sexta-feira, 23 de maio de 2025

Ecos Humanos | O deplorável efeito “manada”


Em meio às minhas leituras, encontrei um artigo bem interessante de Pedro Valadares, professor de português, revisor de texto e autor do site Clube do Português, dedicado à língua portuguesa e à literatura. O artigo, A camisa vermelha da seleção e a lógica do clique, falava sobre a febre dos cliques e a consequente manipulação de amplas camadas do público leitor. Valadares mostrou como a simples divulgação de um fato, a "suposta" inserção da cor vermelha em uma segunda camisa da seleção brasileira de futebol, explodiu a cabeça de muita gente e virou um monstro pegajoso e sem forma. Ele ainda destacou que a grande mídia (falada, impressa ou digital) pura e simplesmente reproduziu a notícia, em vez de, antes, pesquisar e se aprofundar no assunto para verificar a veracidade da informação. 
 
Conclusão: milhares de cliques, memes, vídeos sobre a tal "notícia". Como se diz na linguagem digital de hoje, a mensagem viralizou. Como Valadares ainda realçou, o mais preocupante é que “mesmo que seja desmentido depois, o estrago já está feito” e o efeito disso nós sabemos muito bem. Basta ver a história recente do nosso país, de tantos países, invasões e guerras por aí. 

Tristes tempos esses nossos em que as pessoas fazem ou assinam embaixo de qualquer coisa só porque "todo mundo faz"... Assumem qualquer mensagem lida como verdade e vão compartilhando loucamente, divulgando e clicando, sem parar para refletir, sem pensar na lógica do que foi lido, sem questionar os fatos, sem sequer saber de onde vem a informação, sem dar a devida dimensão histórica ao fato. Enfim, sem exercer o menor pensamento crítico.  Fico chocada com esse tipo de atitude, muito mais comum hoje em dia do se pode imaginar. 

Aliás não é só nos cliques que essa atitude de manada se repete. Acontece também nas “modas” passageiras, no mau “exemplo” daqueles que têm “superlativos” justapostos ao seu nome e no que os denominados “infuenciadores” dizem e fazem. Por tudo isso, nesses nossos tempos, a ética e o pensamento crítico de quem escreve são, cada vez mais, necessários, urgentes e imperativos. Considero tudo isso muito triste e, para amenizar esse desconforto e essa tristeza, cito o educador, psicanalista e escritor Rubem Alves (1933-2014): “As palavras só têm sentido se nos ajudam a melhor ver o mundo. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.” Se nem isso conseguimos fazer, o momento é muito mais delicado do que supúnhamos. 
Em tempo: só lembrando que o tom avermelhado pode ser associado ao pau-brasil (Paubrasilia echinata), madeira de onde deriva o nome do nosso país.

Referências

https://clubedoportugues.substack.com/p/a-camisa-vermelha-da-selecao 

https://anitadimarco.blogspot.com/2019/04/ecos-literarios-gramatica-da-manipulacao.html

https://www.clubedoportugues.com.br/

https://www.instagram.com/clubedoportugues.com.br/

https://www.youtube.com/c/PedroValadares 

10 comentários:

  1. Só tem influêncers porque tem idióters.

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  2. O pau-brasil de fato sempre foi... vermelho.

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  3. O problema nunca começa com escolher a cor de um uniforme.
    Começa com precisar de um uniforme...

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  4. Bom dia, Anita. O efeito manada assusta e agora as manadas são cultivadas nas bolhas da web. Lembrei-me de um caso Bom. Um grupo de amigos de esquerda na USP nos anos 80 adorava futebol. Mas na ditadura pegava mal. Então criaram a Máquina Vermelha. Batem um bolão até hoje. Zé Marcelino

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    1. Zé, vc tem que escrever um livro com suas milhões de histórias... Abração...

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  5. Esse problema sempre existiu, mas se multiplica desenfreadamente devido à internet e mídias sociais. E ninguém, ou muitos poucos, procura verificar os "fatos."

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    1. Exatamente, mas me parece cada dia pior... essa questão de likes virou um monstro.,... Cada vez mais me lembro de Umberto Eco... a internet deu voz a milhões de imbecis.... Triste, muito triste... obrigada, Cris. beijos

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  6. Bom texto! A cor vermelha é Viva.Bebel!

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  7. Triste realidade , pois com o propósito de estar sempre antenado, ler, reler, pensar, refletir, são desprezados. O imediatismo impera: curtir, curtir para poder compartilhar.
    Lamentável.

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    1. Estamos num tempo desafiador, que requer, mais do que nunca, pensamento crítico...será que sairemos dessa? Abração, querida.

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