Caro leitor, talvez você esteja se perguntando o que
tem a ver com linguística ou com o título deste post.
Muito. O texto, na verdade, foi feito a partir de uma aula dada pela professora, revisora e tradutora Amanda Moura. E o tema serve, a qualquer momento, como alerta e informação a todos, leitores e não leitores. Vejam por exemplo, minha
resenha sobre o livro da jornalista Leticia Sanlorenzo, Gramática da Manipulação, que trata dessas questões. Produto de seu mestrado, na Universidade de Brasília - UnB, o livro descreve os recursos
propositalmente usados por vários veículos de comunicação visando induzir e manipular os leitores, levando-os à determinada conclusão
sobre o fato reportado.
No caso do jornalismo, sem dúvida, a verdade é (ou
deveria ser) o elemento-chave dessa escrita ou "discurso". No caso da ficção,
o trabalho dos profissionais do texto (escritores, tradutores, preparadores e
revisores) tem a ver com uma mensagem, com a transposição de ideias e sentidos
de um indivíduo para outro e, nas traduções, de uma língua para a outra. No
caso de revisores e preparadores de texto, tem a ver ainda com alterações,
inversões, substituição de termos quando for o caso, sempre com uma dose extra
de sensibilidade e respeito ao original. Afinal, excetuando-se o autor, esses
profissionais lidam com textos alheios e qualquer decisão em relação a
possíveis alterações deve ser plenamente justificada e não motivada por
preferências individuais.
De
modo mais ou menos claro, nas entrelinhas ou por meio de vários recursos, um
texto (romance, conto, poema, crônica ou artigo) é a expressão do estilo, do
sentido almejado e da intenção de determinado autor: expor, chocar, questionar,
sensibilizar, levar à reflexão, acamar, despertar o pensamento crítico,
convencer, sugerir ou manipular o leitor. É preciso que se diga isso. Portanto,
o autor utiliza várias estratégias e técnicas de linguagem, como o uso ou não
de sinônimos, escolha ou repetição de determinados verbos, descrições
detalhadas ou imaginadas, sugestões explícitas ou implícitas, destaques e
silêncios, ou lança mão de outros recursos como a disposição na página, a ordem
das palavras e frases, cores, desenhos, figuras e imagens, pontuação, boxes e
elementos gráficos de destaque (negrito, itálico, sublinhado), entre outros. .
Dito isso, ao acercar-se da obra original, o profissional do texto (tradutor, revisor
ou preparador) deve procurar entendê-la
em todas as suas nuances, porque não é só a palavra escrita que
lhe permite compreender o texto, mas toda informação oculta (porém presente) nas
entrelinhas, nos recursos mencionados. Só a partir desse entendimento e
ciente de sua responsabilidade ao lidar com a obra alheia, é que o
profissional pode agir, sabendo que qualquer alteração apressada e irrefletida pode alterar a proposta e o escopo da obra, suavizando ou
exacerbando as intenções do texto, ou pior, esvaziando ou deturpando o
pensamento original do autor.
Como
diz a psicanálise, é pelo discurso que se conhecem os indivíduos, porque a
linguagem manifesta o que somos. Muitos sempre souberam disso, como o grande Graciliano Ramos (1892-1953) que disse: “Só posso escrever
aquilo que sou”.
Referências
https://anitadimarco.blogspot.com/2019/04/ecos-literarios-gramatica-da-manipulacao.html
https://prerro.com.br/a-ultima-entrevista-de-graciliano-ramos/