quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Ecos Urbanos | Pandemia e sustentabilidade

Foto: Anita Di Marco, num inverno qualquer.

Tirei a foto ao lado numa manhã gelada de inverno. Linda, né? Essa era a vista que tinha do meu escritório até o dia que resolveram cortar o lindo guapuruvu e a espatódea, alegando...o que mesmo? Não importa. Meu coração doeu... Parece um ato isolado, mas não é. Anos depois, a epidemia de Covid-19, causada pelo surgimento e disseminação do coronavírus (SARSCOV 2), escancarou não só a poluição ambiental mundial, a desigualdade social e a importância vital da natureza, da ciência, da educação e do Sistema Único de Saúde-SUS (no caso brasileiro), mas também os danos causados ao planeta Terra pelo comportamento humano. A humanidade sempre viveu como se os recursos naturais fossem inesgotáveis ou como se a natureza atrapalhasse seus planos. Embora o isolamento inicial tenha diminuído a poluição na Terra, no ar e na água, ainda vai levar muito tempo para melhorar de fato esses índices, o que exigirá profundas e estruturais mudanças.

No início da pandemia, ingenuamente, eu acreditava (acho que como muitos) que o mundo consumista sentiria o choque e sairia melhor desse momento, com mais empatia, mais generosidade, mais conhecimento. Hoje não tenho essa certeza. O choque parece ter sido apenas momentâneo. Parece que não aprendemos nada, ou quase nada, e desprezamos a sabedoria de quem sempre entendeu seu papel no ciclo da vida e soube cuidar da mãe Terra – os guardiães de ensinamentos ancestrais, os povos indígenas, os ambientalistas. No entanto, sem pensar no que semeamos, nós nos assustamos quando vemos as consequências das nossas ações: aquecimento global, enchentes, secas, incêndios, furacões, terremotos, deslizamentos de terra, tempestades de neve e granizo, doenças, grandes amplitudes térmicas afetando a saúde, porque o corpo não consegue se adaptar a essa mudança brusca da temperatura...

O Planeta Terra grita, nós choramos, mas não assumimos nosso papel e nossa culpa. Talvez algo ainda possa ser recuperado ou interrompido, mas para isso é vital repensar a nossa relação com os outros, com as demais formas de vida e com o meio ambiente. É imperioso mudar nosso estilo de vida e de desenvolvimento econômico. 

Se mudarmos o modo como pensamos sobre edifícios, talvez o que construímos possa mudar o mundo. Dr. Prem Jain (1936-2018), professor da Faculdade de Arquitetura e Planejamento de Nova Dheli, por 43 anos, pai do movimento de construção sustentável na Índia.

Dados recentes da ONU indicam que as cidades são responsáveis por 75% das emissões globais de CO2 e pelo aquecimento global. A partir da consciência despertada por esses números e pela pandemia, talvez nossas escolhas presentes e futuras possam ter impacto real no meio ambiente. Desde atitudes simples, e há tempos divulgadas, como economizar água, separar o lixo orgânico do reciclável ao uso dos recursos naturais para garantir melhor qualidade e conforto das edificações e, consequentemente, das cidades. Como? Com a correta implantação do imóvel no lote, aproveitando a melhor insolação, os ventos dominantes, aumentando a arborização e as áreas públicas, criando mais praças e jardins, impermeabilizando menos o solo, escolhendo materiais adequados, priorizando a mobilidade, o transporte público e as ciclovias para reduzir a poluição, os congestionamentos e por aí vai.

A lista é grande, mas não é nova. Trata-se de aprendizado básico dos cursos de arquitetura e urbanismo, engenharia, meio ambiente, ciências da terra e similares que deveria ser devidamente valorizado e aplicado (e nem sempre é), na construção de imóveis e espaços públicos com mais qualidade, mais conforto térmico, mais sustentabilidade, menos desperdício e menor custo, tendo em vista as cidades como um todo. Tudo isso diminuiria as ilhas de calor urbano e melhoraria a qualidade dos espaços e das cidades.

Áreas marginalizadas e muito adensadas, porém, sofrem mais pelas próprias condições, sem essas noções básicas para criar melhores edificações ou  espaços públicos mais definidos, quando existem. É preciso atuar no todo e no pontual, ao mesmo tempo. Só assim é possível melhorar nossa ação no meio ambiente e recuperar (ou ao menos não piorar) a situação do planeta com nossa ação diária.

