No início dos anos 2000, Eneida Carvalho Ferraz e eu, ambas arquitetas da FAU-USP, mas formadas em anos diferentes, éramos conselheiras do Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural de Varginha - CODEPAC. Nossas falas se atropelavam tal o ritmo, a velocidade e a concordância de nossos pensamentos. Talvez por virmos da mesma escola. Ativíssimas, queríamos abarcar o mundo, discutir, propor, produzir, agitar, mas nem sempre conseguíamos. Nosso objetivo (dentro e fora do Conselho) era divulgar e preservar os bens tombados da cidade, educar e conscientizar a população em geral sobre a importância de preservar o patrimônio cultural, material ou imaterial, para compor a identidade de um grupo, uma sociedade, uma nação.
Um de nossos
projetos, a exposição itinerante Nosso
Patrimônio vai às Escolas (2002), foi
aceito, abraçado pelo grupo e executado. Anos depois, o projeto recebeu o prêmio
Gentileza Urbana 2011 quando
foi apresentado no
3º Fórum Mestres Conselheiros, em Belo Horizonte. O objetivo do
prêmio, instituído pelo Instituto de Arquitetos do Brasil - MG em 1993, é incentivar e premiar práticas cidadãs para construir uma cidade mais gentil e melhor para todos.
Pensamos, concebemos, definimos e realizamos cada passo do projeto que atendia aos pressupostos: por que expor, o que expor, como expor e onde expor.
Eneida, numa das montagens. |
Por que expor | A justificativa: divulgar os bens tombados do município de Varginha e, dessa forma despertar o interesse, sobretudo dos jovens, sobre o nosso patrimônio cultural, o sentido de cidadania e a corresponsabilidade de todos em sua proteção.
O que expor | O conteúdo: conceitos teóricos sobre o tema da preservação do patrimônio, textos e fotos sobre os bens em questão, provenientes do acervo da Coordenadoria do Patrimônio Cultural - COPAC.
Onde expor |Os espaços: escolas públicas da cidade, onde a mostra permaneceria por uma semana.
Respondidos esses pressupostos, partimos para pensar como materializar a exposição.
O suporte: projetamos um painel dobrável de plástico transparente, de 1,80 x 0,60 m, subdividido em três envelopes plásticos que acomodariam o material produzido pela Coordenadoria Técnica do Patrimônio Cultural - COPAC. Conseguimos o apoio de uma empresa de plásticos da cidade, a Pry-Toy que generosamente, por meio de seu diretor Humberto Telles, executou o projeto dos painéis.
A expografia: adaptável a vários ambientes, os painéis (10 no total) eram suspensos por fios de nylon e ligados individualmente aos suportes disponíveis em cada escola – vergas superiores de janelas, vigas, caibros do telhado; na parte inferior, os fios eram fixados a algum elemento pesado do local – blocos de concreto, em geral, ou no próprio piso, para evitar a movimentação e a rotação do painel:
Inauguração: Raquel Silva (Secr. Educação, Rossana Ippólito (Conselheira) e Mauro T.Teixeira (Prefeito). |
A logística era genial (e primária), típica de entusiastas. Toda segunda-feira cedo, Eneida e eu íamos até a escola X, desmontávamos a exposição, dobrávamos cada painel em três (havia uma costura para isso), carregávamos o carro (o meu ou o dela) com os os painéis, dirigíamos até a a escola Y e montávamos tudo de novo. Em seguida, havia uma “inauguração” oficial, ou seja, falávamos, aos professores e alunos reunidos, sobre o tema e o objetivo da exposição. Dali a uma semana tudo recomeçava. Em cada escola, havia um grupo de alunos/monitores da exposição.
Na semana em que a exposição estava montada, os professores daquela unidade escolar trabalhavam o tema nos diversos conteúdos curriculares. Registre-se aqui nosso agradecimento à Secretaria Municipal de Educação e aos professores que acataram nossa ideia. Os demais membros do Conselho e da COPAC, a quem também agradecemos, ajudaram na seleção de material e distribuição das fotos e textos nos envelopes. A epopeia durou quatro meses. Foi um intenso trabalho de formiguinha, mas que nos trouxe muito prazer e retorno.
Em tempo, todo conselheiro
era voluntário. Tudo que foi feito foi pelo bem da cidade e por acreditarmos no
que fazíamos. Eneida e eu continuamos até hoje – ela em são Paulo, eu em Varginha – sempre
discutindo e propondo ações sobre temas ligados à arquitetura, ao patrimônio, à cultura e à vida. Obrigada,
Eneida, pela parceria de tanto tempo.
Nossa, Anita! Quanta gentileza de sua parte! Muito obrigada!
ResponderExcluirFoi um trabalho que nos deu muita alegria e satisfação em poder contribuir para transmitir às crianças (e a seus pais) um sentimento de identidade com nossa terra.
Verdade pura, não falei nada que não fosse verdade. Bjs
ExcluirLindo trabalho!
ResponderExcluirLindo saber desta iniciativa e da significativa realização de vocês, devidamente ilustrada e tão bem relatada aqui!! Que orgulho…
ResponderExcluirOi, querida. Obrigada. Vc sabe como o entusiasmo conta,né? Obrigada mesmo por comentar. Sei da sua vida intensa.. bjs grande
ResponderExcluirQuanta beleza nesse trabalho! Parabéns as duas por fazerem tanto pela cultura.
ResponderExcluirFoi um processo muito legal. Obrigada, querida. Bjs
ExcluirParabéns Anitinha,Eneida pelo belo trabalho realizado. Isto para nossa cidade é e será sempre essencial. Bebel
ExcluirMaravilha. Precisamos de ações assim para construir uma sociedade melhor e mais plural.
ResponderExcluirParabens.
Carlos SA
Obrigada, Carlos. A gente vai tentando, né? A cada dia .. é da nossa natureza. Bjs
ExcluirBoa noite, Anita,
ResponderExcluirEssa postagem parece soar como memória saudosa. Não há alguma possibilidade de recomeçar essa atividade? O tema continua atual e a cidade em que você reside seria muito beneficiada...
Belo trabalho, de fato. Merece um recomeço.
Oi, Marta. Na verdade, continuamos agora como formiguinhas, um dia de cada vez e sempre que possível. Você sabe, não é fácil, mas continuamos tentando... tudo em prol da educação e da cultura. Obrigada, abraços
ResponderExcluirGostei demais desse resgate da história. Parabéns, Anita!
ResponderExcluirTrabalho lindo e necessário a comunidade. Seria tão bom se tivesse continuidade. Meu coração dói qdo vejo um imóvel antigo completamente desfigurado
ResponderExcluirPois é, para isso é preciso investir na educação integral, né? Obrigada . Bjs
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