Paulo Hatanaka reinventou-se, quase por acaso em 2012, após o falecimento da mãe, ceramista. Ao partir, ela havia deixado muitos objetos quebrados. Então, ele pesquisou e estudou métodos para restaurar essas peças e, nessa busca, descobriu um artigo sobre uma antiga técnica japonesa, denominada Kintsugi. Desde então, começou a restaurar peças de cerâmica e porcelana.
Em japonês, Kin significa ouro e Tsugi, emenda, ou seja, o Kintsugi é uma técnica que recupera peças quebradas de cerâmica. A proposta é fazer emendas a partir da resina de uma árvore, laca ou cola, misturando-a a pó de ouro, prata ou platina. O Kintsugi, a arte da reparação, portanto, propõe recuperar o objeto danificado, sem negar-lhe os efeitos e marcas do tempo, mas acrescenta-lhe um toque artístico, o que acaba por valorizar o objeto, tornando-o único.
Acredita-se que
essa arte artesanal tenha surgido há cinco séculos, no Japão. Conta-se que, ao ver que um estimado objeto de cerâmica, usado na cerimônia do
chá, estava quebrado, o xogum Ashikaga
Yoshimasa, enviou os cacos da peça à China para que voltassem a compor um único objeto. O resultado, no entanto, não o
agradou e ele acabou recorrendo aos artesãos do seu país. Estes uniram os
fragmentos com verniz polvilhado de ouro e os encaixaram no lugar certo. A peça
ficou inteira novamente e, nas áreas de fratura, mostrava linhas douradas que não escondiam, mas destacavam as imperfeições. No velho objeto restaurado, havia uma nova dimensão de completude, mas também de beleza e originalidade, porque não mascarava a passagem do tempo e os sinais do uso. A peça mostrava suas cicatrizes, mas era única. A arte do Kintsugi recuperara e valorizara duplamente o objeto: com o trabalho artístico do restaurador e com o ouro.
Chamado de “carpintaria de ouro” e também utilizado em peças de cerâmica de outros lugares como China, Vietnã e Coreia, o processo transformou-se numa forte e sugestiva metáfora da importância de resiliência e da superação das adversidades. Os orientais, mais uma vez, nos ensinam valores: a valorizar o momento presente, mas sem apego ao que é seguramente impermanente.
Em São Paulo, o kintsugi e seus métodos de reparação têm sido tema de artigos e exposições, como a bem sucedida e bastante visitada A Arte da Imperfeição, realizada no Shopping D&D, em 2019, com o trabalho do restaurador e arquiteto Paulo Hatanaka, aquele amigo que conheci lá em Roma, no final do século passado. Em breve, a Japan House também vai expor seu trabalho.
Abaixo, duas entrevistas com o arquiteto-restaurador-artista. A primeira, recém-divulgada pela Japan House e a segunda, pelo canal Arte é investimento, divulgada em agosto de 2019.
Paulo Hatanaka
Restauração de obras de arte
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Referências
Todas as imagens são de autoria de Paulo Hatanaka.https://www.youtube.com/watch?v=AFir6N6g6cg&feature=youtu.be
https://reliquiano.com/2017/10/03/paulo-hatanaka-restauracao-de-ceramicas-porcelanas-tecnica-japonesa-kintsugi/
IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Kintsugi: Métodos de Reparação. História das Artes, 2020. Disponível em: <http://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/kintsugi-metodos-de-reparacao/>. Acesso em 04 Aug 2020.