quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Ecos Linguísticos | A riqueza da “última flor do Lácio”


O português é uma das quatro línguas derivadas do latim, ou seja, é uma língua românica ou neolatina. As outras são o francês, o espanhol e o italiano, correto? Pois nossa língua já foi chamada de “última flor do Lácio” por ninguém menos que o jornalista carioca, escritor e poeta parnasiano Olavo Bilac (1865–1918).

 
O chamado “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, em seu soneto Língua Portuguesa, qualificou-a de inculta e bela. “Inculta", por ser a última língua derivada do latim vulgar, então falado na região italiana do Lácio, pelos mercadores, camponeses, soldados, povos vencidos em batalhas e trazidos escravizados à capital do império romano. Era, portanto, a língua da camada mais popular da sociedade, diferentemente do latim clássico, falado correntemente nos ambientes mais nobres, religiosos, militares e intelectuais. Mas Bilac chamou-a também de “bela”, porque, ainda que inculta, a língua portuguesa continuava sendo bela. 

Bem, os que trabalham com a língua no seu dia a dia já sabem disso - que ela é bela, mas aqui quero lembrar uma das muitas outras riquezas do português: a quantidade de expressões idiomáticas. Em geral, a maioria usa o sentido figurado (conotativo) das palavras e não o denotativo, o real do dicionário. Assim, só para lembrar algumas dessas expressões bem criativas, seguem alguns exemplos conhecidos por nós, nativos, mas nem tanto por outros povos:  

 

Abotoar o paletó/ bater as botas – morrer
Amigo da onça – falso amigo
Andar nas nuvens – estar distraído
Armar um barraco – criar confusão
Arrancar os cabelos – ficar muito estressado
Arregaçar as mangas – pôr-se a trabalho
Balde de água fria – saber de algo desanimador
Bater na mesma tecla – insistir no mesmo assunto
Botar a mão na massa – trabalhar sem medo
Cair a ficha – entender algo que não estava claro
Chutar o pau da barraca – perder a paciência de forma drástica 
Dar o braço a torcer – ceder, admitir um erro, voltar atrás
Engolir o disco – tagarelar
Estar nas nuvens – estar longe com o pensamento, em devaneio.
Fazer algo com o pé nas costas – fazer com facilidade
Manter boca de siri – guardar segredos
Mudar de pato para ganso – mudar de assunto
Pôr a boca no trombone – revelar um segredo
Quebrar galho – dar uma ajuda
Tirar de letra – fazer algo com facilidade
Virar o disco – mudar de assunto
Voltar à vaca fria - voltar ao assunto inicial

E por aí vai... Claro, a lista é imensa, mas isso tudo é um estímulo à leitura, num tempo em que as pessoas parecem ler cada vez menos literatura e mais e mais textos curtos (e muitos sem noção) das mídias sociais. Quanto mais lemos, mais aumentamos nosso vocabulário, nosso repertório e o conhecimento dessas ricas expressões! Que tal, vamos “tocar em frente”?

Referências

https://www.todamateria.com.br/conotacao-e-denotacao/

https://www.significados.com.br/flor-do-lacio/

https://www.migalhas.com.br/depeso/346858/ultima-flor-do-lacio

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