capivara, PI. Divulgação

Discutíamos objetivos, métodos e vestígios de ocupação humana encontrados durante as escavações, pistas para os arqueólogos desvendarem o modo de vida de povos de tempos idos: artefatos feitos ou modificados pelo ser humano, estruturas como restos de construções, cemitérios, abrigos e vestígios ambientais como traços de plantas, sementes, animais, conchas. Depois, o foco foi o incrível trabalho realizado pela arqueóloga Niède Guidon (tema de outro post) na criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no município de São Raimundo Nonato, no Piauí. 

Explicando o conceito. Sítios arqueológicos são áreas que abrigam/ abrigaram traços de ocupação humana pretérita e são relevantes para a história da humanidade. São protegidas como bens da União (CF, art. 20) e, portanto, destruí-los é crime. Há vários tipos de sítios e no Brasil temos: sítios abrigados ou a céu aberto; megalíticos, históricos e os conhecidos sambaquis, depósitos de conchas junto ao litoral ou rios, com restos de ossos e objetos de povos ancestrais. No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) identificou e cadastrou mais de 20 mil sítios arqueológicos e, desse total, 18 são tomados, sendo onze sítios arqueológicos e seis coleções preservadas em museus. Cito alguns deles como sugestão para futuras viagens do leitor:  

Parque Nacional Serra da Capivara, São Raimundo Nonato, Piauí. Considerado Patrimônio Mundial pela Unesco, em 1991, é o parque arqueológico mais importante do país. Situa-se a pouco mais de 500 km de Teresina e sua área abrange 130 mil hectares, quase mil sítios, rica vegetação, mais de 60 sítios abertos, 14 trilhas abertas à visitação que podem ser percorridas a pé ou de bicicleta, inúmeros animais, um imenso museu a céu aberto com pinturas rupestres nas paredes de pedra, artefatos líticos (de pedra lascada e polida), esqueletos etc.

Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco. A ~300 km de Recife, com pouco mais de 62 mil hectares, é o segundo maior parque arqueológico do país, com mais de 42 sítios catalogados e formações geológicas antiquíssimas de arenitos de diversas cores. Abriga mais de duas mil cavernas e 28 cavernas-cemitério. Estima-se que as pinturas rupestres, registros e artefatos datem de 1000 a 3000 anos.  

Sítio Megalítico Rego Grande, AP

Parque do Solstício ou Sítio Megalítico Rego Grande, em Calçoene, Amapá. A 370 km de Macapá, está o chamado 'Stonehenge' do Amapá, no meio da Floresta Amazônica. No topo de uma colina, o sítio megalítico é composto por 127 rochas, dispostas em formato circular, datados de ~entre 500 e 2000 anos. Acredita-se que a disposição das rochas atendesse a rituais e observações astronômicas. É comum ver publicações ilustradas com fotos e comparando este sítio com o de Stonehenge, na Inglaterra.

Pintura rupestre. Lajedo Soledade, RN. Divulgação

Sítio Arqueológico do Lajedo de Soledade, Apodi,  Rio Grande do Norte. Na Chapada de Apodi, a 80 km de Mossoró, este sítio é quase um museu marítimo. Há milhões de anos, a área era coberta pelo mar, o que deu origem aos belos conjuntos de rochas e cavernas calcárias do  parque, com muitas pinturas rupestres. O local, que já foi tema de documentário da BBC de Londres, quase foi destruído, mas acabou sendo salvo por geólogos da Petrobras. Iniciadas nos anos 1990, as pesquisas descobriram fósseis de ostras, araras, garças, lagartos, bicho-preguiça, tatus gigantes, mastodontes e tigres dente-de-sabre do período Glacial.

Sítio Arqueológico Pedra Pintada, Roraima.  Situa-se a 140 km da capital, Boa Vista, no sul de Pacaraima. Na entrada do parque, a Pedra Pintada, arredondada e com mais de 35 metros, já impressiona os visitantes; as pinturas rupestres, artefatos e peças de cerâmica têm milhares de anos. A visitação é organizada pela Reserva Indígena São Marcos.

Sítio arqueológico Pedra Pintada de Cocais, em Barão de Cocais, Minas Gerais. O sítio fica no conjunto montanhoso de importância ambiental, o Espinhaço, cujos paredões são repletos de pinturas rupestres. As pinturas, feitas com pigmentos minerais, mostram macacos, veados, peixes, aves e armas de caça e remontam há pelo menos 5-6.000 anos. 

São Miguel das Missões. Foto. Divulgação

 Sítio Arqueológico Lapa do Santo, em Matozinhos, Minas Gerais. Localizado na região central de Minas, faz parte da área de proteção ambiental de Lagoa Santa, sendo um dos sítios mais conhecidos do Brasil, pelas dezenas de esqueletos humanos lá encontrados com até 123 mil anos de idade. Outros sítios arqueológicos são o Parque Estadual Monte Alegre (PEMA), Monte Alegre, no Pará; o Vale dos Dinossauros, em Sousa, no estado da Paraíba, onde foram descobertos os primeiros indícios brasileiros de dinossauros, já no final do século XIX; os Sítios Arqueológicos de São João Batista e de São Miguel das Missões, em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul, O Parque Nacional de 7 Cidades, no Piauí e tantos outros. Vale uma imersão nesses sítios. Nossa história agradece.

 

Mbói Pytà_Ancestrais Animais. Artistas_Mayra Karvalho e Tapixi Guajajara (Divulgação/MHN)

 

Para concluir, desde fevereiro, está em cartaz no Rio de Janeiro, no Museu Histórico Nacional (MHN), a mostra de longa duração: Îandé-aqui estávamos, aqui estamos. A exposição fala das origens e tradições dos povos originários do Brasil antes da chegada dos portugueses e inclui rodas de conversa, feira de arte, apresentações culturais, exposição de objetos, adornos e obras de arte indígenas. Tais ações só fazem crescer a consciência da tradição e da cultura dos nossos ancestrais, a quem devemos honrar. Imperdível. Em tempo, Iandê, em tupi, significa ‘nós e vocês’! 

“Îandé é fruto desse esforço e da necessidade de dar protagonismo às histórias que durante muito tempo foram invisibilizadas”. (Pedro Colares Heringer, diretor substituto do Museu Histórico Nacional).  

Referências: 

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/42
https://lajedodesoledade.org/
https://revistapesquisa.fapesp.br/as-pedras-do-sol/
https://sites.usp.br/lapadosanto/o-sitio-arqueologico-lapa-santo/
http://mhn.museus.gov.br/index.php/mhn-abre-nova-exposicao-de-longa-duracao-sobre-povos-originarios-do-brasil/
https://www.skyscanner.com.br/noticias/4-sitios-arqueologicos-para-visitar-no-brasil
https://www.melhorescola.com.br/artigos/sitios-arqueologicos-no-brasil-conheca-a-riqueza-historica-presentes-nesses-locais
https://www.brasil-turismo.com/amapa/calcoene.htm
https://g1.globo.com/ap/amapa/natureza/amazonia/noticia/2019/12/02/erguido-no-meio-da-floresta-stonehenge-da-amazonia-ainda-guarda-misterios-para-a-ciencia.ghtml
https://rotadosparques.wixsite.com/instituto/post/conhe%C3%A7a-8-incr%C3%ADveis-parques-arqueol%C3%B3gicos-no-brasil
https://www.icmbio.gov.br/parnaubajara/atributos-naturais.html?id=30:espeleologia-paleontologia-e-arqueologia&catid=13:atributos-naturais
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lapa_do_Santo