Nas eleições locais, por exemplo, os candidatos (a prefeito e a vereador) deveriam ter em mente (mas nem sempre têm) que deveriam estar a serviço de todos, ou seja, a serviço da cidade como um todo. Por isso, seu foco deveria ser o de defender e servir à comunidade, buscando o melhor para a cidade como obra coletiva, para o território e seus cidadãos como um todo. Nesse sentido, a questão urbana, envolvendo tecnologia, sustentabilidade, arquitetura e urbanismo (um bom plano diretor e uma legislação urbanística de qualidade disciplinando e ordenando o uso do solo urbano), por exemplo, deve ser um dos principais guias para as ações dos governos locais.
Além disso, o território municipal não é infinito, muito menos os recursos financeiros; logo, é preciso conseguir o melhor aproveitamento desses recursos e do território, e pensar bem antes de propor qualquer novo projeto ou empreendimento, considerando os custos para a construção (a começar por um bom projeto arquitetônico) e a manutenção em longo prazo. Em outras palavras, ter o caixa em dia deve ser preocupação básica de um bom gestor, seja ele doméstico, empresarial ou público. A expansão urbana desordenada, com a aprovação de novos loteamentos, sem a orientação de um plano diretor ponderado e bem executado que organize o território, é um tiro no pé. Quando essa expansão ocorre sem atender a critérios técnicos, apenas porque alguém resolveu lotear uma área sem uso, os governos locais não terão condições financeiras de dar aos novos bairros a infraestrutura necessária (água, esgoto, iluminação pública, limpeza, coleta de lixo, equipamentos culturais, de saúde, educação, áreas verdes etc.) para o bom funcionamento do bairro. Ademais, ruas e avenidas têm alto custo de manutenção, então é sempre melhor pensar bem e buscar maneiras de adensar a cidade em vez de abrir novas vias e novos loteamentos. Muitos desses novos empreendimentos servem apenas aos interesses imediatos de poucos que só almejam lucro, em detrimento de toda uma comunidade. Melhor é servir à cidade inteira, para ela florescer com condições de ter qualidade de vida, seja nos aspectos físico, humano e financeiro.
A questão dos transportes e da mobilidade é outro gargalo. Transporte público de qualidade e a possibilidade de se deslocar pela cidade de forma tranquila e segura, caminhando ou andando de bicicleta, é garantir um alto grau de mobilidade urbana para qualquer cidade que se pretenda adequada, agradável e segura. Áreas verdes, arborização urbana e espaços públicos bem planejados e cuidados também garantem qualidade de vida e uma paisagem urbana convidativa. Se, de fato, a cidade oferecer bons serviços e qualidade de vida, naturalmente ela vai atrair outras empresas (=empregos), sem ter que apelar para competições malucas com outros municípios oferecendo incentivos fiscais como chamarizes.
Resumo da ópera. Além dos serviços e da infraestrutura física, incluída aqui a segurança, cidades, bairros e comunidades são formados por pessoas que moram, trabalham, se deslocam e usam escolas, postos de saúde, ruas, praças e o espaço público. São elas que cuidam e dão vida aos espaços e equipamentos urbanos. Portanto, devem ter consciência de que não são apenas receptoras de serviços, mas “cocriadoras” da cidade, ou seja, devem cuidar de sua cidade, sim, mas também merecem ser consideradas e cuidadas pelos governos municipais. Somente quando a população se apropria de uma cidade, considerando-a como sua, como faz com o patrimônio histórico a ser preservado, é que as cidades florescem, se desenvolvem e alcançam um patamar de desenvolvimento com qualidade de vida geral.
* Baseado em artigo de Charles Marohn, engenheiro, fundador e presidente do Strong Towns, movimento surgido nos Estados Unidos após a crise de 2008 e a bolha do setor imobiliário estadunidense que levou milhares de pessoas a perderem suas casas.
Referências
https://www.strongtowns.org/journal/2024/3/18/strong-towns-guide-to-the-election-year
Deveríamos partilhar teu texto com os gestores do nosso amado Brasil, que estão completamente distantes do que está aqui proposto. Bjinhos
ResponderExcluirOlá, tem muita gente boa trabalhando nisso, mas nem sempre estão perto dos políticos.... Abs
ExcluirEste texto dispensa qualquer comentários. Gratidão! Que sejamos cocriadores da cidade em que vivemos!!!
ResponderExcluirCocriadores e corresponsáveis!
ExcluirParabéns pelo texto!!
ResponderExcluirGostaria muito que vc se canditasse, amiga. Vc lá, faria uma diferença enorme nesta cidade. Bjs
ResponderExcluirObrigada, sou técnica e é o que me cabe. Beijos
ExcluirObrigada, sou técnica e é o que me cabe. Beijos
ExcluirÉ sempre possível realizar o ideal. Basta o trabalho dos que tem os meios nas mãos.
ResponderExcluirTriste cenário eleitoral em nossa cidade: de um lado, candidatos despreparados, que não conhecem a cidade em que vivem: oportunistas, falam de uma cidade que não contempla a todos, propostas mirabolantes. De outro, munícipes, que muitas vezes não percebem que são responsáveis pela escolha,que fizerem.
ResponderExcluirExatamente, por isso a educação ampla e que desenvolve o pensamento crítico é tão essencial. Beijos
ExcluirMuito bom seu texto!Como disseram acima, seu texto deveria ser compartilhado com os futuros gestores deste País. Bebel
ResponderExcluirMuito bom o texto - mas infelizmente estamos longe desse " sonho" !
ResponderExcluirquello che dici è esatto ma anche da noi in Italia funziona allo stesso modo quindi direi che " TUTTO IL MOMDO E' PAESE " ciao Tonino
ResponderExcluirSaudade dos tempos que os partidos de esquerda inovaram na gestão das cidades. Tivemos Paulo Freire em SP, pode!? E na Itália o velho PCI foi um belo exemplo... Zé Marcelino
ResponderExcluirPressões de interesses políticos e econômicos acabam determinando o crescimento de uma cidade. Valorizando ganhos imediatos, deixam de considerar o sério comprometimento do futuro.
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