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Meu pai. Horto Florestal-SP. Foto:Anita Di Marco
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Duas faces da mesma moeda, pois tudo o que nasce morre. Só não sabemos quando e, talvez por isso, evitamos tocar no assunto. Mas é a maior certeza da vida. Há exatos 16 anos, numa terça-feira, meu pai partia desta vida. Assim, quando
pensei em escrever este post, do nada, um adjetivo me veio à mente: tétrico! Mas outra frase logo surgiu e tomou seu lugar: “Uma
única faísca de luz espanta as trevas e a escuridão”.
Sim! O conhecimento é a luz de que precisamos. Com o avançar do nosso tempo de vida, é inevitável refletir mais sobre o momento da
partida. Inevitável e natural, já que temos menos tempo a percorrer do que o já
percorrido.
Sobre o tema, algumas músicas, verdadeiros poemas cantados, sempre me emocionam; são canções que falam de saudade, do tempo perdido e da consciência
da finitude da vida. A
primeira é Epitáfio
(do grego epitafius, ou "sobre o
túmulo"), cantada pelos Titãs e composta, em 2002, por Sérgio Britto (1959), um dos
fundadores do grupo. A canção fala da vida, da passagem e da perda de tempo, e de como vivemos de forma mecânica, sem estarmos presentes em cada momento. Fala do acaso, do imprevisto, do fortuito. Porém, como na mensagem que
escrevi à família por ocasião da morte de meu pai, o que vai nos proteger é a consciência de agir e fazer nosso melhor, sabendo que existem
surpresas na vida, sim, mas que temos que enfrentá-las. Por isso, a frase do início deste post - “Uma
única faísca de luz espanta as trevas e a escuridão”, ou seja, nada supera a luz da sabedoria e do conhecimento. Se soubermos que somos luz, que
o Eu superior de cada um é pura luz, não
teremos o que temer; só a agradecer o convívio, a permanência e o aprendizado na grande escola terrestre.
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Obra do artista Bansky
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Outra
música que me emociona é Naquela
Mesa, escrita em 1972 pelo compositor e jornalista Sérgio Bittencourt (1941-1979),
em homenagem a seu pai, o também músico Jacob do Bandolim. Foi imortalizada por
Nelson Gonçalves, que coloca a alma quando canta e diz: “Naquela mesa está
faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”...
A saudade também é inevitável, mas em vez de causar dor, que seja uma saudade de boas lembranças, uma saudade que sabe que a energia amorosa que ligou esses seres vai permanecer, como diz uma frase de Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe: "Aqueles que passam por nós não vão sós e não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós".
Mas não são só canções; os
poemas, a literatura e muitos livros de psicologia e de autoajuda também abordam o tema da partida e do
luto, sob diferentes ângulos. Sem desmerecer nenhum outro, cito quatro deles que chegaram às minhas mãos meio por acaso. O último não foi por acaso. É o relato de uma grande amiga que, por sua perda, talvez tenha sofrido a mais pungente das dores:
— Lutos (Summus, 2024). O livro, uma coletânea recém-lançada pelas
psicólogas Márcia Noleto e Mariana Magalhães, reúne dezoito depoimentos sobre como respeitar e entender a diversidade dos tipos de luto – perda de pessoas
queridas e da família, luto de imigrantes,
luto materno, paterno ou neonatal, luto político, luto por um país, pela
violência, por doenças, pela covid-19, por suicídio etc.
— Notas sobre o luto é da autoria da nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche (1977), uma das maiores vozes da
literatura contemporânea. Nele, a autora aborda, mas não só, a sofrida morte repentina de seu pai, durante a pandemia de covid-19. Um pai sempre presente e muito amado, sobrevivente da Guerra de Biafra e que teve, depois, uma longa carreira de professor. O livro aborda a dor envolvendo essa perda, mas também outros sentimentos, muitas vezes controversos, que se alternam como raiva, solidão, memória, resiliência e esperança.
— Outro
livro bastante atual é A morte é um dia
que vale a pena viver, da geriatra e gerontóloga Ana Claudia Quintana Arantes. Criadora
da Casa do Cuidar, especialista e referência em cuidados paliativos, a autora
aborda a perda sob um novo ângulo: o da valorização de cada momento da vida e
da aceitação com naturalidade do fim de uma caminhada bem vivida. Conclama todos a tomarem consciência da sacralidade da vida, do processo natural da partida e de como é importante (para todos) procurar aceitar de forma tranquila essa passagem, sendo uma presença serena, firme e de apoio para quem parte. É uma ode ao bem
viver e ao bem morrer.
