quinta-feira, 9 de junho de 2022

Ecos Humanos | Parem o mundo?

Mafalda. Imagem: Quino
Muito se fala das falsas crenças que povoam nosso imaginário coletivo como, por exemplo, o “jeitinho brasileiro”, "políticos são todos iguais", "brasileiro é folgado", "o país só começa a funcionar depois do carnaval", "você sabe com quem está falando?", "odeio política" e outras tantas. Em geral, são repetidas sem o menor questionamento. Ora, é preciso refletir com base em dados reais e perguntar-se de onde surgiram tais crenças. Quem nos ensinou a cultivá-las, qual a verdade real, quem ou o que está por trás disso? O mesmo vale para notícias repetidas ad nauseam.  Aliás, hoje há excesso de um lado e falta de outro - excesso de ganância, de individualismo, de mentiras, de desperdício e falta de limites no geral como se tudo fosse infinito, falta de questionamento, de solidariedade, de compaixão e de clareza. 

Agora, não bastasse declararem precocemente o fim de uma pandemia que não acabou, a quantidade de notícias desalentadoras é tão grande (agressões, atitudes racistas e preconceituosas, violência urbana, truculência contra menores e contra populações mais pobres, destruição do meio ambiente, descaso, enchentes, fome, desmandos, mentiras deslavadas, politicagem, guerras) que minha vontade é descer desse trem maluco que é o mundo que, hoje, parece completamente fora do eixo.

Adolfo Perez Esquivel. Divulgação
Aliás, é o título do artigo Pare o mundo que eu quero descer, de abril 2022, do escritor, arquiteto e professor argentino Adolfo Pérez Esquivel (1931), prêmio Nobel  da Paz (1980), e referência na luta em prol da justiça, da paz e dos direitos humanos. No artigo, o autor questiona a guerra como opção para solucionar qualquer conflito, em especial o atual entre Rússia e Ucrânia. Diz que guerras nunca são a saída, pede diálogo, questiona os dois lados, líderes, organizações mundiais e conclama todos...

... os grupos sociais e intelectuais para repensarem, valorizarem a importância do diálogo, da paz e agirem nessa direção; 

... os líderes religiosos e suas congregações para se reunirem e orarem  pedindo aos governantes mundiais o fim da(s) guerra(s);   

... as sociedades, em geral, para rechaçarem não só a violência, mas também as mentiras difundidas que querem impor um pensamento único;

... as universidades, escolas, associações e entidades científicas e intelectuais para hastearem a bandeira branca junto à de seus respectivos países;  

... os movimentos estudantis, sociais, operários e sindicais a se mobilizarem pelo fim da guerra, pela paz e pela justiça;

... os cidadãos do mundo para se manifestarem, de fato, pela paz com panelaços e instrumentos musicais.

Chico Xavier. Divulgação.

Esquivel termina dizendo “Que o impossível é possível" e pede para que "não deixemos que a vida e a esperança nos sejam roubadas”.  Humildemente, eu me junto a ele e concluo dizendo que não cedo à vontade de descer do mundo, sacudo o desânimo, respiro fundo e continuo fazendo a minha parte, lembrando-me do grande Chico Xavier (1910–2002) quando dizia que, às vezes, ficava triste, sim, quando alguém o ofendia, mas que ficaria muito mais triste se fosse ele o ofensor.  

Referências

https://www.viomundo.com.br/politica/adolfo-perez-esquivel-parem-o-mundo-eu-quero-descer.html

https://serpaj.org.ar/adolfo-perez-esquivel/

https://correio.news/especial/as-licoes-de-chico-xavier

12 comentários:

  1. Respostas
    1. Pois é, mas mais que esperança é preciso ação, consciência e empatia, sentir a dor do próximo!

      Excluir
  2. Que possamos mudar a nós mesmos para que o mundo possa ser transformado! A inércia é morte.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Perfeito! Inércia, comodismo, alienação, ignorância... tudo isso é morte...

      Excluir
  3. Não vamos descer, mas lutar por melhores condutores e por mais fraternidade por todos nós.

    ResponderExcluir
  4. Nao podemos cair na resignação narrada por Gorki onde a população não se assustava mais com nada. Aterrorizante!

    ResponderExcluir
  5. Querida Anita, lindo texto, com referências importantes e uma mensagem final que me tocou no coração. Bjs e obrigada

    ResponderExcluir
  6. Muito bom texto! Vivemos uma indignação que assusta,mas devemos mudar a nós mesmos primeiro pra que possamos ter um mundo mais fraterno,amoroso e decente.
    O que Chico falou é verdadeiro!

    ResponderExcluir
  7. Anita, Raul Seixas já pedia para descer daquele mundo em que ele vivia! Imagina se fosse hoje!!!!! No entanto, felizmente, somos persistentes e continuamos aqui. Ótimo o seu texto para reflexão!!!!

    ResponderExcluir
  8. A situação é triste mesmo mas não podemos desistir de querer realizar nesse planeta e nesse plano a vida plena, com fraternidade, liberdade e igualdade como um dia sonharam os franceses.
    Carlos SA

    ResponderExcluir
  9. Olhe que lindo, isso de se preferir ofendido, do que ser o ofensor. Sim, essa "satisfação" só vilipendia o agressor.
    As "crenças limitadoras"... esse estrago diário, repetido sem sentido. Gostaria que muitas pessoas parassem um pouco e procurassem no dicionário o significado de "política". Só isso. Não é inerente a corrupção.
    E também concordo que deve ter um jeito, sim, de preservar a paz. Guerra só serve para piorar tudo. Grande Abraço, Anita!

    ResponderExcluir
  10. Parabéns Anita vc se faz com que a gente reflita

    ResponderExcluir