sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Ecos Tradutórios | Fim de semana de aprendizado

A semana começou com uma baita ressaca mental depois de um final de semana intenso com dois eventos de peso: a V JOTA- Jornada de Tradução e Adaptação da USP e o PROF 2023 - Simpósio Profissão Tradutor. No mais das vezes, participo de forma presencial desde a primeira edição dos dois eventos. Este ano não deu e acabei ficando com a forma virtual mesmo. Depois de estudar a programação e destacar o que mais me interessava, fiquei pulando de um site a outro, assistindo às apresentações: palestras, mesas-redondas, comunicações, painéis. Só posso dizer que o final de semana foi muito rico, com muito material para reflexão. Fiz até uma excelente oficina sobre tradução e oralidade, dentro da V JOTA, com as professoras Solange Pinheiro e Ana Lúcia Kfouri, ambas da FFLCH-USP. Muita coisa para pensar, estudar e melhorar! 

Em geral, assisto às palestras no computador e durante os eventos, como uma escriba, vou anotando tudo o que me interessa das diversas falas. Depois, como sempre faço, organizo o material que consegui absorver. Assim, ao me organizar, acabo revendo tudo o que ouvi e destacando materiais para pesquisa e reflexão posterior. Foi sempre assim, com todos os cursos que fiz - na faculdade, na pós-graduação, nos cursos de especialização, nos congressos, nos cursos de línguas... Sou uma nerd, podem dizer... mas é assim que aprendo: ouvindo com atenção, anotando e, depois, organizando, corrigindo minhas anotações e separando o que vale para refletir e levar adiante.  Agradeço aos organizadores @FFLCH-USP e @Ana Julia Perrotti-Garcia, e à internet por esses encontros, coisa que não seria possível há alguns anos.

Referências

https://www.vjota.com/ 

https://www.proft.com.br/ 

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Ecos Urbanos | Memória e porvir

Goiás, GO. Foto: Anita Di Marco
Aveiro, Portugal. Anita Di Marco

Quando se fala em paisagens, naturais ou construídas, fala-se em natureza, em arquitetura e urbanismo, em engenharia, em técnica, em espaços. Fala-se em elementos que povoam nosso cotidiano desde a época dos primeiros assentamentos humanos: apoio, abrigo ou conexão; praças, edificações, conjuntos, pontes, estradas, urbanismo, cidade. Fala-se de presente e futuro, mas também de passado, já que é inevitável associar lembranças e memórias aos lugares por onde passamos e circulamos, às edificações e espaços onde nascemos, brincamos, crescemos, trabalhamos. 

Parque, Caxambu.Foto: Anita Di Marco
Piso drenante. Divulgação

Em suma, o cenário urbano, conformado pelas edificações e pelo o espaço, público ou não, entre elas, é o que emoldura a vida cotidiana. Memórias, fatos e lembranças, no mais das vezes, estão associados a algum lugar, mas nem sempre tal associação é consciente. Vivemos como se flutuássemos, sem perceber o mundo físico e real à nossa volta, sem perceber nosso papel e nossa responsabilidade nesse cenário. Porém, é aí que espaço, tempo e ação se misturam.

Varginha. Foto: Anita Di Marco
São Paulo. Foto: Divulgação

Criamos e somos corresponsáveis não só pelas nossas casas, mas também pelos espaços onde circulamos, pelas cidades onde vivemos. A forma de tratar nossa casa importa, logo, a forma de  tratar nossa cidade importa. Importa o modo como vemos, agimos e lidamos com esse palco da vida cotidiana. Essa forma de agir gera consequências para nós, para nossa saúde física, emocional e mental. Cuidar da nossa casa é tarefa individual, mas cuidar da nossa cidade é tarefa coletiva. Você trata sua cidade como sua casa maior, como uma sala de estar coletiva, um refúgio, um cenário onde você pode desempenhar, a contento, seus diversos papeis ou como território de ninguém? 

 Arquitetura Hostil. Divulgação
Ciclovia, São Paulo. Divulgação

É preciso reaprender a arte de ver, identificar, nomear, mudar e cuidar desse organismo vivo que é a cidade. Podemos mudar cada uma delas para o bem comum. Se cada um cuidasse bem de sua cidade, se a encontrasse sem lixo, sem vandalismo, sem insegurança, sem exclusão... Uma beleza!

Cuidados. Foto: Divulgação

Cada cidade é especial e alguns sortudos conseguem ter mais de uma – o lugar onde nasceram, o lugar onde moram, estudam e/ou trabalham. Esse qualificativo “especial” só é alcançado graças ao olhar amoroso de quem vê a cidade como sua e se vê como corresponsável --- seja morador, estudante ou visitante esporádico. Convido-o, então, caro leitor, a olhar para sua cidade - construções, ruas, espaços livres, horizontes -- com outro olhar, um olhar de curiosidade, de interesse, respeito, amorosidade e, sobretudo, cuidado. Convido-o a “saber ver”, a reaprender a olhar e a cuidar, porque o futuro as aguarda. Nós não estaremos aqui, mas nossos descendentes, sim!   

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Ecos Humanos | Façam o que eu digo, mas...

