sábado, 23 de maio de 2020

Ecos Culturais | Melancolia


Melancholy. Albert Gyorgi.  Imagem: Divulgação
A arte não precisa falar. Apenas por existir já provoca reações e desnuda aquele que observa. Este pode disfarçar, tentar esconder seus sentimentos e pensamentos mais obscuros e sombrios, mas a reação diante de uma obra de arte escancara o oculto. A arte expõe o observador, quem ele é, como pensa e do que é feito, de fato. Por outro lado, em cada criação, o artista revela o que lhe vai na alma. É inexorável.
Esta foto, por exemplo. Muitos veem nela a representação do vazio da alma, símbolo da falta de fé em algo maior, da falta de Deus. Outros, solidão, ausência, abandono ou um grito mudo de socorro. Outros ainda, apenas a beleza da técnica. Para seu escultor, a obra simplesmente traduzia a dor da perda. 

De forma quase discreta, mas forte e comovente, a escultura denominada Melancholy situa-se às margens do Lac Léman, o chamado Lago Genebra, na Suíça. Fundida em bronze a partir de uma liga desenvolvida pelo próprio escultor, retrata uma figura sentada, voltada sobre si mesmo, de cabeça baixa, como se estivesse sob um peso avassalador

 Criador e criatura. Imagem:https://wooarts.com/albert-gyorgy/nggallery  
Fruto de grande esforço mental e emocional, como todas as suas peças, Melancholy, de 2012, foi a forma  encontrada pelo escultor romeno Albert Gyorgy (1949), hoje residente na Suíça, para lidar com a perda da primeira esposa. Sua obra forte e abstrata surge da necessidade visceral de se expressar. Sofrimento e ventura se misturam. A pátina da oxidação e o brilho do polimento também. Ao se mesclarem, passado e presente moldam o agora. A obra revela o abstrato e materializa o sentimento, como se a forma física amenizasse a tristeza e o vazio da perda. 

Divulgada no Face Book, a foto da obra teve milhares de compartilhamentos, mensagens demonstrando conforto e gratidão daqueles que nela identificaram uma perfeita expressão do incomensurável vazio interno que sentiam por perdas semelhantes de tantos outros seres, entes queridos, amigos, amores. Ao vê-la, sentiam-se compreendidos, representados, aliviados em sua dor. 
Sim, a obra acima é a prova concreta de que a arte toca e liberta, mas confesso que, neste momento de tantas mortes no Brasil e no mundo, causadas pela Covid-19, a escultura me toca profundamente, mas não me sinto aliviada. No entanto, a esperança me diz que o futuro trará muitas outras obras impactantes retratando os sentimentos dos tempos atuais. A arte também é memória e história. Aguardemos... 

 has developed a personal alloy of copper and tin which makes it possible to obtain a bronze that is both supple and solid, creating astonishing shades of the patina when it is oxidized, and of a brilliant color when he is polite. ► https://wooarts.com/albert-gyorgy/
e has developed a personal alloy of copper and tin which makes it possible to obtain a bronze that is both supple and solid, creating astonishing shades of the patina when it is oxidized, and of a brilliant color when he is polite. ► https://wooarts.com/albert-gyorgy/
Referências
https://wooarts.com/albert-gyorgy/  

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi querida, bonita mesmo, né? Eu me lembrei muito de você quando vi a escultura... beijos

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  2. Obrigada, a obra merece! Mas não se esqueça de deixar seu nome. Abraço

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  3. Belo obra e belo texto...🌼🍃

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  4. Anita, seus textos são adoráveis. E sempre me provocam reflexões. Muito obrigada! Um beijo, Silvia.

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