sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Ecos Literários | Contos de fadas (1/3)

Depois de escrever sobre Italo Calvino e de seu texto sobre os clássicos, andei pensando aqui na questão dos contos de fadas. Aqui mesmo no Blog Anita Plural, já mencionei tais contos (ver aqui e aqui). De onde surgiram? Qual sua origem? Quem contava esses contos?  Bem, o próprio folclore, seus contos, histórias e lendas têm a ver com a longínqua tradição oral que, por muito tempo, foi uma das únicas formas de preservar e manter vivos os costumes, crenças e a cultura dos povos ao redor do mundo. Portanto, eram histórias que existiam há muito tempo e eram contadas muito antes de as línguas serem estruturadas como hoje as conhecemos. Se hoje lemos os contos de Charles Perrault (1728-1703) e dos irmãos Grimm - Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859), por exemplo, vale lembrar que objetivo primeiro desses estudiosos, ao reunir esses contos, era estudar e conhecer a língua local e a tradição de seus povos.

Mas voltando à pergunta: habitualmente quem contava essas histórias? Além da célebre contadora de histórias, Dona Carochinha, personagem presente em vários livros, inclusive em Monteiro Lobato, dizem as pesquisas que, no mais das vezes, eram contadas por figuras femininas com algum tipo de liderança moral ou espiritual no grupo – sacerdotisas, xamãs, profetisas, avós, mães, chefes tribais, ou seja, mulheres contadoras de histórias. 

Como sempre gostei de ler, adorava contar histórias para meus filhos e cheguei a comprar um livro sobre o tema – A Psicologia dos Contos de Fada do psicanalista austríaco Bruno Bettelheim (1903-1990). No livro, ele fala dos símbolos e alegorias presentes nesses contos, auxiliando as crianças a compreenderem e estabelecerem relações entre as narrativas fantásticas e temas importantes para sua vida emocional e seu inconsciente. Assim, os contos ajudavam (ajudam) o desenvolvimento psicológico dos pequenos ouvintes. Eles ouviam (ouvem), pensavam (pensam), faziam (fazem) correlações com situações cotidianas e chegavam (chegam) a conclusões  aplicáveis à sua vida.

Daí deduzimos que a repetição faz parte da história, ou seja, o conto tem um significado diferente para cada momento da criança e, por isso, a famosa e tão ouvida frase: “Mãe, conta de novo?" E de novo e de novo e de novo... No meu caso, eu me lembro que contei nem sei quantas vezes a história das Três Plumas.... Era muito bom. A cada nova repetição, uma nova luz, um novo entendimento e, aos poucos, a criança ia (vai) ruminando, fazendo associações, enfrentando seus medos inconscientes e sua insegurança, desenvolvendo-se e aprendendo a ser resiliente. Aprende a cultivar valores, a ir se construindo como alguém que valoriza a verdade, a empatia, a compaixão, alguém que toma consciência de que suas ações afetam o todo, para o bem e para o mal. É um lindo processo ver o amadurecimento e as descobertas desses pequenos seres.

Cada vez mais, tenho comigo que, ao estimular a imaginação, o poder de síntese, a capacidade de dedução, o aprendizado de valores e o desenvolvimento da criança, contos de fada são muito, mas muito mais, infinitamente mais efetivos e interessantes que joguinhos de videogame ou de computador. 

Referências

http://www.dfe.uem.br/comunicauem/2019/08/28/era-uma-vez-as-origens-dos-contos-de-fadas/

https://www.editorawish.com.br/blogs/contos-de-fadas-originais-completos-e-gratuitos

https://www.terra.com.br/amp/story/diversao/fabulas-dos-irmaos-grimm-contos-infantis-que-atravessam-seculos,4eb426fd21be037ede7e6b7d7db39c26rsva9dq0.html

https://www.todamateria.com.br/contos-fadas/ 

https://www.ebiografia.com/irmaos_grimm/    

https://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/joao_bobo_e_as_tres_plumas 

13 comentários:

  1. Perfeito. Contos de fadas são eternos. Na tradição africana - não me pergunte país - o contador de histórias é o guriô,.
    Um contador maravilhoso
    é de Beagá e se chama Roberto Carlos.
    Bjs Eneida

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  2. Sabias palavras, sempre estimulando a reflexão,

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  3. Sempre muito bom ler sua reflexões, Anita. Zé Marcelino.

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    1. Vindo de você é um baita estímulo para continuar. Obrigada, Zé! Abração....

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  4. Belo contar… bjs IsaRe

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  5. Gostei das tuas palavras que vão desencadeando um lembrar da minha própria história com meus queridos filhos e sobrinhos. Bjinhos ☆☆☆☆☆

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    1. Marta, querida, é você? Acho que nossa geração contava muito mais histórias do que agora....estou errada? Beijos

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  6. Olha só. Não sabia ... Preciso pesquisar mais. Obrigada, Eneida. Bjs

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  7. Muito bom Anitinha! Gostoso de ler seu blog, sempre um aprendizado. Bebel

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  8. Amei esse texto , Anita! Como é importante o contar esse riquíssimo tesouro... sim, as crianças exorcizam suas angústias... que bom que vc escreveu leu, falando do Bethelheim!
    Sempre que posso revejo as ilustrações do Joias de Literatura Infantil. Ou juvenil, sempre confundo. Parabéns sempre!

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    1. Eu precisaria ler mais os autores atuais ... Tenho visto tanta criatividade, tanta lindeza... Bjs

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  9. Ouvir histórias também fortalece o vínculo com 8/a contador/a... é maravilhoso para as relações <3

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    1. Exatamente, assim como é bom para quem recebe é ótimo para quem conta. Mães e avós sabem disso. Com certeza! Bjs

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