Há alguns anos, conheci a varginhense Cyntia Beltrão, desde seus tempos
de jovem estudante, quando nos reuníamos para estudar as obras de
Allan Kardec, codificador da doutrina espírita. Era sempre das mais atentas e ativas participantes do grupo, com
opiniões firmes, corajosas que denotavam perspicácia, um atilado senso de observação e
raciocínio rápido, muito rápido. Não deu outra. A cidade ficou pequena demais
para ela. Mudou-se para BH, fez-se psicóloga, feminista, escritora, mãe e ativista
pelos direitos dos autistas, devido a circunstâncias da vida.
Seu primeiro trabalho editorial é um motivo para celebrar as novas e
promissoras vozes da nossa literatura. Incômodo
Conto traz crônicas do cotidiano com uma boa dose de realismo fantástico.
Seus escritos trazem mulheres fortes em atitudes comezinhas, a princípio, como
gostar de ler ou de tomar café, trabalhar.... Despertam interesse, fazem rir e depois causam estranheza; aos poucos, incomodam, apertam, questionam e constrangem o leitor. Uma coisa de
cada vez; ou tudo ao mesmo tempo. Murilo Rubião teria gostado muito de seus
contos, tenho certeza. Aliás, acho que
ele foi uma de suas inspirações mais fortes, como também devem ter sido Gabriel
Garcia Marques, Kafka e outros mais.
Mas por que escritora? Cyntia sempre
escreveu, mas resolveu publicar porque não sabe dançar tango. É o que diz o
ótimo texto da orelha da contracapa... Perfeito. Não se pode querer tudo, quem
escreve com aquela facilidade, com aquele domínio da linguagem, das ideias e das
palavras não pode querer dançar tango... Aí, convenhamos, já seria covardia.
Dentre todos eles – sim, li o livro todo, porque, simplesmente, não
consigo expressar alguma opinião sobre um texto ou livro sem lê-lo de cabo a
rabo –, o conto que mais me tocou talvez seja o menos fantástico deles.
Intitula-se Lama e narra o drama vivido
por uma cadelinha em recente e trágica calamidade ecológica ocorrida nas terras
mineiras. Dessas tragédias estupidamente reais, detestáveis, sofridas e absurdas,
mas que ainda permanecem impunes, sem solução e sem penalizar os responsáveis.
Vários outros contos me instigaram, uns mais, outros menos, mas Lama me deixou sem fala e me mostrou a imensa capacidade da nossa nova escritora.
Parabéns Cyntia! Que venham outras crônicas e outros contos, incômodos ou não, mas que venham certeiros.
Incômodo contoParabéns Cyntia! Que venham outras crônicas e outros contos, incômodos ou não, mas que venham certeiros.
Eu, como mãe da escritora seria óbvio elogiar o livro de contos. Mas vindo de você, sei que os comentários foram sinceros e verdadeiros. Fiquei muito emocionada quando li. Agradeço muito. Beijão
ResponderExcluirCyntia é brilhante, não precisa agradecer. E que bom que vc me conhece tão bem! Vida Longa à nova escritora varginhense! bjs
ResponderExcluirAnita