São Paulo – SP. 26 novembro 2016.
Encontro para comemorar os 40 anos da graduação em
Arquitetura e Urbanismo da turma que ingressou na FAU-USP em 1972. Mais uma
vez, o encontro foi planejado cuidadosa e detalhadamente pela querida Irene
Gevertz que, de início, a cada dez anos (e agora a cada cinco) nos procura,
telefona, passa email para nos encontrarmos e nos atualizarmos.
Muitos reencontros, muitas conversas, gargalhadas e fotos.
Alguns continuaram amigos e mantêm uma convivência mais constante. Outros se
encontram, casualmente, em seminários, museus, viagens. A maioria só se vê
nessas reuniões de confraternização. Nem todos eram do mesmo grupo, claro. Mas quando nos vemos e
nos cumprimentamos, às vezes surpresos, é que percebemos como o tempo passou
para todos nós e o quanto éramos uma bela turma.
Lá em 1972, éramos jovens, interessados, ávidos
aprendizes da Arquitetura e da vida. Cheios de perspectivas, sonhos, ansiosos
por aprender, trabalhar e mudar o mundo.
O mundo mudou e nós, também.
A transformação veio com o tempo. E, aos poucos, foram se moldando
grandes profissionais das mais diferentes áreas: arquitetos, professores universitários, professores de idiomas, de yoga ou tai chi chuan, empresários, administradores, artistas plásticos, escultores, cenógrafos,
cineastas, cantores, designers, servidores públicos, embaixadores, dançarinos, autores, poetas, escritores,
tradutores, jornalistas, e tantas outras atividades... Alguns conseguiram acomodar a Arquitetura e outras profissões; outros seguiram outros caminhos e abandonaram de
vez aquela formação universitária.
Mas a verdade é que aquela formação nunca
nos abandona, porque o olhar daquele que fez arquitetura, FAU-USP em especial, é diferente. Ele olha com
um sentido de apreender o todo, o macro e o micro, os espaços públicos, os
largos e praças, os caminhos, as edificações, o mobiliário urbano e as obras de arte da cidade, os pisos e a
iluminação, os materiais, as cores, as texturas e os
detalhes, um olhar que inclui o outro, o diferente, e até o mesmo, mas com outro olhar.... Mesmo que tenham abandonado a prática arquitetônica, sem sequer começá-la, a formação em arquitetura e urbanismo nunca os abandona. É inevitável.
Alguns colegas não
apareceram. Não puderam ou não quiseram, acreditando, talvez que não mais façam
parte daquele grupo de 1972 de 150 aspirantes a arquitetos e urbanistas. Alguns
estão bem. De outros, nada ouvimos falar. Outros ainda não vieram e não mais
virão. Para esses que se foram, escrevi algumas linhas:
Gratidão e Saudade
Pessoas distintas entram e saem de nossas vidas.
Algumas vêm e permanecem vida afora, calmamente, sem grande alarde; outras
vêm e vão... quase inócuas, despercebidas. Outras ainda, mesmo sem se
darem conta, entram em nossas vidas e em nossos corações.
Cada um de nós é parte integrante de um todo e o
ausente sempre faz falta. Deixa espaços vagos, buracos, vazios. Da turma da
FAU-1972, alguns já se foram, mas continuam em nossas lembranças, em
maior ou menor grau.
O divertido, amigo de todas as horas e com sede
infinita de viver, Luiz Teodósio...
O brincalhão, cheio de altos e baixos, mas sempre
presente, Antonio Carlos Carneiro...
O artista de doces olhos azuis e jeito manso de
falar, Gil Pereira...
A japonesinha risonha e direta, mas sempre
discreta, Neide Araki...
O grande, silencioso e terno Sérgio Shun Itiro
Tanaka... Drummond disse que quando partem sem se despedir, as pessoas rompem um pacto implícito do grupo.
Guimarães
Rosa escreveu que as pessoas não morrem; apenas ficam encantadas.
Clarice
Lispector, que existem pessoas que falam, mas não as ouvimos; outras nos ferem
e nem cicatrizes deixam, mas há aquelas que aparecem de leve e nos marcam de
formas profundas.
Nossos
amigos eram assim: marcantes, de diversas maneiras.
Porém, romperam o pacto implícito do grupo e se foram antes, muito antes do
esperado.
Podem até
ter ficado encantados, é certo; mas a verdade é que se foram.
Cruzaram
o rio e Caronte os levou.... Fizeram muito, muito cedo a travessia.
Nossos
amigos partiram e despertaram em nós gratidão e saudade.
De
frases, jeitos, abraços e sorrisos.
Da
alegria e das gargalhadas.
Da
presença constante, firme e gentil.
Das
conversas jogadas fora.
Da
lucidez, da perspicácia e do senso de oportunidade.
Das
reflexões, das descobertas e dos rompantes.
Da
paciência em ouvir e explicar detalhes e temas controversos.
Das fotos
e das viagens; das discussões e dos trabalhos em equipe...
Das
conversas acaloradas nos estúdios, no anfiteatro e no bar...
Das
pesquisas e horas passadas naquela fantástica biblioteca...
De sua
companhia ao subir a rampa, atravessar o Salão Caramelo e olhar para cima.
De parar
e apenas olhar, olhar e olhar aquele espaço único, que moldaria nossas vidas...
Dos
encontros silenciosos naquele singular banco de concreto.
Do
companheirismo, de um tempo vivido, aprendido e projetado.
De como
nos conhecemos, convivemos, aprendemos e nos enriquecemos...
Em meio
àqueles tempos tão difíceis e, ao mesmo tempo, fecundos de reflexões e
decisões.
Saudade
que faz com que, gratos, os levemos na memória.
Saudade
de vocês, queridos colegas, que partiram e de quem não nos despedimos direito!
Termino relembrando, um dos motes do nosso amigo Carneiro... E la nave va...
Termino relembrando, um dos motes do nosso amigo Carneiro... E la nave va...
Vai, é
verdade, mas incompleta, sem vocês...
- Anita Di Marco, 2016.