Muitos dizem que não gostam de política. Ora, se você não gosta, quem gosta acaba decidindo por você, certo? Ou seja, ao negar a política o indivíduo abdica do seu poder de pensar e interferir nos rumos de sua comunidade imediata, da cidade ou do país. Além disso, ouço ainda das mesmas pessoas: Político é tudo igual. Discordo em gênero, número e grau. Basta pesquisar, analisar, ter dimensão histórica e pensar criticamente

Ah, este é o x da questão: ter pensamento crítico. Formar o pensamento, como diz a filósofa e professora emérita da USP Marilena Chauí, é um processo longo, que leva tempo; não é algo rápido, instantâneo ou mágico. É preciso ler, estudar, pensar, comparar, analisar, criar repertório, analisar de novo para então desenvolver o pensamento crítico. E nesses tempos de imediatismo, abreviações e textos telegráficos, tudo parece infinitamente mais complicado. A propósito, leia aqui o artigo de Rubem Alves (1933-2014) Sobre política e jardinagem e outro post do Blog Anita Plural sobre o mesmo tema.

O fato é que, na vida, qualquer ação é política. Por exemplo, recusar-se a consumir ou comprar produtos roubados ou muito baratos (mágica não existe, pois não?), contrabandeados ou feitos com trabalho escravo é um ato político (e uma obrigação ética). Não me importa se aquele produto é considerado "melhor". Deixou de ser quando eu soube da condição em que era produzido. Por isso, não se pode viver impunemente. É preciso ter pensamento crítico e coerência na prática cotidiana, não só na teoria. 

Cultivando um jardim, Kent. Foto: Anita Di Marco,2013

Afinal, quero viver num país, numa cidade, numa comunidade ética, onde todos tenham educação, consciência, dignidade e qualidade de vida. Ainda citando Rubem Alves, no mesmo artigo, "De que vale um pequeno jardim se, à sua volta, está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim". Coerência é agir de acordo com o que se pensa e se fala. Porque, infelizmente, conhecemos muitos que têm um belo discurso, mas não pensam, nem tampouco agem de acordo. Como dizia minha avó: "por fora bela viola, por dentro pão bolorento". Mas, felizmente, também temos os exemplos daqueles mais discretos que pensam e fazem o que deve ser feito em prol do bem comum, mas pouco falam. Em qual time você quer jogar? 

Referências

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1905200009.htm  

https://anitadimarco.blogspot.com/2016/09/reflexao-linguas-literatura-politicos-e.html 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Ecos Imateriais | Saudade, a quase presença...

Quantas vezes você já ouviu dizer que saudade é um termo só nosso, belo e intraduzível. Bobagem! Talvez não exista como uma palavra tão linda (para nós), mas qualquer ser humano  sente, sabe o que é e como expressar esse sentimento. Até os animais... basta ver a reação do seu bichinho de estimação quando você se ausenta de casa por muito tempo... Há vários tipos de saudade – a saudade de outros tempos da nossa vida, de quando éramos jovens, estudantes e sem tantas preocupações e contas para pagar, de quando morávamos na casa de nossos pais, de quando nossos filhos eram pequenos, do abraço de nossa mãe, do cheiro da comida da avó, de algo simplesmente indefinível e ainda aquela doída, o luto,  pela ausência de alguém que já se foi, uma saudade que poderia ser confundida com uma "quase presença dos ausentes".  

Sentir saudade é natural e inevitável, mas sobretudo no caso do luto é preciso vivenciar a perda. O que não se pode,  em prol do nosso e do equilíbrio daqueles que nos rodeiam, é ficar apegado a um sentimento de dor e revolta, pois, nesse caso, estaremos nos afundando, contagiando o ambiente e impedindo o ser amado de seguir seu caminho, pois ele sente nosso estado de espírito. Ao viver em permanente estado de revolta, a pessoa rejeita o presente e, aí, a saudade se transforma em distanciamento da família, dos amigos e do convívio social. É hora de acender a luz de alerta e recorrer à ajuda profissional. E é sempre oportuno lembrar que estamos aqui de passagem, por isso a importância de ter equilíbrio, paz de espírito e uma vida plena, feliz, sem arrependimentos...

 O fato é que a saudade, em geral vista como sentimento negativo, não precisa ser assim. A psicologia a vê como um sentimento que também pode ser bom, que impele o indivíduo a fazer esforços no sentido de retomar situações, reencontrar pessoas e curar feridas.  O que vale, então, é agradecer o tempo de convivência e seguir adiante honrando a lembrança e o legado daquele que partiu antes de nós. Com o tempo, a saudade fica mais leve, menos doída, mas nunca deixará de existir, porque os seres amados têm lugar especial no nosso coração e nós, no deles, porque o amor cria laços indissolúveis. Para quem acredita na continuidade da vida, é um consolo saber que eles serão recebidos por outros queridos que partiram antes e que, um dia, no tempo adequado, voltaremos a nos encontrar. 

Todos nós tivemos, temos e ainda teremos alegrias, tristezas; iremos celebrar conquistas e lamentar perdas.  Tudo isso faz parte da vida. Então, permita-se viver a saudade, chore, mas não se deixe dominar pela dor e faça o seu melhor no tempo que lhe resta. O tempo passa rápido e, enquanto seguimos viagem, é preciso valorizar os momentos e as pessoas próximas, porque, assim como o tempo, o trem não volta e nós não sabemos quando nossa estação chegará... Mas se vivermos dessa forma, quando ela chegar, partiremos sem arrependimentos e de coração tranquilo.