quinta-feira, 16 de junho de 2022

Ecos Imateriais | A convivência ética

Do grego ethiké e do lat. Ethica, segundo o dicionário Caldas Aulete, o termo ética (s.f.) tem duas acepções: 1. Parte da filosofia que trata das questões e dos preceitos que se relacionam aos valores morais e à conduta humana e 2. Conjunto de princípios, normas e regras que devem ser seguidos para que se estabeleça um comportamento moral exemplar. Conforme a segunda, a ética é construída e é muito mais que teoria, é um tema absolutamente prático, que molda nosso comportamento. Aliás, sempre vi a ação ética como uma função matemática diretamente proporcional à nossa continuidade como humanidade. O estudo, o pensamento, a aplicação e a vivência da ética sempre foi urgente e, hoje, constitui um dos maiores desafios do nosso tempo.

O livro de Luiz Carlos Lisboa (A arte de desaprender) já diz tudo. Hoje desaprender não é apenas necessário, é imprescindível para nos livrarmos de hábitos detestáveis enraizados no nosso imaginário sempre para burlar as regras:  subornar, corromper, dar “gorjeta” ou um jeitinho para conseguir algo; usar o famoso “você sabe com quem está falando?”; “dar carteirada”; sonegar, não dar (e não exigir) nota fiscal; comprar produtos pirateados, contrabandeados ou “muito baratos”(mágica não existe); fugir da realidade alegando que “isso não é comigo, está do outro lado do mundo” (Oi???). E por aí vai...

Ora, o que está lá (do outro lado do mundo) me atinge, sim, já que faço parte da humanidade. Ecoando John Donne, poeta inglês do século XVII: “A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. Desde o início, portanto, essas narrativas são falsas, porque foram/são criadas por interesses escusos, individualistas, para obter algum tipo de vantagem, impor a vontade de um grupo e deixar claro que quem usa esses artifícios toscos está “acima” dos meros mortais.

É inaceitável e nojento explorar momentos de fragilidade dos outros, priorizar interesses pessoais em detrimento do coletivo e insistir em preconceitos e rótulos vistos como normais, mas que semeiam desigualdade, segregação e violência. É preciso desaprender o que herdamos de forma torta, para reaprender a conviver, a agir em prol do bem comum (de todos), a desenvolver o cuidado (por si próprio, pelo outro, pela nossa morada, pela cidade, pelo meio ambiente, pelo planeta) e pensar num futuro melhor para todos, como nação e como humanidade. É o que a pragmática filosofia Ubuntu nos ensina, porque a vida é via de mão dupla.

Em outras palavras, ética vai sendo elaborada aos poucos e, com nossas escolhas, vamos semeando as ações corretas, cultivando cidadania e assumindo os próprios erros; estacionando com bom senso (porque as vagas não foram feitas só para mim); não consumindo drogas, não comprando produtos pirateados ou no mercado negro (porque dinheiro ilegal alimenta o tráfico de drogas, o crime organizado e a indústria da violência); respeitando o meio ambiente, não desmatando e não jogando lixo na rua (porque o lixo volta); cuidando da cidade; e, enfim, percebendo que somos todos interdependentes. Ética é fazer a sua parte, com cuidado e zelo, e tratar os outros como você gostaria de ser tratado!  

Referências

https://anitadimarco.blogspot.com/2018/10/ecos-imateriais-ubuntu.html

10 comentários:

  1. Ficamos refens qd o medico diz q dá recibo de consulta só de for valor maior

    ResponderExcluir
  2. Perfeito Anita, mais um artigo que me faz refletir e pensar na importância de cada um fazer a sua parte. Temos que consertar esse mundo e fazer despertar no outro a dúvida necessária para se repensar, procuro praticar isso na docência.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você não assinou, mas imagino quem seja, e a docência é um privilégio e uma responsabilidade do tamanho do mundo...... Vida longa aos professores conscientes de todo o mundo! Obrigada pelo comentário!

      Excluir
  3. Anita, é uma pena que ética e moral estejam tão relegados a um último plano. Isto deprime muito a nossa existência. Quem sabe um dia a gente, como civilização, consiga recuperar isto!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não temos mais tempo. É preciso agir já, hoje, ou voltaremos à barbárie! Consciência e empatia são a chave. Obrigada por comentar e da próxima deixe seu nome no corpo da mensagem....

      Excluir
  4. Ética é essencial para a humanidade como dissestes. Transformar com compaixão, empatia e discernimento afim de avançarmos conscientes a cada dia. Muito obrigada!

    ResponderExcluir
  5. Ótimo Anitinha! No momento o que nos parecer que a ética,a moral estão um pouco perdidas.Precisamos mostrar e agir com consciência e logo pra sacudir o homem é mostrar que só assim somos uma humanidade sólida.

    ResponderExcluir
  6. A frase "sempre vi a ação ética como uma função matemática diretamente proporcional à nossa continuidade como humanidade" é nada menos que genialidade. E você ainda encadeia com a ideia de "desaprender". Não é de hoje que isso é necessário...
    Li duas vezes, quando vi o "estacionar". Em São Paulo, nosso endereço é na R. Padre Carvalho, desde 1999. Pergunte se podemos entrar na nossa garagem. O nível é quase de banditismo. Porque nós e nossos vizinhos da nossa rua e as paralelas, estamos sofrendo muito nervosismo e revolta. Não podemos entrar, nem sair da garagem. Revolta. Indignação. Falta de esperança.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, querida! É inacreditável e muito triste.. Sinto que cada dia mais eu me decepciono com o andar das coisas, mas não podemos desistir, você, eu, quem tem a função de ensinar, desistir, jamais! Grande abraço.....

      Excluir