Desde sempre, as conquistas humanas fazem são parte de uma imensa lista de entrelaçamentos, influências, inspirações, sínteses e complementações. Em qualquer campo. Os próprios filósofos clássicos partiam de aspectos já estudados por seus colegas e, inspirados pelos estudos prévios, eles se aprofundavam e criavam novas possibilidades e formas de pensar, o que permitiu o avanço das teorias filosóficas. Assim é com tudo, com a ciência, a medicina, a engenharia, as artes. Porém, o que não deve acontecer é a apropriação intelectual indevida ou, pior ainda, uma tentativa de apagamento.
Getty Images. |
Mas voltando, à apropriação indevida. No caso de cidades, por exemplo, não é porque o espaço é público, que não é de
ninguém. Ao contrário, todos são responsáveis pelo bom uso e manutenção
desse espaço, justamente porque é de todos. Não é porque está na internet que não é de ninguém. Na linguagem acadêmica, isso é plágio e é crime. Alegar o insosso “eu não sabia” não convence, desrespeita e ofende. É preciso honrar a verdade, o conhecimento e a pesquisa.
João Cabral. Imagem: Divulgação |
O fato é que, ao longo da história, um conhecimento pode inspirar e disparar uma série de estudos derivados. Mas é preciso respeitar essa inspiração, o ponto inicial, a trajetória, o tempo, o esforço de outros e a verdade de todos os grupos. Só assim crescemos, como humanidade. É preciso pesquisar, respeitar, refletir e ousar. Afinal, a pesquisa parte de um ponto de vista inicial, como diz o teólogo Leonardo Boff, mas esse ponto é a visão que se tem a partir de um ponto. Pode haver outros, então, além de “revisitar” – como querem as novas formas de expressão – esse ponto de vista, é preciso citar e reverenciar o ponto inicial, o já feito, o já pesquisado, o já lançado, o já vivido. Ou o primeiro grito, como no poema Tecendo a Manhã, do João Cabral, lembrado pela colega tradutora Telma Franco Diniz.
Tecendo a manhã
(João Cabral de
Melo Neto, 1920—1999)
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Publicado no livro A educação pela pedra (1966). In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p.345. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)
👏👏 meus aplausos como sempre
ResponderExcluirMuito bom Anitinha!Bebel
ResponderExcluirParabens
ResponderExcluirParabéns, outra vez, Anita!
ResponderExcluirE cada um embasado em sua plataforma, só pode ver pelo ponto de vista que adota.
Respeito e verdade são o mínimo, ao se fazer pesquisa.
Escrever é um trabalho muito sério e autoria é sagrada.
Enfim... como estudo de mandalas, por exemplo, a gente vê que todos uma vez na vida pensaram ser possível roubar uma centelha do Universo. Não. Não é possível. É ilusão, engano.
Abraços
Que belo comentário, Valquíria. A comparação com a mandala é sensacional? Não é possível mesmo. A verdade, no fim, sempre aparece... Beijo grande e obrigada
Excluir