quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Ecos Literários | Contos de fadas (3/3)

Concluo agora a série de três posts sobre contos de fadas (se ainda não leu, leia parte 1 e parte 2). 
Não pense, caro leitor, que apenas crianças gostam dessas histórias. Basta ver a quantidade de fãs loucos pelas sagas de Star Wars (Guerra nas Estrelas) de George Lucas, The Lord of the Rings (O Senhor dos anéis) de J. R. R. Tolkien, Harry Potter de J.K. Rowling ou Star Trek (Jornada nas Estrelas ) de Gene Roddenberry. São obras que, com certeza, pais e professores também leem ou acompanham. Eu li algumas delas, em especial as do simpático bruxinho de Hogwarts. Como discutir com os alunos sem ler o livro do momento? Vi, li, cansei de algumas coisas, gostei de outras. Gostei mais ainda das soluções encontradas (como quadribol, por exemplo) pela excelente tradutora Lia Wyler (1934-2018), com quem cheguei a fazer algumas aulas e oficinas. Inesquecíveis! 
 
Bom, esses livros trazem elementos das antigas histórias tradicionais que povoam nossa mente e são permeados pela inequívoca luta do bem contra o mal. Mas, com o tempo, as narrativas se desenvolveram e evoluíram. Se antes eram passadas de geração em geração pela tradição oral, a partir do século XVII começaram a ser escritas. Portanto, é difícil precisar suas origens, aliado ao fato de que cada região tinha seus próprios contos, mitos, fábulas, com dados de sua cultura e geografia. Temos os contos nórdicos, os chineses, os árabes, os indianos etc. Por isso, quando lemos “contos originais de...”, é preciso lembrar que talvez não sejam tão originais assim: o que lemos pode ter sido ouvido, mal repassado, modificado e adaptado. Outro motivo para documentar e resgatar os contos de fada foi o interesse de estudiosos como  Charles Perrault, os Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen com o estudo das línguas e das tradições locais.

Mas vamos lá: contos de fada para quem e para quê? Bem, sua finalidade inicial era entreter os convidados dos salões europeus, encontros onde a aristocracia se reunia para socializar, dançar, ouvir música e histórias. Mas não só. Os contos eram também contados por moradores das cidades, em geral, e pelos camponeses. Talvez por isso, esses contos de fadas não tenham, necessariamente, uma moral clara, como as fábulas, mas trazem, sem dúvida, perfeitas noções de comportamentos variados e suas consequências. Para bom entendedor... 

E de início, os contos objetivavam alertar as pessoas sobre perigos e situações estranhas. Porém, com o tempo, começaram a se voltar para o público infantil. Foi com a indústria cinematográfica, especificamente com a Disney, que ganharam versões mais suaves e palatáveis para esse público. Nas versões para o cinema, os finais (muitas vezes trágicos) dos contos foram amenizados e transformados em “finais felizes”.  

Além disso, os próprios pais faziam (fazem?) adaptações ao contá-los para seus filhos pequenos, não? Eu sou um exemplo... No entanto, hoje existem muitos estudos que consideram negativa a suavização feita pela Disney nos anos 1950, por ter alterado demais as histórias, numa época em que se acreditava que as crianças não deveriam ter contato com determinados assuntos.

De qualquer forma, saindo em defesa desses contos, o próprio Tolkien, professor de literatura da Universidade de Oxford, publicou um ensaio intitulado Sobre Histórias de Fadas, no qual afirma que "a principal importância dos contos de fadas é revelar aspectos e belezas da vida, da realidade, e levar as pessoas a encontrarem e descobrirem o bem." Ainda hoje existem muitos estudos pesquisando a origem e os autores/autoras desses contos, a exemplo da pesquisadora, tradutora e professora paulista Susana Ventura, autora de livros premiados sobre o tema.

Resumindo, é inegável que os contos de fada mostram a magia da vida real e também aspectos da realidade que as crianças têm dificuldade em entender e elaborar. Mas também é inegável que continuarão, por muito tempo, a ser um rico manancial para a elaboração das emoções infantis. Viva a magia da literatura!

Referências 

https://tolkienista.com/2020/04/03/sobre-estorias-de-fadas-de-j-r-r-tolkien-uma-apresentacao/
https://www.estudokids.com.br/a-origem-dos-contos-de-fadas/
https://www.justlia.com.br/2009/07/a-verdade-e-a-origem-dos-contos-de-fadas/
http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-112347/?page=5
https://super.abril.com.br/especiais/o-lado-sombrio-dos-contos-de-fadas/
http://www.dfe.uem.br/comunicauem/2019/08/28/era-uma-vez-as-origens-dos-contos-de-fadas/
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160120_contosfadas_origem_tg
https://blog.leromundo.com.br/origem-dos-contos-de-fadas/
https://tolkienista.com/2020/04/03/sobre-estorias-de-fadas-de-j-r-r-tolkien-uma-apresentacao/
https://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudos/visualizar/Qual-o-fascinio-dos-contos-de-fadas-hoje
https://pedagogiaaopedaletra.com/origem-significado-contos-fadas/
https://www.sobrelivros.com.br/entrevista-lia-wyler/ 

7 comentários:

  1. Como estudas e pesquisas, querida Anita!!! És abençoada. Nos presenteia com belas informações sobre os contos de fada de maneira brilhante. Bjos

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    1. Pelo jeito de usar a segunda pessoa, vc deve ser Marta, certo? Obrigada, querida, sua opinião aquece o meu coração... Beijo grande para vocês!

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  2. Linda essa série sua, Anita, falando dos contos de fadas! A narrativa deles ajuda a exorcizar as angústias!
    Parabéns sempre!

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  3. Como é prazeroso e instigante ler seus textos, Anita. Zé Marcelino.

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  4. Muito bom Anitinha! Ler sobre Contos de Fadas nos remete ao passado e na atualidade destes contos.Bebel

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  5. Marlene 8-2-2024
    Anita seus textos são sempre muito significativos. Os contos de fadas sempre me fascinaram e procurei passar isso para meus filhos,e alunos. Puro encantamento! Parabéns.

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