sábado, 16 de maio de 2020

Ecos Humanos | Ídolos com pés de barro


Atena, deusa grega da sabedoria
O termo ídolo vem do grego eídolon (imagem) e do latim idolum (ídolo). Originalmente, eram figuras que representavam divindades, portanto, objetos de veneração religiosa. Daí vem o termo idolatria, adoração de ídolos. Como representantes de divindades, sua função era servir de modelo, inspirar o aprendiz a verticalizar seu olhar e buscar uma meta mais elevada e menos material
Aos poucos, o conceito veio do campo metafísico para o humano e, cada vez mais, é usado aleatoriamente para nomear “famosos” que se destacam no mundo artístico ou esportivo. A mídia e as redes sociais são responsáveis pela maioria dos rótulos: reis, rainhas, príncipes e milhões de superlativos: o(a) mais isso, o(a) mais aquilo. Enquanto a galeria de "idolos" fica lotada, os "meros mortais" olham para eles como meta a ser alcançada e modelo a ser seguido. 
Mas, se tais "ídolos-celebridades" são, muitas vezes, admirados pelo desempenho profissional, nem sempre o são pela forma de ser e agir. Lembram pavões que se acreditam maravilhosos, mas não olham os próprios pés. 

Aliás, desde sempre fico impressionada com o "dom" da sociedade para eleger ídolos com pés de barro, cuja ação é totalmente inconsistente com o significado original do termo. A ação desses pseudo-ídolos está a anos-luz daquelas que, de fato, priorizam o bem, o outro, o social, o coletivo. A grande maioria só representa o modelo que o "sistema" considera "bem-sucedido", em termos de ascensão social, estilo de vida, aparência ou haveres, aliás nem sempre obtidos de forma correta. Com seus pensamentos, palavras e atitudes, a maioria envergonha a ética, a verdadeira solidariedade, o respeito e a empatia. Não importa se, de fato, acreditam ou foram levados a acreditar nisso pelo sistema que nos impõe seus valores tortos e fugazes. É preciso assumir a responsabilidade pelas próprias ações, qualquer que seja a posição que ocupamos no mundo.

Bom desempenho profissional é só o primeiro patamar. Essas figuras públicas (e não ídolos, com certeza) deveriam pensar duas vezes antes de agir ou expressar opiniões. Deveriam ter noção de sua influência sobre milhares de pessoas. O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) chegou a dividir os ídolos em quatro categorias para conscientizar o indivíduo de suas falsas crenças e concepções, mas pelo visto, as falsas crenças continuam causando muito estrago. 

É preciso buscar o ídolo interno, aquele que jamais deixará o indivíduo na mão. É preciso buscar a própria essência divina escondida no fundo do coração. Mas, para quem não consegue viver sem "ídolos", aqui vai uma dica: se precisar mesmo e quiser alguém para admirar, verifique se, de fato, ele age em prol do bem comum, pensando no coletivo e no outro, acima de interesses próprios e mesquinhos e, sobretudo, quando está longe dos holofotes. Caso não seja assim, não se engane: eles não são ídolos, talvez sejam apenas bons profissionais na sua área de atuação, com excelente marketing por trás...

Referências

8 comentários:

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    1. hahahah, adorei sua assinatura, Kênia... Obrigada, querida, beijos

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  2. Amei sua percepção diante dos "ídolos". Sua escrita é inteligente e tem muita sensibilidade. Gosto de ler.obrigada!!!!

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    1. Obrigada, mas vc não deixou seu nome. Não sei quem é... mas obrigada por nos visitar, abraço

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  3. Professora, que texto ótimo! Começando pelo título. Perfeita imagem do texto! E retrata fielmente essa ilusão que alimenta (?) tantas mentes.

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