— A maior das perdas, livro da educadora e professora de Educação Física Ione Maria Ramos de Paiva, mostra os
questionamentos de uma mãe que perdeu o filho único em trágico acidente.
Além de confessar que o objetivo primeiro era fazer uma catarse com a escrita do livro, buscando entendimento
e consolo em diversas áreas, da astrologia à meditação, passando pelo Espiritismo
e pelos estudos de Rosa Cruz, a autora confessa que, de alguma forma, pretendia ajudar outros pais que também perderam seus filhos. Este é o relato
sofrido de uma livre pensadora, que trilhou os caminhos de diversas crenças
espirituais sem encontrar nenhum consolo, exceto a elucidação oferecida pela tão
esperada prova da continuidade da vida após a morte.
Na hora da partida, quando chegar nossa vez ou de alguém próximo, que saibamos
enfrentar esse momento único com consciência, lucidez, serenidade, aceitação e
gratidão.
Referências
ARANTES, Ana Cláudia Quintana. A morte é um dia que
vale a pena viver. (Sextante, 2019).
ADICHE
Ngozi, Chimamanda. Notas sobre o luto. (Companhia das Letras, 2021).
NOLETO,
Márcia e MAGALHÃES, Mariana. Lutos (summus, 2024)
PAIVA,
Ione Maria Ramos. A maior das perdas. Rio de Janeiro: Barra Livros.
Tema muito interessante, que precisamos falar! Adorei o tecto!
ResponderExcluir*texto
ResponderExcluir"Naquela mesa" é uma canção que sempre me faz lembrar meu avô!
ResponderExcluirExcelente reflexão! Adorei o texto.
ResponderExcluirImpressionante como a consciência da própria morte e a execução de atos jurídicos ( codicilo, por exemplo) relativos a um evento certo , de hora incerta pode inquietar pessoas... A simples ideia de um fato inevitável e doloroso suscita o mágico descarte do tema. Parabéns , Anita, por trazer a nós a possibilidade de refletir como sujeitos dessa realidade. (Lilian Conde)
ResponderExcluirMuito lindo esse texto Anita. Quanto sentimento foi colocado em suas palavras e quanta sabedoria ao eecrever sobre esse assunto real, simples, mas complexo. A morte é somente uma partida, ou uma chegada! A saudade que sentimos é o amor que fica. ( Maria Inez Carvalho)
ResponderExcluirParabéns. Muito clara e real esse assunto. A morte é simplesmente o retorno a casa do Pai
ResponderExcluirLembrei demais do meu paizinho que está no céu desde 2007. Saudades. Texto reflexivo. Gratidão 🙏
ResponderExcluirGostei muito do seu texto! Ele nos faz refletir sobre a chegada e a partida.Bebel
ResponderExcluirAnita ao descrever a partida do seu Pascoal, me senti tocada e me lembrei da partida de meu pai. O percurso foi muito doloroso , não é possível ver alguém, que tanto amamos ,perder tudo que o fazia um guerreiro.
ResponderExcluirO passar dos dias nos faz sentir a vida indo embora,sem que nada possamos fazer. Agradeço à equipe dos cuidados paliativo, que me preparou para enfrentar essa perda.
Saudades dos dois. Agradeço seu texto.
Lindo o texto, sobre a brevidade da vida.
ResponderExcluirAs saudades são pra sempre...
ResponderExcluirComovente a foto do seu pai.
Anita, finalmente tive tempo de ler e senti no teu texto uma sensibilidade que vem muito de dentro e que me tocou também muito fundo. Também gosto muitíssimo da música do Sérgio Bittencourt e sempre lembro dela quando penso em meu pai ❤️
ResponderExcluirObrigada por compartilhar e pelas dicas de leitura
Me fez pensar agora em um livro de poemas da Astrid Cabral, com poemas sobre o filho morto. Não lembro o título do livro agora mas depois te mando. Namasté
Maravilhoso, Anita!
ResponderExcluirNo "Olugar" estamos fazendo um ciclo de estudo do livro de Pema Chodron "Vivemos como morremos".