Grécia. https://territoriosecreto.com.br/tinta-ultra-branca
 Há tempos, universidades no mundo todo vêm pesquisando  materiais e soluções para mitigar o calor nas cidades e diminuir o impacto ambiental:  materiais alternativos como cimento ou tijolo ecológicos, blocos de concreto alternativos como o concreto do caule do cânhamo (isolante térmico natural), bambu, placas e tijolos drenantes, painéis solares e placas fotovoltaicas, jardins suspensos, sistemas de reuso de água ou que gerem menos desperdício no canteiro de obras, tintas minerais antimofo, mais refletivas e, em especial, a tinta branca etc. 
 
Sim, uma simples tinta para refletir o calor das edificações e produzir ambientes menos quentes e temperaturas mais frias. Pesquisadores da Universidade de Purdue nos Estados Unidos, por exemplo, criaram uma tinta ultra branca que reflete até 98% da luz, mantém os interiores mais frescos que o entorno e até dispensa o uso de ar-condicionado. E mais, os pesquisadores sugerem o emprego dessa tinta não só em paredes, mas também em grandes superfícies, como telhados e estradas. 
 
Em tempo, o que podemos aprender com a arquitetura mediterrânea? Soluções paliativas? Pode ser, mas se todos – profissionais, escolas e indústrias – usarem a criatividade, os recursos intelectuais, financeiros e técnicos à sua disposição, algo pode mudar, não? E já passou da hora. 

Uma última dica em relação à internet. Vocês já ouviram falar do Ecosia Fundado em 2009 pelo alemão Christian Kroll, o Ecosia é um mecanismo de busca que já viabilizou o plantio de 82 milhões de árvores, numa super dedicação ao meio ambiente, combinando plantio de árvores e produção de alimentos, além de gerar emprego e renda para as comunidades locais. É também uma escolha possível.  

Referência:
https://nossofoco.eco.br/construa-sustentabilidade/tinta-branca-pode-reduzir-a-necessidade-de-ar-condicionado/
https://premjain.in/index.html
https://www.archdaily.com.br/br/793802/materiais-inovadores-para-construcoes-sustentaveis
https://www.pensamentoverde.com.br/arquitetura-verde/confira-sao-materiais-alternativos-utilizados-construcao-civil/
https://www.ecosia.org/

9 comentários:

  1. Anita, excelente texto!!!! Parabéns

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  2. Anita, parabéns pelo excelente texto!!!!!

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    1. Obrigada, Aruam. Muito bem-vindo nos comentários. Abraços...

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  3. Roberta Favaro Gunther23 de setembro de 2021 às 07:51

    Excelente texto como sempre Anita! Precisamos urgente pensar em soluções. Você conhece o livro A Casa Inteligente de Gustavo Cerbasi? É uma casa que ele construiu totalmente autossuficiente.. Queria muito fazer isso aqui em casa, mas fica muito caro também.. Seguimos pensando em soluções.. Beijos

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    1. Sim, já ouvi falar dele. Ele tem uma proposta de sustentabilidade, em resumo de que menos é mais. Mas ele tinha dinheiro para fazer isso, né? Bom exemplo, mas quanto mais utilizadas, mais alcance terão esses sistemas, né? Não desista... Beijos e obrigada por comentar.

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  4. Adoro lê seus textos, muito sábia, inteligente e sabe colocar as coisas com clareza. Estou sempre me aprimorando com suas informação. Sinta abraçada .

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    1. Obrigada, mas deixe seu nome da próxima vez. Abraços também!

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  5. Muito bom seu texto Anitinha!Acho que existe soluções, basta o homem se conscientizar. Bebel

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  6. Ótimo texto, Anita!
    Elegante e necessário. Sim, as árvores e as superfícies brancas já seriam um grande passo.
    E o aumento da consciência.
    Também isso que você fala sobre pessoas menos afortunadas - bem menos,,, - vivendo pior. Falta, de começo, a arborização, em todo lugar possível.
    E, pena, creio que, não, as pessoas não apredem quase nada. Só os sábios aprendem alguma coisa.
    Grande abraço e façamos nossa parte: preservação; prevenção; etc.

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