sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Ecos Linguísticos | Análise do Discurso

Caro leitor, talvez você esteja se perguntando o que tem a ver com linguística ou com o  título deste post. Muito. O texto, na verdade, foi feito a partir de uma aula dada pela professora, revisora e tradutora Amanda Moura. E o tema serve, a qualquer momento, como alerta e informação a todos, leitores e não leitores. Vejam por exemplo, minha resenha sobre o livro da jornalista Leticia Sanlorenzo, Gramática da Manipulação, que trata dessas questões. Produto de seu mestrado, na Universidade de Brasília - UnB, o livro descreve os recursos propositalmente usados por vários veículos de comunicação visando induzir e manipular os leitores, levando-os à determinada conclusão sobre o fato reportado.
 
No caso do jornalismo, sem dúvida, a verdade é (ou deveria ser) o elemento-chave dessa escrita ou "discurso". No caso da ficção, o trabalho dos profissionais do texto (escritores, tradutores, preparadores e revisores) tem a ver com uma mensagem, com a transposição de ideias e sentidos de um indivíduo para outro e, nas traduções, de uma língua para a outra. No caso de revisores e preparadores de texto, tem a ver ainda com alterações, inversões, substituição de termos quando for o caso, sempre com uma dose extra de sensibilidade e respeito ao original. Afinal, excetuando-se o autor, esses profissionais lidam com textos alheios e qualquer decisão em relação a possíveis alterações deve ser plenamente justificada e não motivada por preferências individuais.  
 
 De modo mais ou menos claro, nas entrelinhas ou por meio de vários recursos, um texto (romance, conto, poema, crônica ou artigo) é a expressão do estilo, do sentido almejado e da intenção de determinado autor: expor, chocar, questionar, sensibilizar, levar à reflexão, acamar, despertar o pensamento crítico, convencer, sugerir ou manipular o leitor. É preciso que se diga isso. Portanto, o autor utiliza várias estratégias e técnicas de linguagem, como o uso ou não de sinônimos, escolha ou repetição de determinados verbos, descrições detalhadas ou imaginadas, sugestões explícitas ou implícitas, destaques e silêncios, ou lança mão de outros recursos como a disposição na página, a ordem das palavras e frases, cores, desenhos, figuras e imagens, pontuação, boxes e elementos gráficos de destaque (negrito, itálico, sublinhado), entre outros.  .  

Dito isso, ao acercar-se da obra original, o profissional do texto (tradutor, revisor ou preparador) deve procurar entendê-la em todas as suas nuances, porque não é só a palavra escrita que lhe permite compreender o texto, mas toda informação oculta (porém presente) nas entrelinhas, nos recursos mencionados. Só a partir desse entendimento e ciente de sua responsabilidade ao lidar com a obra alheia, é que o profissional pode agir, sabendo que qualquer alteração apressada e irrefletida pode alterar a proposta e o escopo da obra, suavizando ou exacerbando as intenções do texto, ou pior, esvaziando ou deturpando o pensamento original do autor.

Como diz a psicanálise, é pelo discurso que se conhecem os indivíduos, porque a linguagem manifesta o que somos. Muitos sempre souberam disso, como o grande Graciliano Ramos (1892-1953) que disse:  “Só posso escrever aquilo que sou”.

Referências

https://anitadimarco.blogspot.com/2019/04/ecos-literarios-gramatica-da-manipulacao.html

https://prerro.com.br/a-ultima-entrevista-de-graciliano-ramos/